Apontamentos Etnográficos
Sobre os Povos de Angola
Carlos Duarte
Lobito/Angola 1972 – Porto Velho RO/Brasil 1992
Ao meu pai.
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Apontamento etno-sociológico.
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Mapa provável do povoamento do Continente Africano entre o III e o VIII
milênios.
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Mapa dos Grupos Étnicos de Angola.
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Mapa da divisão Etno-Linguística dos povos de Angola.
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Agrupamentos Étnicos em Angola.
Apontamento Etno-Sociológico
Para o etnógrafo, o Continente
Africano é o verdadeiro paraíso de
pesquisa e estudo; lá se encontram todos os estágios da civilização humana,
desde o Período Paleolítico até ao Contemporâneo.
Não é possível formar uma idéia
político-social e econômica de um povo, sem que desse povo de tenha uma idéia
global acerca da sua personalidade “comportamento coletivo, consuetudinário”. Para dar essa
idéia global acerca da “personalidade” dos povos de Angola, torna-se necessário
que primeiro se faça uma breve nota explicativa do aparecimento, formação e
sub-divisão desses povos.
As linhas étnicas em Angola têm
três linhas distintas:
Em primeiro lugar vamos considerar
os Bosquímanos ou Mukuankalas – Hotentotes, que dominaram a metade Sul da
África até cerca de cinco mil anos atrás.
Supõem alguns Antropólogos que
estes indivíduos de características completamente distintas de todos os outros
seres humanos, descendem de remota família caucasiana.
Há cerca de cinco mil anos atrás,
dá-se a invasão dos Bantus – plural de N’tu, que quer dizer “Ser Hmano” – povos
vindos das margens do Mar Vermelho em busca de melhores terras e pastagens –
com os movimentos glaciares entre o III e o VIII milênios começou a formar-se o
Deserto do Norte de África – e que, em maior número e com armamento mais
sofisticado, foram chacinando e escorraçando o restante da etnia anteriormente
dominante, para as regiões Desérticas do
Sul do Continente.
A terceira Etnia, que não vamos
considerar, são os brancos, descendentes dos Europeus que colonizaram o País e
que desembarcaram pela primeira vez na foz do Rio Zaire, no século XV.
A primeira etnia considerada, a
dos Bosquímanos – termo que deriva de Bush Man – limitou-se às regiões desérticas, e mantiveram
inalterados os seus costumes, ou até regrediram, face às dificuldades e da
aridez da região que ocupam.
Limitam-se à “caça e colheita”,
isto é, caçam e colhem frutos, verduras, raízes e tubérculos de crescimento
espontâneo para alimentação; nada cultivam e mantêm hábitos nômades.
A segunda linha étnica, os
Bantus, novos senhores das planícies e florestas, sub-dividiram-se e ocuparam
regiões de características diferentes, de caça, de pastagens, de agricultura,
de pesca, mais ou menos ricas, o que determinou tornarem-se mais ou menos
combativos. Com o passar dos séculos adquiriram novos costumes de acordo com as
regiões ocupadas; a própria língua mãe sofreu alterações de região para região,
o que dá origem a novos povos, com novos costumes e características de vida
próprias, embora Bantus por raiz.
Nestes apontamentos destaco
assuntos que, pela pequena diferença de povo para povo, podem ser
generalizados; destaco alguns costumes de diferenças marcantes de povo para
povo, falo sobre os grandes potentados, algumas figuras de monarcas que se
evidenciaram, sobre alguns lugares históricos e sobre a tradição oral – lendas,
histórias, provérbios e adivinhas – através das quais os povos Africanos têm
perpetuado os seus conhecimentos e cultura.
Acho importante esclarecer que
falo de costumes puros, tão independentes da cultura ocidental levada pelos
colonizadores, quanto possível, e que ainda hoje se encontram pelo país.
Costumes de uma lógica, civismo e
riqueza cultural muitas vezes superiores aos ocidentais.
Generalizando aspectos de muitos
pontos em comum, e destacando assuntos de diferenças significativas, entendi
que reduziria a monotonia da leitura, evitando repetir hábitos comuns que,
apesar dos séculos decorridos, ainda se conservam.
Em momento nenhum foram usados os
procedimentos sistemáticos de comparação, e ou metodologia científica, que
estabelecem tipologias e confrontos de característica por característica das
diversas tribos; não pretendi fazer um trabalho de caráter acadêmico, antes um
livro de leitura escorreita que sem
ser cansativo possa esclarecer pontos de
uma cultura ainda praticamente
desconhecida e exótica, quando não,
considerada incultura.
Existem atualmente cerca de cinco
mil Mukuankalas/Bosquímanos e perto de nove milhões de Bantus em Angola.
Quanto à falta de conhecimento da
cultura – costumes, civilização, princípios éticos e filosóficos – dos povos
Africanos, foi a causadora de abismos de incompreenção entre colonizados e
colonizadores.
Na África colonial, era costume
as classes mais privilegiadas – de esmagadora maioria branca – terem diversos
empregados domésticos, por vezes trazidos diretamente dos kimbos – aldeias
nativas – do mato para a cidade, onde, por força das circunstâncias se viam na
necessidade de aprender serviços e a conviver com realidades que culturalmente
nada lhes diziam.
Volta e meia, um desses serviçais
“Had Oc”, encontrando pela casa um objeto não usado por ninguém, mas do qual
ele necessitasse, pegava-o.
A acusação de roubo, causava a
mais autêntica admiração e negativa:
-
Não roubei não, peguei porque ninguém estava
precisando!
Outro costume dos aborígines
Africanos em geral, e ainda hoje muito encontrado em Angola, independentemente
de origem étnica, e mesmo entre camadas com forte influência da cultura
ocidental, e que tem sido constante alvo de críticas e desdém, é a seqüência
dos elementos de uma família quando caminhando. O homem vai na frente, não
carregando qualquer tipo de peso; mais atrás uma dezena de metros, vai a mulher
carregando todo o peso – kinda com mantimentos e panos, filho de colo, o que
for – também mais de uma dezena de metros atrás da mulher, vai a prole de
filhos.
Assim caminham quer em pequenas
ou longas jornadas, e mantendo constante diálogo.
Atitude inconcebível para a
cultura ocidental, impregnada de conceitos cavalheirescos não adaptados à
realidade da vida africana.
Organização de marcha coerente,
se nos lembrarmos que, desde tempos imemoriais, caminhando por terras que a
qualquer momento poderiam reservar como surpresa o aparecimento de um predador,
o homem, chefe e defensor do clã familiar, não podia levar qualquer peso que
por ventura viesse a estorvar-lhe os
movimentos de defesa. A mulher, um pouco mais atrás, tinha condições de fugir
em caso de perigo real; os filhos, bem mais atrás, só por grande fatalidade não
conseguiriam livrar-se do perigo pela fuga.
A conversa constante, e às vezes
incoerente ou despropositada durante a caminhada? Era, ou melhor, é, o jeito de
manter contato sem tirar os olhos do caminho; vamos e venhamos, sem torcicolos.
Rejeito veementemente os
conceitos arbitrários de progresso, bem como teorias evolucionistas segundo as
quais a cultura ocidental é invariavelmente colocada no topo da escala de
civilização.
As culturas devem ser estudadas
pelo seu valor inerente, pois todas elas têm uma lógica, e só parecem exóticas
a quem não procura entender o sentido e a coerência das suas normas e costumes.
Também está longe da minha
pretensão, dar um formato acadêmico a este apanhado de apontamentos. Não é essa
a intenção. A intenção é esclarecer,
mostrar o sentido e o grau de civismo de culturas tão pouco compreendidas apesar de já estarmos
no XXIº século da nossa era.
Assim, escrevendo sobre costumes
de povos que tanto influenciaram a formação da minha cultura, pois fui um
observador participante, tenho como esperança contribuir um pouquinho para a
compreensão, tolerância e respeito, entre povos de culturas diferentes.
Mapa 1 (Continente Africano)
Delineamento provável do povoamento do Continente
Africano entre o III e o VIII milênios.
-----------à Itinerário dos povos
pastores
::::::::::::::::
Deserto
-------------
Floresta Tropical (Rain Forest)
Mapa 2 (Angola)
Grupos étnicos em Angola
1-
Zombo 2 –
Congo 3 – Dembo 4 – Lunda
5 – Tchokwé 6 – M’Bângala
7
– N’Dongo 8 – Songo 9 – Luena
10 – Luchase 11 – M’Bunda 12 – M’Bunda
13 – Mukuankala ou Bosquímanos,
Hotentote 14 – M’Bwela 15 – Kwaniama
16 – Wale 17 – Kwamatuí 18 – Tchimba 19 – Ovimbundo 20 – Ovimbumdo
21 – Nyaneka 22 – Gingas ou Jagas 23 – Mayombes (pigmeus)
Mapa 3 (Angola)
Divisão Etno-Linguística dos povos de Angola
A – Raiz Bantu B – De Raiz não Bantu
1 – Kikongo
10 – Hotentotes – Mukuankalas
2 – Kimbundo
11 – Mupa, Kuenes, Kedes
3 – Lunda Tchokwé
10 – Hotentotes, Koisan
4 – Umbundo
11 – Wátuas, Kwepes, Kuissis
5 – Ganguela 12
- Kurokas
6 – Nhaneca Humbe
7 – Ambó
8 - Herero
9 - Xindonga
Localização Geográfica de Angola
Angola localiza-se no lado
Ocidental do Continente Africano, abaixo do equador, tem uma área de um milhão
duzentos e quarenta e seis mil e seiscentos quilômetros quadrados, e tem como
fronteiras:
Norte - República do Zaire
Este -
Zaire e Zâmbia
Sul -
Namíbia
Oeste - Oceano Atlântico
O enclave de Cabinda, que faz
parte do território Angolano, é limitado a:
Oeste – Oceano Atlântico
Norte – República Popular do
Congo
Este -
República Popular do Congo
Sul -
Zaire
População : Cerca de Onze Milhões
de habitantes
Religião : A grande maioria pratica o animismo
tradicional. Uma minoria é católica.
Agrupamentos étnicos em Angola
A) De raiz Bantu
1 – Grupo Kikongo: Vili, Yombe, Kakongo, Oyo,
Moxikongo, Sosso, Congo, Zombo, Yaka, Sucu, Pombo, Guenze, Paca, Code, Moxico.
2 – Grupo Kimbundo:Ambundo, Luanda, Hungo,
Luango, N’Temo, Puna, Dembo, Jinga, Bondo, Bângala, Holo, Kari, Xinge, Minungo,
Songo, Bambeiro, Kissama, Libôlo, Kibala, Haco, Sende.
3 – Grupo Lunda-Tchokwé:Tchokwé, Lunda,
Lunda-Lua-Xinde, N’Dembo, Mataba, Kalongo, May.
4 – Grupo Umbundo: Bieno, Bailundo, Sele,
Sumbe, M’Buy, Kissange, Lumbo, Dombe, Hamma, Ganda, Huambo, Sambo, Kakonda,
Xikuma, Mulondo.
5 - Grupo
Ganguela: Luimbe, Luena, Luwale, Luchase, Bundo, Ganguela, Ambwela,
Ambwela-Mabumba, Engongeiro, N’Golieno, M’Bande, Kangala, Yahuma, Luio, Neoia,
Kamaxi, N’Dungo, N”Mengo, N’Memba, Aviko, Muxitos, Luy.
6 – Grupo Nhaneka-Humbe: M’Vila, Gambo,
Humbe, Donguena, Hinga, Kuânkwa, Handa-Mupa, Handa-Kioungo, Vahono,
Kilengue-Musso, Mukubal.
7 – Grupo Ambó: Kwanyama, Kwamatuy,
Ualekafima, Kuangar, Mayaka, Dombondola.
8 – Gruou Herero: Dimba, Ximba, Xavíkua,
Kuanyoka, Kuwale, Kuendelengo.
9 – Grupo Xindonga: Kussu.
B) Não Bantus, de Raiz
Hotentote
2 – Kedes, Mupas, Kunenes.
3 –
Wátuas, Kwepes, Kuissis.
4 –
Kurokas.
Generalidades sobre a sexualidade dos povos de Angola
A Sexualidade é um componente de primordial
importância no dia a dia dos diversos
povos africanos. O erotismo, essa
força primária e fundamental, está expressa em todos os costumes e
manifestações artísticas dos povos desse Continente; nos rituais de fertilidade
humana, de animais e da terra – nas crenças religiosas e feiticistas, na
pintura e estatuária, na sensualidade da dança e da música.
Os ritos sexuais, remontando à pré-história e
comprovados em pinturas rupestres que
sobreviveram até aos nossos tempos, mostram a importância que o erotismo
vem tendo na particular visão dos povos de cultura negra.
Com o advento da colonização do Continente Africano,
a força política que a igreja e o clero tiveram nos povos
colonizadores, passou a haver uma repressão normal que impedia que se
concebesse para o sexo, uma limitação que não fosse estritamente genital, e
dentro dos limites do matrimônio; qualquer outra manifestação erótica
constituía contravenção teológica e religiosa.
Apesar da influência das culturas ocidentais dos
colonizadores, os valores eróticos sobreviveram entre os povos Africanos, tanto
no âmbito biológico quanto no espiritual e artístico.
Em prol da fertilidade se fazem verdadeiros rituais
eróticos, como por exemplo entre os Ganguelas, a “Kauena” – dança do fogo.
Desde as mais remotas civilizações, a libido vem
sendo representada pelo fogo, pela chama; o sensualismo, pelo calor. Nos mais
diversos graus da evolução das
civilizações se encontram rituais alusivos ao ato sexual, em que a presença do
fogo é fundamental; aquece e excita!
A Kauena dos Ganguelas acontece em determinadas
épocas do ano, por indicação e escolha dos feiticeiros – a quem os espíritos
determinam ser a época da fertilidade – em noites de Lua Nova.
Num dos extremos do terreiro reúnem-se os homens
todos, em volta dos tocadores de N’Goma
– espécie de tambor –cujo ressoar vai aumentando de intensidade até se tornar
ensurdecedor; por essa altura aparecem do outro lado do terreiro chamas em
movimento, numa coreografia fantástica, espalhando milhares de fagulhas, sob
cuja iluminação tênue, aparecem os velhos da tribo, sentados ao redor da
clareira, e que apenas se movimentam para passar ou receber a Mutopa –
cachimbo de água, feito de uma cabaça, em que é fumada uma mistura de tabaco e cânhamo -- no seu movimento contínuo.
A coreografia das chamas é executada por mulheres
completamente nuas que, simultaneamente vão imprimindo aos quadris um movimento
circular, lento e cadenciado, com meneios lúbricos e provocantes, que vão
acendendo nos olhares masculinos uma chama inquieta de desejo, que vai
aumentando até ao paroxismo.
Os tocadores são substituídos à medida que caem
exaustos, o reboar é sempre crescente, os homens abandonam a atitude inerte de
meros assistentes e integram-se ao ritmo, num ondear de corpos coleante; as
cordas e archotes em chamas são abandonadas no chão, o som dos N’gomas vai
então diminuindo, a modesta iluminação das chamas vai desaparecendo, até
impor-se o breu
da noite e os sons dos pares em acasalamento.
O erotismo e a sensualidade são como já foi
mencionado, de importância primordial; para melhor se falar dessa importância,
vou dividir os aspectos abrangentes da sexualidade dos povos de Angola, por
tela:
I – CARACTERÍSTICAS E MODIFICAÇÕES ANATÔMICAS, VESTUÁRIO E ADORNOS.
1) Características anatômicas: Entre os povos
africanos em geral, desde que pouco ou nada influenciados pela cultura
ocidental, é freqüente a manipulação para modificar diversas partes do corpo,
especialmente, dos órgãos genitais.
Segundo Antropólogos diversos – apesar da
disparidade de opiniões – a característica mais marcante entre os homens de
diversas origens tribais, se encontra nos Mukuankalas que, em vez do “Pênis
Pêndulos” normal entre todos os outros
homens de todas as raças do mundo, apresentam o “Pênis Rictus”, curto e
pequeno em termos de comparação
universal, mas que mesmo em estado de repouso mantém a posição horizontal de
semi-ereção; mesmo desempenhando atividades desprovidas de qualquer estímulo
sexual, como a caça, por exemplo.
A vagina das mulheres negras de origem Bantu é em
geral mais estreita e mais profunda do
que as das européias – até dezesseis centímetros, em vez de dez – e do tipo
proeminente, em que a maior amplitude longitudinal do períneo, bem como o
orifício vaginal mais elevado, permite que a função biológica de urinar possa
ser levada a efeito em pé. É freqüente as mulheres africanas urinarem de pé.
Como conseqüência de variadas manipulações, a vagina
das mulheres africanas apresenta outras sensíveis diferenças, em relação às
outras raças.
Basicamente dois tipos característicos são mais
comuns: a “anclitonídea”, em que o clitóris é eliminado por amputação ou
cauterização, e a “hipertética”, com os lábios vaginais alongados por massagens
e estiramento.
A alteração mais marcante está, no entanto uma vez
mais entre os Mukunkalas, as mulheres mukuankalas, que por meios artificiais
conseguem o alongamento tanto dos lábios vaginais, quanto do clitóris, que
chega a ter de dez a quinze centímetros de comprimento, adaptando assim o
aparelho genital feminino, ao “Pênis Rictus”, -- curto e pequeno – dos homens
deste grupo.
2) Tatuagens e cortes: Tatuagens por corte na carne
são alguns dos métodos de embelezamento artificial; porém, a finalidade dessas
marcas não é somente a modificação plástica e estética, mas representam também
marcas tribais, sinais que distinguem indivíduos de diversas tribos.
As cicatrizes em relevo têm também um papel erótico,
pois aumentam a sensibilidade dos terminais nervosos.
3) Embelezamento: Os adornos e embelezamento em
geral, têm também uma finalidade prática, que é a de distinguir faixas etárias
– infância, puberdade, e idade adulta,
em ambos os sexos -- bem como castas e
atividades, e até condição econômica.
Entre as mulheres M’uílas, Mukubais e Kwaniamas,
aros metálicos no pescoço, tornozelos e pulsos, indicam número de cabeças de
gado do clã.
4) Vestuário: Nas regiões de clima mais quente, e
apesar as influência contrária das religiões importadas e dos costumes dos
colonizadores, predomina a quase total nudez.
Para a confecção de roupas, são usadas as peles de
animais, tecidos de algodão e outras fibras vegetais, como do coqueiro, e do
sisal. As estamparias apresentam motivos étnicos e tribais.
5) Adornos: Os adornos têm várias finalidades bem
definidas; uma é atrair a atenção do sexo oposto, outra é a proteção do corpo e
do espírito, no caso de amuletos feiticistas que protegem de males diversos.
Unhas e dentes de animais, são usados como troféu, ostentando a coragem e destreza que foram necessárias para abater
o animal em questão e obter as peças. Anéis metálicos são usados como indicativo
de condição econômica; pinturas são específicas para guerra, caça e rituais
diversos – fertilidade, puberdade etc...—não existe o adorno como objeto de
vaidade pura e simples.
II – SEXUALIDADE INFANTIL, CIRCUNCISÃO E EXCISÃO
CLITORIANA E DE PEQUENOS LÁBIOS.
1) Infância e primeira adolescência: Na cultura africana a sexualidade não é um
tabu, nem tem nada de pecaminoso. Um casal que se disponha a manter relações
sexuais, procura um lugar recatado, não por entender que deve esconder-se para
praticar o ato, mas porque o ato em si
exige recato e concentração, difíceis de conseguir em lugares movimentados.
Se surpreendidos em tal atividade, continuam agindo
de forma natural, bem como age de forma natural a pessoa que eventualmente
surpreenda o casal em semelhante função.
As cubatas – casas – não têm portas, e os filhos
desde cedo se acostumam a presenciar a atividade sexual dos pais e dos
vizinhos. Assim, as manifestações sexuais da infância e primeira adolescência,
se dão de forma normal. Obedecendo ao instinto.
O exercío sexual entre os jovens é considerado como
parte fundamental do treinamento para a vida adulta, e assim, brincadeiras de
“marido e mulher” em que acontece o intercurso sexual, são freqüentes na juventude e até na infância.
A masturbação entre os rapazes tem também como
motivo a vontade de retrair a pele que cobre o prepúcio, de modo que os faça
parecer adultos circuncisos.
A virgindade feminina não é minimamente considerada,
já que a manipulação para alongamento dos lábios vaginais e do clitóris, e do
alargamento das paredes vaginais – em que são usados até chifres de animais –
tende a ser rompida bem cedo de forma acidental.
Outro motivo para a não repressão à sexualidade dos
jovens, é que os rapazes não circuncidados são considerados inférteis, e
inofensivos no que concerne à procriação. O mesmo em relação às moças
pré-púberes; e o conceito de pré-puberdade, tanto em rapazes como em moças, é
elástico, uma vez que os rituais se dão em épocas específicas, juntando na
altura os jovens que estão mais ou menos na idade considerada certa, e que pode
levar ao ritual de passagem da puberdade à vida adulta, tanto impúberes, como
púberes já com certo tempo.
A liberdade sexual é assim ampliada; anuladas
quaisquer restrições ao intercurso sexual, em qualquer idade.
2) Menstruação: A menstruação é
um marco fundamental na vida da mulher. Entre algumas tribos da linha Bantu,
ocorrendo a primeira menstruação, a moça é confinada junto com as outras na
mesma situação, onde é iniciada a escola preparatória para a vida adulta.
Nessa escola preparatória, de tempo de duração
variável, é ensinado às moças tudo o que é considerado importante, desde a
maneira de proceder em relação aos homens, ao que os maridos podem esperar
delas como esposas, e até métodos contraceptivos “coitus interruptus”,
abortivos de ervas etc...
O fluido menstrual é considerado impuro, e crêem
ate, que um homem que tenha relações com uma mulher nessas situação, corre o
risco de perder a virilidade.
Enquanto estiverem menstruadas, às mulheres é vetado
o convívio comunitário, cozinhar para os homens, e em algumas tribos existe até
uma cubata isolada, onde se reúnem as mulheres nesse período.
As mulheres só na
terceira idade, após a menopausa, deixam de ser consideradas perigosas e
passam então a ter direito a voto nos conselhos tribais.
3) Circuncisão: A circuncisão é
para a cultura africana, mais do que a mera intervenção cirúrgica em que é
amputada a pele que cobre o prepúcio do pênis. Representa a passagem da
adolescência para a idade adulta, e é, tal como na menstruação feminina,
acompanhada de um período de duração variável, em que são ministrados os
conhecimentos fundamentais ao homem, bem como treinamento no uso de armas para
a caça e guerra, luta corporal, etc...
Dadas as condições de sepcia em que a intervenção
cirúrgica é efetuada e o primitivismo dos métodos cicatrizantes, são freqüentes
os casos de infecção, com maior ou menor gravidade, em que não é incomum um rapaz vir a morrer, vítima de
septicemia.
A circuncisão – ritual – serva assim também de uma espécie
de método seletivo, em que sobrevivem os mais resistentes e fortes.
O circuncidador é sempre escolhido entre os mais
conceituados anciãos da tribo que, além da técnica operatória, tenha também
conhecimento sobre ervas e misturas – cinza e barro – cicatrizantes.
4) Excisão clitoriana: A
extirpação do clitóris tem origem indeterminada, e parece ter como objetivo
retirar parte do prazer e desejo sexuais à mulher, limitando-lhes assim a
atividade sexual à procriação.
O ritual tem lugar a cada dois ou três anos, depois
de se ter reunido o número suficiente de candidatas, sendo o sinal indicativo
da época própria, o aparecimento dos pelos pubianos, e sempre posterior à
primeira menstruação. Basicamente usam três tipos de intervenção:
-
Amputação total do clitóris.
-
Cauterização com um ferro em brasa
-
Corte do nervo clitoriano.
A operação é efetuada por uma velha da tribo, com
óbvios conhecimentos anatômicos sobre o assunto, ainda que empíricos.
5) Iniciação púbere feminina: A
iniciação púbere das moças é uma escola em que são transmitidos todos os
conhecimentos abrangendo os aspectos da vida adulta, e é apenas uma prévia da
escola da vida, na época da primeira menstruação.
São focados assuntos como postura e deveres
femininos no contexto tribal, sexo, métodos conceptivos e abortivos,
maternidade, lactação, cuidados com as crianças desde o nascimento, técnicas de
fiação de fibras, tecelagem, olaria, etc...
Os abortos, raros, dão-se unicamente por indicação
dos feiticeiros, quando por qualquer motivo se presuma que o feto em gestação
pode vir deformado ou com algum tipo de anomalia.
III – SEXUALIDADE DOS ADULTOS
1) Conceitos Gerais: Pelo
anteriormente descrito, ficou claro que rapazes e moças, nas diversas etapas da
vida, até serem adultos, têm todas as condições de satisfazerem os seus
impulsos sexuais, sem qualquer limitação.
Os estímulos sexuais vêm normalmente de forma
espontânea, ou através da expressão corporal na dança; nas culturas africanas
não se usa o beijo, e raramente o estímulo dos órgãos genitais do parceiro. A
posição de cópula mais usada é de lado.
2) Matrimônio: Entre as civilizações africanas não
ocidentalizadas, não se conhece casos de monogamia. O desequilíbrio quantitativo entre homens e mulheres é
solucionado pela poligamia ou pela poliandria – comum em Angola entre os
Luenas.
A poligamia responde melhor a determinadas facetas
éticas, de costumes, sociais e
econômicas.
Aos homens é vedado o intercurso sexual com
mulheres no período menstrual, durante a
gestação, e no período de resguardo pós-parto, que dura meses. Assim, a
poligamia atenua a contenção e abstinência sexual masculina, a que estes
princípios levariam num sistema monogâmico.
Do ponto de vista econômico, como tanto a
agricultura como o pastoreio são atividades eminentemente femininas, diversas
mulheres contribuem de maneira mais significativa para a consolidação do
patrimônio do clã.
No aspecto meramente social da comunidade, e como em
geral o número de mulheres é superior ao
de homens, a monogamia impediria muitas mulheres de ter uma casa, uma família,
um homem.
Entretanto são observadas regras básicas para evitar
conflitos nesse tipo de relacionamento.
O homem pode ter várias mulheres, mas nunca duas na
mesma casa; cada mulher tem a sua casa e a sua área de terra para cultivo, para
prover a própria subsistência e a dos filhos, muito embora as terras sejam
comunitárias; e o homem jamais deve mostrar favoritismos.
A escolha de uma esposa obedece também a critérios
completamente diferentes dos ocidentais; os predicados mais valorizados são a
capacidade reprodutora – fertilidade --
e a capacidade de trabalho da mulher. A beleza é um fator de completa
irrelevância.
Após a escolha, o pretendente revela à família da
escolhida as suas intenções.
Começa aí um ritual de valorização da mulher, que
dificilmente é compreendido por outros povos de outras culturas.
A família se mostra contrariada com a possibilidade
de perder a moça, e o pretendente faz então uma oferta de bens materiais –
gado, sal, milho, farinha, panos, etc.. – que não tem como objetivo atribuir um
preço à futura mulher, mas sim mostrar o quanto ele a quer; um querer forte o
suficiente para se sacrificar a ponto de se desfazer ou conseguir a relação de
ofertas. É o LEMBAMENTO.
Acertado o Lembamento, é marcado o casamento, e no
dia acordado, o noivo vai buscar a futura esposa que, numa pantomima e gestos
de recusa, deve mostrar-se contrariada pela mudança de situação, e abandono da
família.
Pede ajuda às pessoas da família – enquanto o homem
a puxa pelo braço – que se finge de surda, e rompe-se assim o elo familiar
anterior.
Nos casamentos da cultura africana, se desconhece
completamente o ciúme, como sentimento de posse.
Na hospitalidade intrínseca aos povos da linhagem
Bantu, freqüentemente é incluída a hospitalidade sexual, em que o visitante
pode ser convidado a pernoitar na casa de uma mulher casada – até pelo próprio
marido – desde que ela esteja de acordo.
Não existe, como já foi dito, o ciúme, e a relação
extra matrimonial pode, tal como a matrimonial, originar uma gravidez. O chefe
da família considera qualquer filho gerado por uma de suas mulheres, como seu.
Mas, para não quebrar a consangüinidade, a descendência é em linha uterina. O
descendente é o sobrinho filho da irmã. Ele e irmã vêm do mesmo útero, logo a consangüinidade do
sobrinho é inquestionável, enquanto o filho pode ou não ter o sangue dele.
Do mesmo jeito que a fertilidade é importante, a
esterilidade é execrada a ponto de poder originar a devolução da mulher à
família – cúmulo da degradação.
A mulher que depois de um determinado tempo não
engravida, está sujeita a que o marido a
devolva, pedindo de volta tudo o que haja oferecido no lembamento.
3) A prostituição: Com tantas
facilidades à satisfação dos impulsos sexuais, a prostituição segundo os
conceitos ocidentais, não existe. Mas existem as prostitutas rituais ou de
orientação sexual dos jovens, normalmente escolhidas entre as viúvas da tribo.
4) Doenças Venéreas: As doenças
venéreas são comuns, e tratadas pelos Kimbandas – curandeiros – como todas as
outras doenças, e quando recalcitrantes na regressão, o feiticeiro pode
atribuir a causa a conjunções espirituais.
O contato sexual com pessoas doentes é evitado na
medida do possível, conceito tão abrangente este de na medida do possível, que
em algumas tribos a transmissão e alastramento das doenças sexualmente
transmissíveis, chega a tornar-se uma verdadeira epidemia.
CIRCUNCISÃO ENTRE OS GANGUELAS
O ritual tem lugar numa clareira natural – Bamba –
usada para o mesmo fim por gerações. De um lado ficam as cubatas que vão servir
de moradia aos Kimbandas – o feiticeiro
chefe do ritual, o operador, o intérprete dos espíritos e os ajudantes. Depois
vêm diversos semi-cercados, sem qualquer espécie de proteção e que servirão de
habitação aos iniciados durante o tempo que durar o ritual e Escola da Vida –
Mukanda Kandongo.
Na véspera do dia marcado para a cerimônia,
realiza-se no Sobado um batuque de comemoração pelo início do ritual, em que os
rapazes que vão participar, mais do que ninguém, dançam até à exaustão.
O esgotamento físico por esta noite, junto com os
efeitos do Marufo – fermentado de seiva de palmeira – são os únicos anestésicos
para o dia posterior.
Quando rompe a madrugada, o Kimbanda chefe põe fim
ao batuque e declara aberta a Mukanda Kandongo.
Os jovens participantes são então pintados de branco,
perdem os nomes de criança e recebem todos eles o nome de Fungandas.
Os Fungandas dão a seguir entrada na clareira
sagrada, onde permanecem sentados, lado a lado, tendo cada um junto de si um
ajudante de Kimbanda.
O Kimbanda dirigente evoca então os espíritos
auxiliado pelo pelo rufar dos batuques, e após, o Kimbanda operador, munido de
todos os instrumentos e amuletos, dá início às operações de corte dos
prepúcios.
O ajudante segura fortemente o Funganda, enquanto
tenta incutir-lhe no espírito o orgulho de homem, para ajuda-lo a suportar as
dores.
Após o corte, o sangue é estancado e a ferida
envolvida por uma mistura de ervas e outras substâncias cicatrizantes, cinzas
inclusive, em algumas tribos é usado também o estrume vacum, e o pênis envolvido
por folhas que o isolem do contato com as pernas.
Terminada esta parte, o Kimbanda intérprete dos
espíritos declara o funganda operado “homem”, e deixa-o ir para a Mwela –
cercado – que lhe é destinada, onde se completará a cicatrização.
Na mwela sofrerá durante o período de cicatrização,
as intempéries, pois este sofrimento vai ajuda-lo a preparar-se para os maus
momentos da vida.
Durante o período de cicatrização, ficam
imobilizados em posição quase letárgica, e assim, são alimetados pelos
ajudantes do Kimbanda, que também os ajudam a satisfazer as suas necessidades
fisiológicas.
A segunda parte da Mukanda começa a partir da
completa cicatrização.
Os fungandas que resistirem a esta primeira fase – muitos morrem de septicemia –
podem então levantar-se, limpar as Mwelas e entram então já homens na fase de
aprendizado da vida.
Exercitam o corpo em provas de corrida, aprendem a
usar a lança e a zagaia, é-lhes ensinada a técnica da espera e avanço para o
bom êxito da caçada, a paciência para a pesca, e as tradições tribais, que
jamais devem ser menosprezadas.
Durante esta segunda fase, são freqüentemente postos
à prova, em situações em que tenham que demonstrar coragem e tenacidade, e têm
se subsistir por eles próprios, pela caça e pesca.
O sentimento que mais lhes é incutido, é o de
camaradagem pelos companheiros da mesma Mukanda; o ritual os irá irmanar pelo
resto da vida.
Chegados ao fim da segunda parte da Mukanda, os
Fungandas escolhem o nome de adultos, normalmente de um animal que tenham
abatido e que lhes tenha causado particular orgulho.
Começa aí a terceira fase.
Na terceira e última fase, têm especial destaque os
Kimbandas intervenientes dos espíritos,
pois estes são os verdadeiros mestres das coisas da vida. Cada Kimbanda
tem nessa terceira fase, um aspecto da vida a ensinar; desde o Kimbanda que
ensina os segredos e mistérios do amor, incluindo as artimanhas femininas, até
noções de justiça e vícios a evitar.
Com o fim dos ensinamentos, é chegado o fim do
ritual – que chega a durar meses -- e os
novos homens saem para o banho sagrado de purificação e preparam-se para os
rituais de despedida.
Na última noite são entoados cânticos alegres,
feitas juras de segredo pelo que ali aconteceu, e recebidos os últimos
conselhos para a vida.
No dia seguinte, logo ao raiar do sol, tem lugar a
cerimônia mais comovente de toda a Mukanda, que é o enterro dos Fungandas que
não resistiram às provas.
Os cadáveres são descidos dos ramos de árvores onde
hajam sido colocados, e desenrolados das folhagens que lhes serviam de
mortalha, para que os novos homens, antes de entrarem na vida, tomem mais uma
vez contato com a morte.
Em seguida são novamente amortalhados e, ao som de
um batuque fúnebre, enterrados perto das Mwelas que lhes pertenciam.
Quando esta cerimônia chega ao fim, já todas as
sanzalas – aldeias – receberam a notícia do fim da Mukanda. Vão então homens e
mulheres, em sinal de júbilo, esperar os ex-Fungandas.
À chegada à sanzala, segue-se um batuque de
comemoração; é uma noite alegre, onde só se vê tristeza, nas mães que perderam
os filhos durante o ritual.
OKU-HITA ESUKO DIMBA
-- PUBERDADE DAS MOÇAS DIMBA
As moças Dimba, normalmente são submetidas ao ritual
da puberdade, antes da puberdade fisiológica. Esta antecipação em relação às
outras tribos deve-se ao fato de que é
encarada com bastante contrariedade e até hostilidade, qualquer gravidez que se antecipe ao ritual.
A cerimônia é efetuada para cada garota em
particular, podendo a título excepcional, juntar-se duas primas ou duas irmãs.
As coisas acontecem então assim:
No dia em que se decide que a moça deve começar o
seu tempo de aprendizagem, deixam-na passear enfeitada e despreocupadamente,
como se ignorasse o que se irá passar.
De repente, uma das acompanhantes grita alertando-a
ao aparecimento de um grupo de rapazes que, saindo em sua perseguição a agarram
e levam para a Onganga – casa – do pai; deitam-na então no chão, e com a cara
virada para a terra.
Enquanto isso, ela, a mãe e as acompanhantes choram
em desespero, esfregando a testa da moça com carvão, como se se tratasse de uma
cerimônia fúnebre, de um óbito.
É nomeada então uma mulher, da linha uterina do pai,
para mestra de cerimônias – é ela que durante os dias que se seguem irá
ministrar todos os conhecimentos e ensinamentos úteis e importantes para a vida
da futura mulher.
Durante tosa a noite desse dia, as mulheres entoam
cânticos alusivos, e na manhã seguinte, a mãe ou a tia materna, a levam às
costas para a sombra de uma Mulemba – figueira de grande porte.
Aí são quebradas as pulseiras de madeira que lhe
ornam os braços e tornozelos, e que são indicativos de condição pré-púbere.
Homens e mulheres se entregam a esse número
divertido, enquanto ela, simulando contrariedade, se defende com uma chibata,
em violentas vergastadas. Por fim, vencida, oferece a última argola a uma dama de honra.
Depois disso, a primeira mulher do pai, pinta o
corpo da debutante, em riscas alternadas de cinza e carvão. Acabado este
enfeite simbólico, a moça dirige-se para casa, amparada a um cajado, e curvada,
como se lhe pesassem os anos de meninice; atrás dela seguem as acompanhantes,
com ditos espirituosos e de incentivo.
À porta do curral, encontram um grupo de rapazes
dispostos a lhes impedir a passagem; a moça bate então com o cajado no chão, e
se eles não se afastarem a este aviso, ela bate-lhes, e aos rapazes não é
permitido revidar.
No último dia, é morto por apnéia, para que possa
aproveitar-se o sangue, um boi de cor
preta, e que ela deve chorar, pois este animal é sacrificado em sua homenagem.
Faz-se então uma festa, em que ela come o fígado do
boi, e oferece pedaços da carne aos presentes.
No final da refeição, a debutante levanta-se e
diante de todos, pede autorização à mestra para dizer obscenidades; a
autorização é concedida, e ela diz e simula todo o tipo de obscenidades, pretendendo
com isso mostrar desinibição.
Nessa noite também, pede à mestra que exemplifique
todos os movimentos eróticos do ato sexual, ao que esta também acede.
De manhã, na companhia de amigas, vai ao rio
lavar-se das pinturas anteriormente feitas e recolhe-se logo à cubata.
No dia seguinte logo de manhã, senta-se na pele do
boi sacrificado em sua homenagem, aguardando a chegada da mestra para untar-lhe
o corpo com gordura e armar-lhe o penteado próprio desta fase da vida.
Depois disto, a mestra cinge-lhe os rins com fibras
vegetais, e pendura-lhe à cintura uma parte do couro do boi preto.
Aí tem início uma série de visitas a fazer a parentes e amigos, para que a moça se
apresente já na sua nova condição.
PUBERDADE M’UÍLA
As moças M’uílas usam até à época da festa da
puberdade, um penteado de tranças enfeitadas com contas coloridas e que lhes
chega quase aos ombros.
Quando aparecem os primeiros vestígios de
menstruação, a moça é afastada da aldeia e começam os preparativos para a
cerimônia.
No dia marcado é levada de volta pelos parentes à
sanzala, para que, na presença de todos, seja desmanchado o penteado de menina,
e armado o de moça disponível para o casamento.
A debutante finge surpresa a esta revelação, e
foge a refugiar-se no mato. Logo uma comitiva de rapazes sai em
perseguição dela, e trazem-na de volta, onde em frente à casa da mestra a
deitam no chão e cobrem com peles de antílopes.
A mestra explica-lhe então as mudanças que a sua
vida vai sofrer, pois a partir da cerimônia passará a ser considerada mulher.
É então levada ao rio para se lavar, e volta à
aldeia onde é desmanchado o penteado infantil e armado o da nova condição; em
crista, ao alto da cabeça, e sedimentado por uma mistura de gordura animal e
argila vermelha.
Começa depois disto a fase de aprendizado, após a
qual tem lugar uma festa e apresentação aos membros da tribo, na sua nova
condição. Está então preparada para o casamento.
PUBERDADE ENTRE OS CABINDAS
A puberdade entre as moças Cabindas, dá-se quando
pela primeira vez lhes aparece o fluxo menstrual, acontecimento para o qual já
estão completamente preparadas, em conversas de iniciação com as outras
mulheres, e por ensinamentos maternos.
Quando vem a primeira menstruação, a moça comunica o
fato aos pais que, em sinal de regozijo, penduram como uma bandeira o pano que
lhe cobria o sexo.
A família prepara então uma massa de Takula –
substância vermelha – com a qual a debutante é pintada.
Para esta parte da cerimônia é feita uma encenação,
em que a moça é mandada a uma sanzala vizinha, junto com uma amiga, enquanto no
seu próprio kimbo são feitos os preparativos da cerimônia.
Ao chegar, fingindo surpresa pelo que está
acontecendo, simula fugir, é perseguida, agarrada e então pintada.
Depois disso tem lugar uma festa que dura toda a
noite, e ao amanhecer ela é declarada apta a entrar na “Casa da Tinta”.
Nesta casa, escola da vida para as moças, ela
aprende tudo o que é importante para a vida adulta.
Quando saem desta casa, as moças estão prontas para
o casamento. Caso este não ocorra logo de imediato, as moças são declaradas
livres para ganharem a própria vida como melhor entenderem.
Obs – As mulheres Cabindas têm feições e tipo físico
muito bonito, e dessa conjunção de fatores, muito se aproveitaram tanto
colonizadores como povos de outras tribos, para as levarem à prostituição; o
que não é impeditivo a que venham a casar.
PUBERDADE DAS CHAVÍKUAS
Entre os Chavíkuas, a diferença mais marcante dos
rituais da puberdade, é o tempo, de quase total confinamento – em torno dos
seis meses -- a que as moças são
submetidas durante a fase de aprendizado.
Ficam reclusas durante esse tempo, numa cubata
afastada do kimbo, onde só recebem a visita das mestras e de moças que lhes
levam comida, e de onde só saem esporadicamente à noite, com a cabeça coberta,
para visitar a mãe.
Passado este período, a mestra principal
acompanha-as à sanzala, e dá, com cada uma das moças às costas, uma volta
completa ao Arimo –terreiro – anunciando mais uma moça pronta a casar.
Este passeio provoca o ajuntamento de rapazes, para
quem a moça canta e executa as danças aprendidas no período de reclusão.
A partir desta altura começam a aparecer os
pretendentes, e com todos eles a moça pode dormir, a título de experiência;
quando um deles realmente se distinguir dos demais, pelo valor da oferta à
família, o casamento é marcado.
O casamento é por sua vez, uma cerimônia bastante
simples; limitam-se os noivos a uma testemunha e a beber um fermentado de milho de uma mesma cabaça,
derramando em seguida o resto no chão. Seria mau presságio alguém mais beber da
mesma bebida.
PUBERDADE DE
RAPAZES CHIMBAS E KUVALES
Para os rapazes Chimbas e Kuvales – ambos sub-clãs
dos Chavíkuas – a puberdade não se limita à circuncisão.
Após o ritual da circuncisão eles continuam
ostentando a única trança que caracteriza a infância.
Esta trança só é desmanchada por uma das tias, junto
ao altar da família – Oku Luo – fazendo em seguida as duas tranças do penteado adulto.
Acabado o aranjo do penteado, o pai vem para junto
do filho, unta-lhe o cabelo com uma pasta de gordura animal, excrementos de
gado bovino e takula, pronunciando de forma articulada e distintamente uma
única frase:
-
Meu filho já é homem, já pode ter mulher!
Só a partir deste pequeno ritual familiar, é que o
rapaz passa a ser considerado homem.
O LEMBAMENTO ENTRE OS BANTUS
O Lembamento, ao contrário do que as pessoas de
cultura ocidental pensam, quando tomam conhecimento desse costume, não é uma
compra que o futuro genro faz ao sogro, mas sim uma oferta valiosa, como prova
da estima que o rapaz tem pela moça com quem pretende se casar.
Uns quatro séculos recuados no tempo encontra-se um
costume um pouco alterado; os Bantus, tinham então como costume, só casar uma
moça com um rapaz que tivesse uma irmã, para casar com o irmão da moça; este
costuma, aparentemente estranho, tinha como objetivo evitar que uma moça,
entrando numa nova família, fosse por ela maltratada ou menosprezada. Qualquer coisa como “não faça à
minha filha o que não gostaria que eu fizesse à sua”.
Diz a lenda que um grande Soba – chefe – não teve
filhas, e sim três filhos varões. Quando o mais velho dos três – M’Baxi N’Gonga
– chegou à idade de casar, não conseguiu arranjar noiva, pois todos os
possíveis sogros o recusavam alegando não ter ele uma irmã para dar em troca.
O rapaz, desgostoso, falou do problema ao pai e ao
conselho de secúlos – velhos -- que
reuniram para descobrir uma solução para tão complexo problema.
Ao fim de uma série de deliberações, decidiu-se pelo
fim desse costume, mas ficou decidido também que, qualquer indivíduo que
quisesse casar, teria que dar ao pai da
futura esposa uma prova concreta do quanto estimava a moça, e até que ponto
estava resolvido a sacrificar-se por ela.
Por isso, todos os rapazes passaram a oferecer aos
pais da pretendida algo do que melhor tivessem e estimassem; inclusive
trabalho.
Esta é a verdadeira razão do lembamento, não uma
simples permuta comercial.
O HUNDE ENTRE OS BANTU
Outro costume curioso entre os povos de origem
Bantu, é o Hunde; consiste em casar-se um indivíduo com a viúva do irmão, caso
não haja filhos dela do primeiro matrimônio
O primeiro filho deste segundo matrimônio recebe o
nome do tio que morreu, dando assim continuidade à existência.
OLUJI VÁTWA OU CERIMONIAL PRÉ-NUBENTE DE VIÚVOS
Ao contrário do que acontece entre muitas outras
tribos, entre os Vátwas, qualquer viúvo ou viúva pode voltar a contrair
matrimônio, desde que se submete ao ritual OLUJI.
Manda a etiqueta que os viúvos só demonstrem vontade
de voltar a casar, passado um período de luto protocolar.
Findo este prazo, os candidatos a nubentes vão
apresentar-se ao feiticeiro, revelando suas intenções. O feiticeiro acede então a fazer, mediante
pagamento, ao viúvo ou viúva, o Oluji, pois acreditam que a omissão deste
estranho ritual, tem como conseqüência nova viuvez em pouco tempo.
O ritual em si comporta duas partes distintas:
A primeira parte consiste numa lavagem que o
feiticeiro faz ao viúvo ou viúva. Esta lavagem, que é feita num ponto
específico do rio, tem como objetivo principal remover as cinzas de luto da
cabeça do conjugue sobrevivente, e no caso de ser uma mulher, modificar-lhe o
penteado, de acordo com a sua nova disponibilidade.
A segunda parte, ou o Oluji propriamente dito,
consiste na realização de um ato sexual, em que o sexo oposto é moldado em
argila.
Esta segunda parte tem lugar num canto escondido da
mata, e sob a orientação do feiticeiro que, mal termina o ato, molda com a
argila usada, uma bola, que vai enterrar num buraco por ele cavado, em lugar
que mais ninguém conheça.
Se por acidente algum estranho encontrar a bola de
argila, quebra todo o efeito do ritual, que terá que ser repetido.
Cumpridas estas formalidades, o matrimônio
processa-se como qualquer outro, dentro das normas estabelecidas.
GENERALIDADES SOBRE AS RELIGIÕES DOS POVOS DE ANGOLA
Podemos definir como religião as práticas de fé,
pelas quais o ser humano reconhece a existência de poderes extra terrenos, aos
quais está ligada a sua vida, o seu ser, tanto na vida terrena como para além
dela.
Os povos da linha étnica KöiSan, essencialmente
animistas, cultuam as forças da natureza e os elementos naturais como dádivas e
partes dos seres desencarnados. Na sua vida nômade não têm muitas condições
para construções de altares, ou escolha
especial de lugares para cultos religiosos.
São pragmáticos quanto às forças que cultuam; se o
tempo está bom e lhes torna a vida fácil, está tudo bem. Se tempestades ou
qualquer outra força da natureza lhes dificulta a vida, é porque as entidades
estão descontentes, e é hora de serem cultuadas, agradadas.
Temem as trovoadas, raios e ventos violentos que
causem tempestades de areia, que consideram como entidades repressoras.
Agradecem de forma mística à vida, aos animais e
plantas de que se alimentam, à chuva, aos cursos de rio, ao bom tempo e cultuam
constantemente o fogo.
Sentem-se irmanados com todos os seres vivos, e
respeitam a vida ao ponto de se
desculparem com os animais que matam para
alimentação.
Os povos de origem Bantu cultuam os espíritos, são
politeístas, animistas e feiticistas. Profundamente místicos e presos a temores
mais supersticiosos do que religiosos, acham que os espíritos têm intervenção
direta na vida dos homens, tanto para o bem quanto para o mal. A luta dos
espíritos é constante. A luta dos espíritos é constante, para qualquer das
fileiras, na tentativa de um resultado final favorável.
Povos de origem Nilótica que são, talvez haja ainda
um indelével resquício da influência Romana na região, e
sua mitologia, em que os deuses no
Olimpo manipulavam a vida dos homens de
acordo com as suas preferências e simpatias.
Os óbitos e
velórios são acompanhados de cantos e danças, que têm como finalidade deixar a
alma do defunto satisfeita, afastando dela a depressão pelo fato de ter
desencarnado, e com isso ter mais sossego para encontrar os novos caminhos que
vai ter que trilhar.
Acreditam que os espíritos, percebendo que as
pessoas estão tristes com pela sua partida, terão dificuldade de afastar-se da
vida material, ficando assim numa situação indefinida e neutra, vivendo ao
nível dos mortais, sendo espíritos, o que os tornará revoltados e os fará
interferir de forma negativa na vida das
pessoas; são os chamados Kazumbis.
A tristeza pela morte de alguém, no entanto existe,
e é visível nas lágrimas que escorrem pelos rostos em cantoria.
O canto tem também a finalidade de agradar os
espíritos em volta, para que se acalmem e afastem, sem levar mais ninguém.
Os óbitos festejados, sempre foram motivo de
incompreensão por parte dos colonizadores, raramente preocupados em entender a
razão do ritual.
KIMBUNDOS – RELIGIÃO
Os Kimbundos, politeístas como a maioria das tribos
africanas, têm duas entidades soberanas, várias entidades intermediárias ou
semideuses e algumas entidades ajudantes ou de terceira categoria.
I – ENTIDADES SOBERANAS:
I.1 – N’ZAMBI. É o criador, representa o bem, e não
interfere diretamente nos destinos dos humanos. Paira em todos os lugares e só
é evocado em última instância. Também é conhecido por Kalunga.
I.2 – KANLUNGANGOMBE. É o ente das profundezas, da
escuridão, que tira a vida, julga e pune os espíritos dos mortos.
II – ENTIDADES INTERMEDIÁRIAS:
II. 1 – MIONDONAS. São espíritos tutelares e nascem
com as pessoas, transmitidos por via paterna; é o equivalente aos anjos da
guarda da religião Cristã. Defendem as pessoas do mal, lutando até com outros
espíritos movidos pelo feitiço.
Quando a pessoa tem uma vontade irresistível de
comer alguma coisa, é o Miondona que está com vontade, por ter sido aliciado
por outros espíritos, com iguarias. Por isso, as vontades devem ser
satisfeitas, para que o Miondona não se distraia na sua missão de defesa da
pessoa.
II. 2 – KALUNDUS. São espíritos evoluídos, de alta
posição hierárquica> São espíritos de pessoas que já viveram, e têm por isso
uma mais lúcida compreensão dos problemas e carências terrenas. Podem ser
protetores, justiceiros ou curandeiros; são tolerantes, e também nascem com as
pessoas, por herança materna.
II. 3 – KAZUMBIS. São espíritos de pessoas de vida
terrena recente, mas não são evoluídos. São intolerantes, maus, vingativos e
interferem na vida das pessoas de forma negativa, para prejudicar.
II. 4 – MALUNGAS. São espíritos afáveis de origem
branca, tanto masculinos como femininos. Não se revelam facilmente, apenas
incorporam médiuns e somente em santuário – DILOMBE.
II. 5 – KITUTAS. São seres espirituais terrenos,
vivem nas matas, rios e rochas. São oriundos de
pessoas com anormalidades físicas. São maus, vingativos, e terríveis nas
suas maquinações para prejudicar. Carentes, exigem atenção e cultos constantes.
II. 6 – KIANDAS.
São os espíritos das águas, tanto do mar como dos rios, lagos ou
qualquer outro lugar onde haja um pouco de água. São de todas as raças e tanto
masculinos como femininos. Espíritos brincalhões aparecem às pessoas em forma
humana e sedutora. Levando avante suas brincadeira, muitas vezes acabam
prejudicando, mas essencialmente não têm esse intuito.
III – ENTIDADES DE TERCEIRA CATEGORIA:
III. 1 – ZUMBI ou N’DELE. Espíritos de pessoas
falecidas ainda há pouco tempo, e, portanto confusos na nova condição.
III. 2 – KILULO. São as almas penadas, que vagueiam
por muito tempo, para expiação das culpas terrenas.
III. 3 – MUCULO. Espíritos recém desencarnados, de
natureza brincalhona. Manifestam-se espontaneamente incorporando médiuns sem
serem convocados, e nas situações menos propícias, confundindo assim as
pessoas.
III.4
– XI-NI-MAYO. Assim
são designados de uma forma geral os
espíritos das profundezas. Para que determinados rituais possam surtir
efeito, deve-se derramar no chão pequenas quantidades de bebida, para lhes
agradar.
SACERDOTES
I)
KIMBANDA. Adivinho, curandeiro, é também o exorcista. Trata as doenças
diagnosticando-as por adivinhação, debela azares e maus fluidos, harmoniza ou
não casais, é conhecedor de ervas e misturas medicinais e poções amorosas, e
pode até matar, nas cerimônias que preside.
Tornam-se Kimbandas por inspiração dos espíritos
tutelares. Enquanto aprendizes são designados pelo nome KABANDA, e acompanham o
seu mestre em todos os seus passos, até que este os considere preparados.
A dedicação dos
Kimbandas ao sacerdócio é total, impedindo-os até de terem família, mas
não são obrigados à castidade. De uma
maneira geral, são venais e vingativos.
II)
KILAMBA. É o sacerdote que preside os ritos dos espíritos da água. Os
Kilambas já nasceram com o dom de se comunicar com esses espíritos.
Cuidam de casos como tempestades no mar,
acalmando-o, inundações, estiagens e pedindo chuva, quando necessário.
Dominam também alguns tipos de animais e pragas,
podendo afasta-los quando essa presença é prejudicial.
A predestinação dos Kilambas é caracterizada por
algum tipo de deficiência física. Nos rituais os Kilambas fazem oferendas de
comida e bebida às entidades, numa pedra, sobre um pano limpo, perto do local
onde a entidade a ser agradada vive.
III)
MULÔSI. É o sacerdote que só se dedica a praticar o mal; o feiticeiro,
o bruxo.
A sua prática se designa como UANGA. Adquire-se o
dom por espontânea vontade, e a iniciação dá-se por enfeitiçamento de um
parente íntimo – pai, mãe, irmão, irmã, filho ou filha.
Na fase de aprendizado têm o nome de MAKASSO. O
poder do mal do feiticeiro, reside no pensamento, na força mental dirigida para
o mal; ele permanece fechado na sua cubata, agitando uma vareta, ao som de cujo
zumbido vai desejando e evocando o mal. O mal vai com o vento, pelos ares, e
chama-se BUNGULAMENTO.
IV)
MÙKUA – BAMBA. Múkua – bamba é o homem do chicote, é o fiscal dos
feiticeiros, que os preside, fiscaliza e pune. ´logicamente mais poderoso que
os outros feiticeiros.
O poder lhes é conferido pelo Kimbanda, após lhe ter
sido revelado em sonho. Caça feiticeiros, usando um bastão na mão direita e
duas pedras esféricas, uma na mão direita e outra embaixo da língua.
Quando as vibrações das duas pedras lhe indicam
estar na presença de um feiticeiro – camuflado, não oficial – toca-o com o bastão,
imobilizando-o em pedra. Depois disso denuncia a pessoa à tribo.
São normalmente venais, podendo ser subornados com
bens materiais –gado—para não denunciarem uma determinada pessoa.
Na presença de qualquer catástrofe ou acontecimento
prejudicial para a tribo, de qualquer evento cuja culpa possa ser atribuída a
um feiticeiro não oficial, não se coíbe de ameaçar de denúncia os elementos de
maiores posses da tribo.
ELEMENTOS GERAIS RELATIVOS À RELIGIÃO
1) O ritual de evocação dos
espíritos chama-se DISSEKUELA.
2) O terreiro onde se efetuam
os rituais religiosos, chama-se
DIKANGA-dos-KALUNDUS.
3) O médium é chamado de
XINGUILADOR ou DUMBE.
4) A incorporação de um
espírito, é chamada de PELO.
5) O lugar onde os sacerdotes
se reúnem, é o DILOMBE.
6) Para que um rito decorra sem
perturbações sobrenaturais, inicia-se
com sinalizações no solo do lugar. São usadas para isso, quatro substâncias:
a) PEMBA. Calcário tipo Gesso
ou Caulim; atrai a graça dos espíritos. Com a PEMBA é traçada uma linha
vertical. A PEMBA é o purificador, e afasta os maus espíritos, soprando-se um
pouco para o ar, ou na direção de alguém.
b) UCUSSO. Ocre vermelho que
também atrai as boas graças dos espíritos, e com ele são traçadas linhas
horizontais.
c) UNDO. Ocre escuro,
também do agrado dos espíritos.
d) ULOMBO. É um pó preto, que
tem o mesmo efeito sobre os espíritos.
7) Para
a segurança dos rituais, usam-se dois símbolos místicos a que dão o nome
de XICOS. O primeiro à entrada do
terreiro, é feito com Pemba e Ucusso,
onde se derramam nove doses de Kioto ou Marufo – bebidas fermentadas, com
razoável graduação alcoólica –simultaneamente à evocação dos espíritos bons; o
segundo, de desenho igual, também com Pemba e Ucusso, é feito no centro do
terreiro e no meio dele, é quebrado um ovo.
ADIVINHAÇÃO
Existem inúmeros sistemas ou métodos usados para a
adivinhação, bem como inúmeros são os acessórios de que se valem os feiticeiros
no exercício da sua atividade.
Comumente, o
destino dos suspeitos de culpa de um
determinado acontecimento – que pode ser inclusive um fenômeno natural, como
falta de ou excesso de chuva – é selado de acordo com a atitude de determinados
objetos, perante certas circunstâncias; por exemplo, uma pena de ave à qual se
chegue uma chama, e que queima ou simplesmente retorce pelo calor. De acordo
com o que acontecer com a pena, é declarada a culpa ou inocência do acusado.
É aqui que entra a corrupção dos feiticeiros.
Primeiro, declarando culpado, um desafeto, por pura
vingança, ou um homem de vastos bens; segundo, regulando a aproximação da pena
à chama, de acordo com o que quer que a ela aconteça.
O acusado que tem bens, tão logo saiba da sua
condição de suspeito, começa a enviar pessoas da família e amigos, para falar
com o feiticeiro e entabular negociações.
Quando as oferendas atingem o valor esperado, é
marcada a prova da pena que irá dirimir qualquer dúvida.
O dado curioso é quando após a prova definitiva, o
resultado é contrário ao anteriormente combinado com o feiticeiro – e pelo qual
o feiticeiro haja recebido pagamento; é colocada uma ação no tribunal tribal, onde a história é contada em
todos os pormenores, indenizações são pedidas e as partes são ouvidas, mas,
seja qual for o resultado da contenda, o feiticeiro não perde credibilidade nem
prestígio, nem tem jamais os seus poderes contestados.
Quando o assunto é mais sério, e o ritual exige mais efeitos plásticos e
coreográficos, a adivinhação é feita
pelos objetos da CABAÇA.
Todos os feiticeiros e adivinhos têm uma Cabaça,
relativamente pequena, cheia de pequenos objetos: dentes de animais, pequenos
ossos, pedaços de madeira, pequenas esculturas em madeira também, pedras
coloridas, sementes e ervas, da qual se servem no trabalho de adivinhação.
O feiticeiro manda reunir o povo da sanzala, homens
de um lado de terreiro e mulheres e crianças do outro, e ao som dos N’gomas –
pequenos tamboretes –
Fazem a entrada espetacular após um tempo de espera
que aumente a apreensão de todos.
Ao tórrido sol africano, a imobilização e
desconforto acabam amolecendo os corpos, e conseqüentemente os espíritos.
Mas o feiticeiro entra de forma espetacular,
paramentado com todos os assustadores atavios
da sua indumentária, e faz calar o batuque.
No centro do terreiro, gesticula e executa uma dança
vibrante, estende a pele de um animal – geralmente antílope de pequeno porte –
e evoca os espíritos; em seguida sacode a cabaça, evoca mais uma vez a ajuda
espiritual e espalha os objetos na pele estendida.
Ajoelha-se então junto da pele, estuda e interpreta
a mensagem dos objetos, levanta-se, fita um a um os presentes de forma
alarmante, e, quando sente que a tenção
e o medo atingiram o ponto culminante, teatralmente aponta e declina o nome do
culpado.
Se a acusação não for aceite em primeira instância,
se contestada, marca-se então a prova do MUAJE, que irá em definitivo
corroborar ou não a acusação.
O MUAJE é uma prova em que o acusado ingere, na
presença de toda a tribo, um veneno preparado pelo feiticeiro. Dá-se de novo o
ciclo de negociações e subornos.
Se o acusado ao tomar o veneno morrer, fica claro
que a acusação procedia; se o organismo rejeitar o veneno pelo vômito, fica
evidenciada a inocência.
Feiticeiro,
hábil alquimista no preparo de poções e venenos, ministrará – consoante a sua
vontade e as oferendas recebidas no período que antecede a prova – o veneno em
quantidade suficiente para ser letal, ou em grande quantidade, de maneira a
haver rejeição orgânica, o acusado o vomite e sobreviva, provando a sua
inocência.
MANHINGA HAPI – SANGUE MAU
- BALUBA
Os Balubas usam muito as sangrias nos métodos de
cura. Para dores reumáticas, dores indefinidas, inchaços e cansaços em geral.
O ritual é efetuado por um Kimbanda que, após uma
infinidade de pequenas incisões no corpo do paciente, executa uma dança
evocando os espíritos, completando com isso o tratamento.
A explicação para esses males curados por sangrias é
a de que o paciente, inadvertidamente haja pisado um túmulo, cujo ocupante,
irritado pelo desrespeito, em vingança, envenene o sangue da pessoa.
Os cortes permitirão a saída do sangue, e a evocação
dos espíritos pela dança, fará com que só saia o sangue envenenado.
UANGA –
FEITIÇO -- TCHOKWÉ
A TRIBO Tchokwé ou Kiôko é das que mais se utiliza
de ícones nas suas superstições
religiosas. Não há acontecimento de sorte que não dê origem a uma estatueta a
acrescentar à coleção.
É comum ver-se gestantes portando em volta do ventre
um cordão do qual pende uma porção de objetos e imagens, cada qual com a sua
função: para definir o sexo do feto, uma figura de pássaro para que venha a ter
a agilidade e leveza das aves, uma de
cachorro, para que a fidelidade e dedicação à família sejam caninas, e de um
leão para a coragem e por aí vai.
A imagem mais impressionante, entre as veneradas por
essa tribo do nordeste de Angola, a
KUBA-WAVULA. É o feitiço das mortes e incêndios, e que só acontece nas
noites de chuva – Wavula – no momento do relâmpago – KUBA.
É representado por um boneco disforme, com lascas de
madeira aguçadas ouriçando o corpo, e com uma boca delineada por dentes
humanos.
Às portas dos mussôcos, vêem-se também ícones em
forma de animais, que representam a MAHAMBA, espíritos encarregados por N’Zambi
de se ocuparem dos assuntos terrenos, e a quem periodicamente vão prestar
contas do que se passa na terra.
Os povos de cultura negra levam a crença nas suas
entidades, ao ponto de dificilmente contestarem uma acusação, por grave que
seja, por parte do feiticeiro.
Se em consciência nada fizeram para merecer a
acusação, então a culpa só pode ser do seu espírito – Kazumbi – e deve
submeter-se às sanções, para que o povo se veja livre dos malefícios que,
embora involuntariamente, está trazendo.
Submetem-se às decisões do feiticeiro com toda a
resignação e estoicismo, e raramente lhes passa pela cabeça a contestação.
Há registros diversos por parte das autoridades do
tempo colonial, de tentativa de interferência inócua por parte destas, nos assuntos
religiosos tribais.
Uma delas foi registrada por um Chefe de Posto da
CAMEIA, que tendo conhecimento de que duas mulheres eram acusadas de serem
feiticeiras, procurou-as e encontrou-as caminhando voluntariamente para o
Kimbo, onde muito provavelmente seriam executadas.
Tentou convence-las a não irem, no que não foi bem
sucedido; elas confirmaram que tinham sabido da acusação, e estavam indo de
livre e espontânea vontade para se submeter ao julgamento pelo feiticeiro e, se
fosse o caso, ao castigo.
Ante tal decisão, o chefe do posto prendeu-as, para
as livrar da provável morte, mas não adiantou, as duas fugiram e foram para a
Sanzala. Tempos depois, o chefe do posto soube que as duas haviam sido
executadas.
Os Juízes de qualquer querela, são sempre os chefes
e o conselho de secúlos -- Anciãos – da
tribo, e os julgamentos se dão embaixo de uma MULEMBA – Fícus Psilopoga –
considerada uma árvore sagrada, de vasta copa e ampla sombra. Sempre se
encontra esse tipo de árvore perto da casa de um Soba.
Os povos de Angola da linha étnica Bantu, têm um
apurado senso de justiça, e as causas chegam a durar gerações para se resolver
– quando complicadas -- pois todas as
partes são acuradamente escutadas, todas as testemunhas prestam seus
depoimentos, e todos os elementos da tribo podem ir declarar o que quiseram
acerca de qualquer das partes, mesmo que nada tenha a ver com o caso em questão
– por exemplo se consideram que o acusado ou o autor são pessoas boas ou más, e
porquê – desde que considerem relevante para o desenrolar do julgamento.
A justiça é consuetudinária, de costumes, e ninguém
se defende alegando desconhecimento.
Questões que podem ser colocadas em julgamento?
Perfídia – crime gravíssimo – divergência entre
casais, dívidas negadas – que podem vir de gerações – estupro, injúrias,
violências, ferimentos provocados – ainda que involuntariamente – e de uma
maneira geral, o mal sem justificativa; maltratar um animal sem razão, tirar um
fruto verde de uma árvore que não é comido por estar verde.
Para se formar um tribunal e julgar uma causa, o
queixoso apresenta-se ao Soba, dizendo das razões que o levam a clamar por justiça,
e leva uns presentinhos, uns agrados.
O Soba manda em seguida avisar a outra parte da acusação que lhe é feita.
Reunidas as primeiras testemunhas – enquanto durar o
julgamento podem aparecer outras – e quando o Soba decidir, tem início o
julgamento.
Na audiência
as partes sentam-se em semi-círculo dos lados da comissão julgadora, e
frente a frente.
O chefe dá então a palavra ao queixoso e às
testemunhas deste.
A seguir fala o acusado apresentando as suas razões
e defesa, e as testemunhas corroborando o seu ponto de vista.
Depois de todos os participantes dos dois lados
serem ouvidos, o conselho dos anciãos delibera e dá o parecer e o Soba dá a
sentença.
A seqüência não é rígida, porque, como já foi dito
atrás, a qualquer tempo e em qualquer altura, pode aparecer alguém para prestar
um depoimento que considere relevante para o caso. Por exemplo dizer que o
acusado é uma excelente pessoa porque em determinada circunstância agiu de
forma correta, ou corajosa, ou o ajudou. Este testemunho ´pe atentamente
escutado e levado em consideração.
Dada a sentença, o lado que vencer faz uma
verdadeira festa, com cortejo de adeptos
até à casa do derrotado, enquanto dançam, cantam e representam
verdadeiras obscenidades e injúrias dirigidas à parte perdedora, numa euforia
que pode durar dias.
Os casos mais complicados e que saem desse âmbito,
são entregues aos feiticeiros.
Um exemplo de ENDAKA -- querela – relativamente freqüente, é quando
uma mulher casada tem um filho que é comprovadamente de outro homem.
Os povos africanos em geral – no seu estado de
pureza cultural – não têm a noção ocidental de tempo e de distância; assim, o
habitante de uma sanzala pode sair em digressão pelo mato, e demorar meses,
anos até. Nesse espaço de tempo, as mulheres têm relações sexuais com outros
homens, como por exemplo um visitante de uma outra aldeia que por ali se demore
algum tempo; desse relacionamento pode advir uma gravidez!
O marido entretanto chega e encontra a mulher
grávida ou com um recém nascido nos braços, e aí surge a questão.
Ele chega para assumir o seu lugar e tomar posse de
tudo o que lhe pertence, o que por
ninguém é contestado, seja qual for o tempo
da ausência, mas, eventualmente, o homem que gerou o filho na mulher
dele, pode ter a pretensão de reclamar a
criança.
É formado o tribunal com todas as argumentações de
ambas as partes, mas invariavelmente a sentença é favorável ao marido, dentro
da lógica de que, o outro plantou na terra alheia, e o fruto é por direito do
dono da terra.
Se por acaso um viajante se ausentar por um tempo
tal, que leve as pessoas a acreditar que tenha morrido, e as mulheres voltarem
a casar e ter filhos com o novo marido, ele retornando, toma posse e lhe é
reconhecido esse direito; das mulheres, filhos e demais bens que haja deixado.
São casos raros, mas quando acontecem, costumam dar
origem a novas querelas, em relação à devolução dos bens dados pelo segundo
marido como lembamento; uma das questões que podem levar gerações para
solucionar, e para cujo ressarcimento, até o primeiro marido, o viajante e
ausente, pode ser convocado.
A morte de um queixoso ou de um reclamado, não dão fim à querela, esta continua, e as famílias
respondem pelo morto.
Casos interessantes são também os de devolução de
uma esposa, por incapacidade de gerar filhos por exemplo.
Um exemplo de uma pérola de jurisprudência, é a
história de um súdito que foi à presença do Soba N’Ganga Kelly, que reinava na
região de Kabatukila, explicar que a mulher por quem havia dado caro
Lembamento, o havia abandonado e voltado para casa do pai, sem qualquer motivo.
Pretendia assim que lhe fossem devolvidos os bens que dera, em sinal de apreço
pela noiva.
O pai da noiva defendeu-se confirmando que recebera
os bens citados e os aceitara, pois até se juntar com o marido, a moça era
digna do apreço demonstrado pelo noivo; depois de casada, se o marido não
conseguia controlar a esposa, como poderia ele, que era apenas o pai,
controla-la?
N’Ganga Kelly, pensou um pouco e decidiu:
Ele, como pai e vivendo tanto tempo com a filha,
tinha por obrigação conhece-la, e assim saber que ela seria capaz de tal
atitude; e nessas circunstâncias, nunca deveria ter exigido um Lembamento tão
vultoso.
Por ter procedido de má fé, obrigava-o a devolver ao
marido, duas terças partes dos bens recebidos.
Caso a filha voltasse ater um pretendente para
casar, ele deveria pedir como Lembamento, bens equivalentes a uma terça parte
do anteriormente pedido, já que a filha não valia mais do que isso, e esse
segundo Lembamento deveria ser
integralmente entregue ao primeiro marido.
SÍMBOLOS DE
PODER MANDO E
FORÇA
São variados os objetos e adornos que simbolizam poder, mando, força, casta, condição sócio
econômica, tribo, etc...
Abaixo relaciono os principais, com seus respectivos
significados e explicações.
PLUMAGENS: Penas de Faisão KOLONUY, de cor verde
metálico, são exclusivas dos chefes, indicam além da casta elevada, poder e
mando. Outros tipos de plumagens são funcionam como uma espécie de auto
propaganda, indicando qualidades a que o usuário entende fazer jus.
Penas de Gavião, Águia e aves de rapina em geral,
indicam força e destreza. Penas de Galinha d’Angola – Capota – significam
leveza e agilidade. De Panda indicam paciência e de Onduba – ave pequena –
inocência.
COCARES: Os cocares, com associação de penas de
significado diverso e trabalhos de miçangas com desenhos característicos, são
exclusivos dos chefes e seus parentes
ou delegados.
ADORNOS PEITORAIS E COLARES: Os povos de origem Bantu consideram o peito a
parte nobre do corpo. Aí usam os símbolos de estirpe e sangue – linha
matrilinear.
Um dos adornos mais considerados é o ZIMBO, pequena
concha univalve de molusco, cinza ou branca, de tal maneira apreciada, que já
serviu de moeda de troca em transações comerciais. Em algumas tribos do
nordeste de Angola, o ZIMBO ou CONUS, é emblema restrito aos chefes por
linhagem de sangue.
O valor do Zimbo
como moeda era elevado. Um Zimbo valia, por exemplo, um escravo ou uma
preza de elefante, e chegou a ser falsificado com barro cozido.
A Lenda dos Zimbos, diz que um homem, de nome
Katanda, conseguiu atingir a Lua subindo por andaimes de Bambu, e resolveu
trazer a metade dela para a terra, mas no caminho de volta, a Lua foi-se
multiplicando e encolhendo até virar uma porção – finita – de Zimbos.
Para simbolizar força e coragem, são usados colares
de dentes caninos e de prezas e unhas de felinos.
PULSEIRAS: Entre as pulseiras, os LUKANOS, são o
mais elevado símbolo de poder, passados para o descendente num aperto de mão;
nunca ficam soltos, sem estar num braço. São pulseiras volumosas, pois têm
grande quantidade de materiais na sua composição:
-
Tendões do pulso de chefes defuntos,
-
Tendões de animais, principalmente felinos – força e coragem,
-
Fibras ressequidas do órgão sexual masculino – virilidade,
Com acúmulo e
sobreposição de chefe para chefe.
Os Lukanos congregam as condições de insígnia, de
poder e de mando, além de diversas outras forças sobrenaturais.
Os Lukanos são usados no pulso correspondente à linha ascendente a que
pertencem:
-
No pulso esquerdo – KOKU DIÁ IMAMA – o braço da mãe, se são herdados do
tio irmão da mãe, que é o mais comum.
-
No pulso direito – KOKU DIÁ UTATA – o braço do pai, se são herdados do pai.
PELES E PANOS:
As peles de animais usados no vestuário, cama, cadeira e TCHIOTA –
cabana sem paredes, que é o lugar dos
homens – têm sempre um significado que é ligado às qualidades do animal ;
força, agilidade, coragem etc...
Os panos de confecção nativa trazem invariavelmente os símbolos da tribo.
CABO DE CAUDAS
DE ANIMAL: Um cabo largo, feito
com uma parte de um chifre de antílope, cheio de pequenos ossos, unhas e
outros objetos considerados mágicos,
revestido de contas e miçangas, com um feixe pelos de cauda de antílope numa
das pontas.
É uma insígnia de autoridade digna dos chefes, com
poderes mágicos que afastam temporais e limpam o ambiente de espíritos
malignos.
Só o chefe pode maneja-lo de forma eficiente; com
qualquer outra pessoa pode ter o efeito contrário.
Tem também o poder de atrair a sorte, pessoas e até
objetos; pela vasta gama de poderes que tem, serve também de amuleto.
BASTÕES
E ESPADAS: Os Bastões dos Sobas,
usados como símbolo de mando, são normalmente trabalhados com figuras alusivas
à história da dinastia ou linha uterina. Não têm qualquer outro significado
especial.
As Espadas são de uso exclusivo dos chefes e
simbolizam o direito de justiça, de vida e morte.
Uma espada só deve ser desembainhada em caso
extremo, porque não pode ser guardada de novo sem executar alguém ou sem que a
ponta toque a terra.
Quando desembainhada, as pessoas esperam que o
Soba reflita um pouco e toque com a ponta dela
o solo, para que possa ser guardada sem que tenha que haver mortes.
É usada em casos de justiça imediata, ou por puro
despotismo.
JAVITE
OU MACHADA : É uma machada trabalhada, e embora tenha uma
parte perfurante e outra cortante, é um objeto meramente heráldico e que apenas
simboliza comando. É portado à altura do peito.
ESCUDO E LANÇA: O único lugar em Angola onde o escudo
é usado junto com a lança é no Leste, entre os LUENAS, e mesmo assim por
influência externa.
A origem vem do tempo da guerra que os ZULUS – que
usam esse equipamento – fizeram contra os BABEMBA, no nordeste do Zimbábwé. Os
Zulus venceram essa guerra e deixaram uma
fama de audácia e gênio militar tão grande, que impressionou tanto as
populações, que passaram a adota-lo como símbolo de prestígio guerreiro.
TAMBORES: Há tambores que servem unicamente para
anunciar a chegada de chefes ou sacerdotes. O som que sai deles, simboliza
poder.
PLANTAS: As Mulembas – Fícus psilopoga – são árvores
de realeza. Perto da casa de cada chefe se pode encontrar uma, e à sombra das
suas folhas se reúnem as pessoas para
meditar, julgar, deliberar ou simplesmente conversar.
MÁSCARAS.
Em todas as tribos de Angola, se encontra o uso de
máscaras, embora se note maior freqüência entre os Tchokwé, Lundas, M’Bundos,
Luxase, Luenas, Luimbes, Bângalas, Minungos, Xinges, Yacas, Jagas, Kicongos,
Kimbundos, Ganguelas; na região do Kubango, Kunene, Kuamatwis e Mukubais.
Com relação a materiais empregados e processos de
manufatura, podemos dividir as máscaras em três gêneros:
1) MÁSCARAS DE FIBRA
ENCORDOADA. São máscaras mais rígidas,
fabricadas de entrançados ou encordoados de fibras vegetais, pouco detalhadas e
de confecção de negligente acabamento.
2) MÁSCARAS DE ENTRECASCAS DE
MADEIRA E RESINAS. São máscaras em que a resina é aplicada e moldada a ferro
quente, sobre as entrecascas, representando um trabalho mais elaborado que as
anteriores, mas de acabamento ainda
bastante rústico.
3) MÁSCARAS DE MADEIRA
ENTALHADA. São verdadeiras esculturas, em alguns casos atingindo um
aprimoramento de detalhes e acabamento, muito bom.
SIGNIFICADOS:
São usadas apenas por homens que já tenham passado pelo ritual da
circuncisão, adultos; para as mulheres e rapazes pré-circuncidados, as máscaras
são seres de origem sobrenatural. O segredo só é revelado aos rapazes, durante
a Mukanda.
Os significados das máscaras – em parte ou em
conjunto com o resto da indumentária do mascarado – pela sua expressão facial,
admoestam, denunciam, ironizam, exorcizam, curam, castigam, afastam pragas e
tempestades, provocam chuvas, fertilizam terras e seres vivos, desviam
influências negativas de forças ocultas, espíritos e feitiços.
Encontram-se máscaras representando espíritos de
guia de chefes já falecidos, que significam como que renascimento e
continuidade da vida terrena para essas pessoas.
Em todos os rituais de imolação é indispensável o
uso das máscaras.
CRENÇAS E SUPERSTIÇÕES: A principal crença e
superstição em relação às máscaras, é que o espírito do dançarino não larga a
máscara após a morte deste.
Assim, ninguém usa a máscara de terceiros, para que
o espírito que nela vive não se apodere do corpo da pessoa que a usou.
FUNÇÃO SOCIAL: A função social da máscara é de
grande amplitude; as máscaras acompanham a estrutura da organização social do
povo e têm papel importante na vigilância dos costumes e praxes sociais.
São usadas como folclore, na religião, na magia, na
justiça, fertilidade, vida ou morte.
ORIGEM: A origem das máscaras, que na verdade
representam sempre distorções da face humana, com o objetivo de assustar,
criticar ou fazer rir, deve ter sido a própria face humana pintada.
O passo seguinte na evolução imagina-se que tenha
sido o uso de peles de animais com perfurações para os olhos e boca, mas também
pintadas, passando às fibras vegetais, entrecasca de árvores com resinas, para
finalmente chegar à madeira entalhada.
DA CORALINA AO ANGOLAR, OBJETOS E PRODUTOS QUE
SERVIRAM DE MOEDA DE TROCA EM ANGOLA.
Antes de circular moeda em Angola, o sistema pelo
qual os povos comercializavam os seus produtos, era o de permuta por outros
produtos. Com o tempo, foram observando que sobre determinados produtos e
objetos, convergia a preferência dos mercadores, e assim, esses objetos e
produtos começaram a ser utilizados como base de permuta, tal como hoje se
utiliza a moeda, com um valor pré determinado.
A ordem de preferência, era inicialmente para os
produtos que pudessem servir de adorno, seguindo-se os produtos de necessidade,
e por fim os produtos úteis.
A despeito de todos os esforços de Salvador Correia,
a moeda cunhada só apareceu em Angola por volta do ano de 1864, pois até essa
altura, o Governo de Portugal,
considerava que a circulação de moeda era um sinal de soberania, o que nas
colônias era completamente inadmissível.
O primeiro objeto que se supõe tenha sido utilizado
como moeda em permutas comerciais, foi a CORALINA, pedra semipreciosa, de cor
castanho avermelhado, clara, e que valia consoante o tamanho.
Em seguida terão aparecido os ZIMBOS e CAURIS,
conchas de moluscos – búzios – que foram muito apreciados como adorno.
De tal maneira apreciados, que em algumas regiões do
interior viraram símbolos de nobreza, e o seu uso só era permitido aos chefes e
respectivas famílias; e um CAURI, valia um boi.
OS ZIMBOS: São pequenos, aproximadamente um centímetro de comprimento, e conhecem-se
três tipos. Branco acinzentado, com listas e com pintas. Dois Zimbos valiam um
escravo ou uma preza de elefante.
OS CAURIS: De formato idêntico ao dos Zimbos, porém
maiores, com cerca de três centímetros de comprimento; o uso dos Cauris
generalizou-se por volta do século XVI, tento tido origem na ilha de Luanda,
onde os pescadores os apanhavam na maré baixa das noites de Lua Cheia. São de
um branco polido, envernizado natural, e algumas tribos africanas atribuem-lhes
poderes mágicos.
Outro produto que na mesma época teve grande
importância nas permutas foi o SAL.
Provinha essencialmente das minas de N’Goma, na
Kissama, de onde era extraído a escopro e facão, e moldado em barras de um
palmo por uma mão de largura, de onde eram então transportados às costas até ao
Rio Kuanza, por onde iam para o interior.
OS OBJETOS DE COBRE: De adorno, de defesa ou de utilidade agrícola, tiveram também a sua
época de preponderância, mas o objeto que mais se destacou, foi sem dúvida
nenhuma a CRUZETA; era uma peça em forma de X, com cerca de trinta centímetros
de largura, feita em cobre puro martelado, e com uma nervura em uma das faces,
o que lhe dava autenticidade.
Supõe-se que a peça tenha aparecido por volta do século XVII na região
da LUNDA.
Os Tchokwé são exímios na arte siderúrgica --
usam uns fornos que simulam a mulher no momento do parto -- e
no vizinho Zaire, tem o mundo o maior produtor deste metal.
Como curiosidade, os Tchokwé, além de darem ao forno
a forma de uma mulher na hora do parto, chamam
o metal fundido de NANA, criança, e o
carvão de Zingwé, placenta.
Uma Cruzeta tinha o valor de dois porcos ou um boi.
Em Kassange, Tchokwé, Lundas e Lubas, trocavam
Cruzetas por miçangas e coral vermelho.
No século XIX começaram a desaparecer as Cruzetas,
pois os indígenas preferiam deixar de as fundir, a revelar o lugar de onde
extraíam o metal.
OS PANOS: Fabricados à base de fibra de palmeiras,
em forma de quadrado, com cerca de setenta centímetros de lado, tiveram também
bastante procura. Vinham principalmente do Congo e do Lubango.
AS MIÇANGAS: Como objetos de adorno que eram,
tiveram também muita aceitação. As preferidas eram as TUKETES, pequenos
cilindros de madeira, pintados de vermelho, branco e preto. Apareceram depois
as mais variadas miçangas, dos mais variados tipos, cores e materiais; o valor
delas variava também.
Na foz do Rio Cuvo, por exemplo, uma vaca era
trocada por quinze contas grandes; seis ovos valiam trinta contas Olho de Rola,
uma galinha valia doze contas Apipadas, etc...
OS ESCRAVOS: Que desde sempre existiram, só
começaram a servir de moeda com o aparecimento dos navegadores Portugueses. No
século XVI, um negro normal, de cerca de trinta anos, valia aproximadamente
22$000 ( Vinte e Dois Mil Reis ); no século XVII, os que iam para as minas e
seringais do Brasil, valiam cerca de 360$000 ( Trezentos e Sessenta Mil Reis ).
A escravatura chegou a ser a maior fonte de renda do estado.
O MARFIM: Foi numa certa época, a principal fonte de
receita para o exterior, e tinha o seu centro de comércio na cidade de São
Philipe de Benguela. Em 1790, o marfim valia entre 100 e 200 Reis por Libra. Uma preza que pesasse noventa
Libras, podia ser trocada por quarenta e cinco escravos ou 5.000 búzios.
A caça ao elefante tomou tais proporções, que Capelo
e Ivans, em 1886, vaticinaram a sua extinção.
OS LIBONGOS: Eram outra espécie de pano, de tal
maneira aceite como moeda corrente, que por fins da ocupação Holandesa, cerca
de 1649, não se sentia a necessidade da introdução de moeda cunhada.
Em 1694, D Pedro II e D.João V, mandaram para Angola
moedas de 5, 10 e 20 Reis; D. João I
acrescentou a estas, a moeda de 40 Reis.
Dez anos depois, D.José mandou cunhar em prata e
cobre, a primeira moeda de Angola, a MACUTA.
Em 1910, depois de implantada a República em
Portugal, a unidade monetária Real perdeu grande parte do valor; mudou-se então
o sistema monetário, e foi cunhado o
Escudo.
Em Outubro de 1911, tornou-se extensivo às colônias.
Em 1º de
Junho de 1928, é posto em circulação em Angola, o ANGOLAR, cujo valor
intrínseco era o do Escudo, mas de uso exclusivo em Angola.
Anos mais tarde é abolido o Angolar e cunhada nova
moeda, o Escudo, mas também de uso exclusivo em Angola.
Faltou mencionar, por uso menos expressivo, muitos
outros produtos que serviram como base
de permutas, tais como as peles de animais, o mel, a cera, conchas de todos os
tipos, pedras coloridas.
E faltou também falar sobre MEDIDAS. Os funantes ao
iniciarem em Angola o comércio de fazendas, introduziram diversos tipos de
medida: a GARRADA, conteúdo de líquido equivalente a dois litros e meio, o
PANO, de setenta por setenta centímetros, o CORTADO, número de panos suficiente
para vestir um indivíduo, a PEÇA, porção de tecido que o tear produzia de uma vez, e a ESPINGARDA,
arma de fogo rudimentar para caça.
SISTEMAS DE CAÇA
Basicamente, os povos de Angola usam dois tipos de
sistemas para caçar: por armadilhas e com armas.
Há inúmeras armadilhas, adaptadas e específicas para
cada tipo de caça que se pretende capturar. Gaiolas de gravetos ou caniços, ou diversos
tipos de visgo -- cola com base em resinas --
para as aves. Redes suspensas para animais pequenos, que são perseguidos
por cães e homens em direção às
armadilhas, laços armados em troncos flexíveis e resistentes, fazendo mola,
para os animais de porte médio. Fossos, eventualmente com espetos no fundo, para felinos, búfalos e
antílopes de grande porte. Esses fossos são camuflados por folhas e
ramagens colocadas na trilha ou perto de uma isca viva -- no
caso dos felinos -- cabrito, ou qualquer outro animal de criação
que atraia o felino.
No caso do uso de armas -- arco e flecha, zagaias, lanças e armas de
fogo --
a caça pode ser individual ou em grupo.
Na individual, o caçador, ciente de toda a técnica
de rastreamento, posicionamento sempre contra o vento, camuflagem e mimetismo,
persegue ou espera a caça em lugares estratégicos, como os bebedouros, onde os
rastros e marcas no solo são um verdadeiro jornal de informação para o homem;
escolhida a preza, caso não consiga abate-la na hora, tem início a perseguição.
Caçar um animal de grande porte representa sempre
prestígio, que será tão maior, quanto maior for a ferocidade do animal caçado.
Alguns rapazes, após a circuncisão, desafiam
frontalmente felinos -- leões e
onças -- num combate corpo a corpo, para
o qual é necessário além de grande destreza, uma imensa doze de coragem.
Acontecem esses desafios, invariavelmente em
bebedouros, em noites de Lua Nova; a total escuridão evita que o caçador seja
visto antes do tempo.
O caçador escolhe uma árvore, que esteja contra o vento e perto da água, de
onde assiste, nas horas que antecedem o raiar do dia, às diversas manadas que
vêm dessedentar-se, e espera a chegada de um leão solitário, ou de uma onça.
A chegada do Leão ou da Onça, lhe é anunciada pelo
tropel convulsivo dos animais no pânico da fuga, até que o gemido de um
antílope retardatário ou distraído, e a agitação da luta vislumbrada aos
primeiros e difusos raios do clarear, lhe indiquem estar na hora.
Pula então da árvore, e lança em riste, se aproxima
em desafio, da fera.
A fera, frente a uma refeição suculenta e já
assegurada, faz ainda uma tentativa de intimidação, para afastar o intruso,
rosnando ameaçadora, para em seguida correr e pular sobre o homem.
Este espera, lança apoiada no chão, que tenta
apontar certeira ao coração do animal.
É difícil o
caçador sair incólume dessa aventura, mesmo quando a lança rasga o coração do
bicho de primeira, este, no estertor da morte, sempre deixa o caçador com
ferimentos, cujas cicatrizes serão exibidas como troféu, por toda a vida.
O rapaz retorna à sanzala, com a pele e o
coração -- que comerá -- tendões com que confeccionará adornos, e é
recebido com honras de herói.
A caça em grupo utiliza-se normalmente de uma equipe
de batedores que, fazendo tanto barulho quanto possível, afugentem a caça
direto para o grupo de caçadores; ou fazem a queimada de uma árvore em U, em
cuja abertura contra o vento, esperam os
animais em fuga desordenada pelo desespero e pavor.
Após as caçadas em grupo, fazem-se sempre grandes
festas, com batuque, em que a tradição oral fixa as aventuras dessa caçada, e
relembra as de outras.
Um outro tipo de caça em grupo, que exige imensa
coragem, é a que fazem os pigmeus do Mayombe ao elefante.
Cercam o animal, e depois vão atirando as suas lanças, que se espetam na
pele dura a pouca profundidade, mas que lhe causam ferimentos que vão sangrando
e minando-lhe as forças. O animal, enlouquecido pela dor, que vem de todas as
direções, agita-se também em desespero, o que contribui para um mais rápido
esgotamento físico.
Nessa briga, não raro, vai pegando com a tromba um
ou outro caçador, que lança esmagando contra o solo.
Mas os caçadores não se atemorizam nem desistem, e
quando o imenso bicho, por fim, esgotado cai, então é espetado como um
agulheiro até à morte.
Deve dizer-se que, apesar da crueldade da morte,
nada é desperdiçado, o aproveitamento é total, da carne, que é posta a secar e
que dura meses, aos ossos aproveitados para os mais diversos fins, pele, tudo terá a sua utilidade. E que também
não é predatória, matam estritamente o necessário, escolhendo sempre que
podem, até por razões óbvias, um animal
já ferido por luta entre machos, na disputa de fêmeas ou de liderança.
COSTUMES DIVERSOS
KÖISAN OU MUKUANKALAS OU BOSQUÍMANOS – HOTENTOTES:
Acredita-se que os povos desta linha étnica tenham uma remota origem caucasiana. Até
cerca de cinco mil anos atrás, ocuparam todo o hemisfério sul do Continente
Africano.
Com a formação dos desertos do Norte de África, os
Bantus, povos pastores oriundos das margens do Mar Vermelho, iniciaram
movimentos migratórios para o sul, em
busca de terras e pastagens.
Melhor armados, mais belicosos e em maior número,
foram combatendo e afugentando os Mukuankalas para as regiões pobres e
desérticas do sul da África – Kalahári e Namíbia – onde se adaptaram e vivem até hoje.
Têm características físicas e antropológicas que os
diferem de todas as outras raças do mundo: Cor terrosa clara, olhos rasgados e
oblíquos de oriental – que os protege da forte luminosidade do deserto – uma
lordose lombar que dá origem a nádegas
proeminentes – verdadeiros reservatórios de energia – as mulheres acumulam gordura
nas nádegas e coxas, sendo, no entanto delgadas no resto do corpo.
As pernas são desproporcionalmente compridas em
relação ao tronco, pés bem largos e de dedos curtos, numa adaptação para as
caminhadas pelas areias do deserto.
A característica mais marcante ou curiosa é o “Pênis
Rictus”, o pênis em constante semi-ereção, e de proporções consideradas
pequenas, em comparação com a média dos homens de outras raças, que têm o
“Pênis Pêndulos”.
São povos nômades, de grupos familiares pequenos,
nunca mais do que quarenta pessoas; uma família em que o chefe é sempre o mais
velho dos homens.
Não se conhece qualquer cerimônia para iniciação
sexual ou casamento; o rapaz, após caçar o seu primeiro animal, oferece a pele
à moça pretendida – que já tenha menstruado; se ela aceitar, está realizado o
casamento.
Caçam usando principalmente o arco e flecha,
eventualmente a lança, e muito raramente armadilhas.
Usam venenos paralisantes nas pontas das flechas e
das lanças, arte que dominam, de que são
grandes conhecedores, servindo-se de venenos de cobras, secreções de insetos e seivas vegetais.
São exímios
caçadores, talvez os melhores rastreadores do mundo, e com capacidade de
mimetismo inacreditável; chegando a enterrar-se no solo, disfarçando o rosto
com cascas vegetais, de tal maneira que se possa passar ao lado deles, sem que
se perceba.
Os homens se ocupam do fabrico de armas, caça e
procura de água; as mulheres tecem cestos e tapetes rudimentares e fazem
panelas e vasilhas de madeira, além da
procura de tubérculos, répteis e larvas que são uma base alimentar.
São conhecedores dos mistérios do deserto como
nenhum outro povo. Sabem distinguir os indícios mínimos que indicam onde
poderão, cavando, achar água minando, as
plantas que mantêm reservatórios nas raízes em tubérculo, e, em última análise,
se não conseguem achar água na região em que se encontram, capturam um babuíno pequeno, novo. É todo um processo
interessantíssimo. Os babuínos são os
únicos animais do deserto que detêm o conhecimento dos rios subterrâneos, e dos
locais e épocas em que eles afloram, normalmente entre pedrais, segredo que guardam ciosamente de
todos os outros animais. Os Mukuankalas então, sabendo-se observados por
babuínos, escondem entre alguma fenda de pedras ou de árvores, alguns grãos ou
planta comestível, e afastam-se, sem dar a parecer que se sabem observados. O
babuíno novo – macaco velho não mete a mão em cumbuca, é um ditado verdadeiro
-- quando sente que os homens estão distantes, vai lá, enfia a mão espalmada,
segura os grãos, e não larga mais, deixando-se capturar. Os Mukuankalas
prendem-no então a uma pedra, em lugar sem sombra, e alimentam-no de carne por
um dia e uma noite, sem lhe dar água. No dia seguinte, libertam-no, e o símio,
enlouquecido de sede, esquece toda a cautela e sigilo e vai direto para o
afloramento de água, sem sequer se dar conta de que está sendo seguido pelos
captores.
Usam muito os ovos de avestruz, que além de lhes
servir de alimento rico em proteínas, lhes servem também de reservatórios de
água, que transportam ou enterram em lugares estratégicos de sua passagem na
vida nômade, e dos quais nunca se esquecem. É incompreensível, como num lugar
de configuração homogênea, de referências mutantes, como as dunas, conseguem
lembrar-se anos depois, do lugar exato onde mantêm os ovos com água enterrados.
As cascas dos ovos de avestruz que se quebram, são
também aproveitadas, transformadas em contas que lhes servem de adorno.
O alimento é sempre compartilhado por todo o grupo,
mas o homem que mata a preza, é que destina para quem vai o couro.
Cultuam as forças da natureza, e mostram grande
consideração pela vida, por todos os seres vivos.
Como manifestações artísticas, têm as pinturas
rupestres, a dança e a mímica, que se manifesta principalmente em
representações de cenas de caça.
Estes povos sobrevivem ainda hoje fiéis à cultura
primitiva, apesar da influência dos Bantus e dos brancos.
A linguagem dos Mukuankalas se caracteriza pelos
estalidos de língua, intermeando e acentuando as palavras, e por sons guturais.
O termo Bosquímano vem da palavra bushman – homem
dos bosques – nome dado pelos Boers da África do Sul; os Bantus deram a estes
povos o nome de Mukuankalas, som que mais se parecia com o que eles fazem para
se designar.
Alguns grupos ou famílias findem e moldam ferro, e
apresentam uma tendência sedentária, sendo obrigados ao nomadismo pela
necessidade de novas pastagens, na região desértica em que vivem.
É um povo afável e tímido. Por serem nômades, não
têm muitas condições de se apegarem a sentimentalismos pouco práticos, e assim,
quando algum elemento da família, por doença ou idade já não consegue
acompanhar o ritmo de caminhada do resto
do grupo, é deixado para trás, junto a um pedral ou.
Arbusto que dê um pouco de sombra, com uma pequena
reserva de água e comida, aguardando algum predador.
Não enterram os mortos, não só por acreditarem que
esse costume dificulta a saída do espírito, mas também porque, sendo nômades,
não vêem necessidade nem há a capacidade
prática, de sinalizar os lugares onde os
mortos são sepultados para posteriores homenagens.
Como se disse atrás, cultuam as forças da natureza e
espíritos indefinidos, como o espírito da doença e do fogo. O espírito do fogo
é o mais cultuado; onde quer que parem, acendem de imediato uma fogueira -- que
mantêm alimentada pelo tempo que no lugar permanecerem. Para fazer fogo, usam
ainda o método da fricção de duas madeiras de consistência diferentes, ou as pedras de sílex com folhagens e capim
seco.
O fogo representa para eles, além de uma eficaz
defesa contra as feras, o único agente
de calor nas noites frias do deserto.
São muito perseguidos pelas outras tribos, e
eventualmente capturados como escravos; se não são escravizados, têm pelo menos
que pagar pesados tributos -- prezas de
elefante, peles de animais etc... -- aos
povos por cujas terras transitam no seu nomadismo.
KUISSIS
OU KUISIS:
Vivem na
faixa litorânea do norte de Moçâmedes, entre o mar e o deserto. São
descendentes mestiços dos Mukuankalas e estão no mesmo estágio de evolução que
eles; vivem da caça e coleta de frutos, raízes, mel e répteis.
Para se alimentarem, não se coíbem de usar os restos
dos festins de animais carnívoros.
Quando dois animais machos lutam, disputando uma
liderança ou uma fêmea, eles perseguem o derrotado --
enfraquecido por ferimentos e perda de sangue -- e quando o alcançam comem-no ali mesmo, e
permanecem no lugar enquanto houver o que comer, ou enquanto não forem
afastados por hienas, mabecos -- espécie de cachorro selvagem -- ou
por abutres.
MUKUÍSSES:
Descendentes também dos Mukuankalas -- linha étnica Hotentote --
eram inicialmente sedentários, ocupando a área da Jamba até Moçâmedes, restringindo-se
hoje às cercanias do Morro Maluco, perto da Huíla.
Não belicosos, sempre foram perseguidos pelos outros
povos, para serem utilizados como escravos; tornaram-se em conseqüência dessa
perseguição, hábeis na fuga e na camuflagem.
Como os seus perseguidores os tentam pegar normalmente à mão, para não os
danificarem para o trabalho escravo, os Mukuísses untam o corpo com uma
mistura à base de gordura animal, que os
deixa escorregadios e lhes facilita se livrarem dos captores quando agarrados.
KUROKAS:
Os Ova-Kwanyoka são um povo pré-Bantu, e descendem
também dos Mukuankalas, com características físicas e antropológicas similares,
bem como a linguagem -- por estalidos de
língua e sons guturais -- se bem que, em vez da cor terrosa, são
negros.
Habitam as margens do Rio Kuruka, perto da Baía dos
Tigres -- assim chamada pela grande
quantidade de tubarões Tigre que podem ser vistos nas suas águas -- e
alimentam-se da caça, da pesca e dos frutos,
legumes e tubérculos espontâneos.
Padre Carlos Estermann, em
“Etnografia do Sudoeste de Angola”, cita Duarte Pacheco e Pilarte da
Silva, que concluem que os Kurokas são
originários de uma mestiçagem de Mukuankalas
com os Ova-Kuissis ou Kuissis.
Kurokas, Kuissis e Mukuísses, são designados pelos
povos de linhagem étnica Bantu, por Wá-Twa --
errantes -- os
escravos os designam por -- Ova-Zolotwa
-- errantes negros -- para os distinguir dos Mukuankalas.
KAMUSSEKELES, OU MUSSEKELES/MUSSEKERES:
São povos que vivem entre o Kubango e o Kuango -- rios do sul de Angola -- nas
florestas que ficam perto das margens dos rios.
São altos e fortes, com características físicas bem
diferentes das dos Hotentotes, embora com os olhos em fenda e a cor terrosa.
Atribui-se por isso a sua ascendência étnica, aos hotentotes.
Alimentam-se da caça, raízes e mel . São lutadores e
guerreiros tenazes e corajosos, se bem que desorganizados. São ótimos caçadores
e perseguidores implacáveis da caça.
LUXAZES:
Os Luxazes habitam as margens do Rio Kuito, e podem
ser considerados comerciantes, por excelência e vocação.
Cultivam pouco, e vivem praticamente do comércio e
permutas -- cera por sal e peixe seco
com os Kimbundos; pederneira e ferro com os Tchokwé, que trabalham em machados,
lanças, pontas de flecha, enxadas e facas, que permutam por cera, cânhamo e tabaco
com os Bailundos.
Foram os primeiros, entre os povos de Angola, a
controlar o fogo. Usam isqueiros de pederneira e fuzil -- ferro forjado e temperado em água fria –
com uma mecha de algodão embebida em
óleo vegetal ou gordura animal.
As mulheres, ao contrário da grande maioria das
mulheres africanas, não transportam os filhos às costas, transportam-nos do
lado, na ilharga; às costas transportam cestos com diversas coisas, presos por
tiras de couro à testa.
É um povo bonito e forte, com mulheres muito
elegantes na postura de costas retas, vestes de cores alegres e homens de porte
atlético.
AMBWELAS:
Os Ambuelas são um povo pacífico por índole, embora
fortes e hábeis com armas; são bons e corajosos caçadores, mas não guerreiros.
São povos que vivem em aglomerados numerosos, mas
são muito fechados nos relacionamentos, evitando contato até com outras tribos
da mesma linha étnica, o grupo dos Ganguelas.
Habitam o sudoeste de Angola, na região denominada
por “Terras do Fim do Mundo”, e o norte do Botzwanna, perto dos rios Kuango e
Kubango.
Pacifistas ao ponto de preferirem pagar vassalagem a
tribos menos numerosas e que eles facilmente derrotariam em guerra, do que
brigar pela hegemonia e independência. Ao contrário da maioria dos povos africanos,
que apreciam e estimam o cachorro como companhia, os Ambwelas apreciam-no como
alimento. A carne de cachorro é seguramente das que mais apreciam.
São hábeis oleiros e tecelões de esteiras e fios de
algodão -- fiam e tecem -- além de amplamente conhecidos também pela
perfeição com que trabalham o ferro.
MULONDOS:
Dos Mulondos, cito dois costumes feiticistas,
raramente encontrados em outros povos,
até da mesma linha ou grupo
étnico.
São os OMUTEKELY e os MUNA-MANYA.
Os Omutekely são feiticeiros especiais, que têm
praticamente como única atividade encomendar – no sentido de pedir -- aos espíritos, a morte de alguém.
É um ciclo vicioso de vingança e morte, que tem
início quando morre uma pessoa inesperadamente e sem causa conhecida; a morte é
então atribuída ao feitiço.
Os parentes recorrem ao Omutekele, a quem pedem que descubra e revele o culpado.
Após esta primeira etapa, e revelado o culpado,
recorrem de novo, pedindo desta vez que esse culpado morra, vingando a morte
anterior. Para o ritual, o feiticeiro mistura num chifre de antílope, a terra
pisada pelo acusado, excrementos de
vários animais e diversos tipos de objetos
místicos, e coloca no topo, uma brasa incandescente.
Em seguida inicia uma dança e canto espirituais, ao
fim da qual indica a época em que a vingança se consumará. A entropia
feiticista pode durar “Ad Infinitum”.
Por Muna-Manya
-- dono da pedra -- é conhecido
entre os Mulondos, o dono da pedra de fazer chover.
Qualquer indivíduo pode ter a faculdade de fazer
precipitar a chuva, quando esta se faz necessária e tarda, desde que possua uma
determinada pedra, com características muito especiais, e conheça os preceitos
do ritual.
Quando a chuva tarda e as culturas começam a ficar
ameaçadas, o Soba chama um dos Muna-Manya
-- é raro haver mais do que dois, em cada Sobado -- a fim de apressarem a precipitação
pluviométrica.
Para tanto, enquanto o Muna-Manya oferece libações,
em postura humilde diante da pedra, o Soba, na companhia de uma moça
pré-púbere, sopra com pequenos canudos uma cuia
ritual cheia de água.
Este poder, apesar de não ser restrito a qualquer
classe hierárquica, é dos mais pretendidos e estimados, porque embora não
confira autoridade, dá grande prestígio a quem o possui.
GRUPO NHANEKA-HUMBE:
Tanto entre os povos Nhaneka, quanto entre os Humbe,
é levado a efeito sazonalmente a “Festa do Boi Sagrado”.
É um ritual de premonição, em relação aos resultados
da colheita vindoura.
Um boi, malhado de preto e branco, é entregue pelo Soba aos cuidados de um Mene-Humbe --
grande pastor -- para que dele
cuide até à época do ritual.
Na época própria, o Mene-Humbe, seguido por um
cortejo de que fazem parte praticamente todos os habitantes da sanzala onde
mora o Soba, dirige-se com o boi à casa deste chefe, que dá ao boi, na palma da
mão, um pó branco preparado com cascas de árvore -- Omu-Abugulu.
Caso o boi não lamba o pó da mão do Soba, o
presságio é negativo, o pastor responsabilizado e, dependendo do humor do Soba,
pode até ser executado.
No caso de lamber o pó, o presságio é positivo,
anuncia boas colheitas, o que é amplamente aplaudido pela população de
seguidores.
Aí acontece uma festa apoteótica, em que a ordem de
alegria geral é de tal maneira rigorosa
que, enquanto a festa dure, estão
vetados os cultos tristes.
A festa termina com o início do cortejo “ONDYELY”, em que o boi percorre todas as
terras do Sobado, para que agora, já considerado sagrado, possa ser saudado por
todos.
Outro costume curioso entre os Humbes, é quando uma
moça pré-púbere engravida.
Os contatos sexuais, como na maioria dos povos em
Angola, são encarados de forma natural, e jamais coibidos.
Qualquer garota, de qualquer idade, pode dormir com
rapazes; o que não pode é engravidar.
Na tentativa de evitar que isso aconteça, as mães
instruem as filhas a amarrar bem o pano da tanga entre as pernas, ou a praticar
o coito interrompido; desvelos maternos bem intencionados, mas pouco práticos e
nem sempre eficazes.
Quando acontece a gravidez indesejada a uma moça que
ainda não tenha passado pelo ritual da puberdade, torna-se necessário que
o feiticeiro a leve até à margem do Rio
Kunene para um banho purificador, já que ela está conspurcada.
Na margem do
rio, a moça sobe num galho de árvore que esteja bem sobre a correnteza,
e que é cortado pelo feiticeiro, precipitando a moça no caudal violento;
normalmente os jacarés do Kunene são mais rápidos para chegar à moça, do que
ela nadar até à margem.
Uma das medidas práticas para evitar a gravidez das
moças antes do ritual da puberdade é faze-las passar pelo ritual antes da
puberdade fisiológica; o que por sua vez origina verem-se garotas com
responsabilidades matrimoniais, em idade em que nas outras tribos apenas se
ocupam com cantorias e brincadeiras infantis.
Entretanto, após a puberdade ritual, os nascimentos
são amplamente festejados, a menos que sejam gêmeos.
O nascimento de gêmeos entre os Humbes, é sempre
sinal de mau presságio, que só pode ser combatido por meio de uma série de
rituais de contra efeito.
Mal nascem os gêmeos, é chamado um Kimbanda para
fazer a OKUTUNTHA, que consiste na
lavagem da testa, nuca, cotovelos, joelhos e planta dos pés de toda a família.
Em seguida constrói-se fora da sanzala uma cubata
para onde mãe e filhos são levados, e onde ficarão de quarentena por um largo
período, determinado pelo feiticeiro; durante esse tempo, a mãe tem o encargo
de, além de cuidar dos filhos, tecer dois pequenos cestos, que mais tarde lhes
servirão de pratos.
No dia em que o feiticeiro der por findo o prazo de
isolamento, vai logo de manhã avisar a mãe, e quando o sol estiver na vertical,
o feiticeiro leva toda a família, pai, mãe e outros filhos além dos gêmeos,
para uma clareira no meio do mato, onde
o pai haja erguido um estrado.
Lá chegados, o pai, a mãe e os gêmeos, sentam-se nus
no estrado, para que possam ser lavados com um preparado especial. A lavagem
segue uma determinada ordem: Primeiro a
mãe, depois o gêmeo que primeiro tenha nascido, depois o pai, e por último o
gêmeo que nasceu em segundo lugar.
Só depois deste ritual é que as placentas podem ser
enterradas, e a viad tomar um curso normal para a família.
É de notar que, apesar de toda a necessidade de
purificação que causa o nascimento de gêmeos, se forem trigêmeos não acontece
nada, absolutamente nada, procede-se como se houvesse nascido um só bêbê.
KWANKWAS:
Os Kwankwas, tribo da linha étnica Humbe, acreditam que a prática da caça não
pode ser exercida, sem que o caçador receba um espírito favorável.
O ritual de iniciação de um caçador tem como único
objetivo, facilitar ao espírito a entrada no corpo do candidato.
O feiticeiro começa por fazer no corpo do futuro
caçador, um desenho tracejado, usando para isso Takula ou Cinza; em seguida é
sacrificado um animal com cujo sangue o feiticeiro complementa o desenho no
corpo.
Tudo isto acontece ao entardecer de um dia, marcado
pelo feiticeiro, após o pretendente ter manifestado o desejo de se tornar desse
modo, útil à tribo.
Na noite que se segue ao entardecer da iniciação,
faz-se a dança da caça, de que só tomam parte caçadores consagrados, e em que o
iniciado se mantém todo o tempo sentado, com as armas sobre as pernas. Quando
começa o amanhecer, pára a dança e começam os preparativos para a primeira
caçada do iniciado.
Limpam-no das cinzas e do sangue, e tendo como única
indumentária um pano enrolado a tiracolo, o novato parte para a aventura.
Caso seja bem sucedido, o primeiro pedaço de carne
da peça abatida, é-lhe servido, e festeja-se a adesão do novo membro à classe;
caso não tenha êxito, é porque os espíritos não estavam favoráveis, e o ritual
terá que ser repetido passado um tempo.
É um costume dos caçadores Kwankwas, construir um estrado perto da
cubata em que mora, e onde serão colocadas
para exibição, todas as cabeças dos animais que abate ao longo da vida
ativa.
GRUPO
DOS AMBÓS:
A origem do termo Ambó perde-se no tempo, mas, assim
foram designados os povos localizados a norte da Namíbia, englobando as gentes
do Grupo Étnico Donga, os “Ova-Donga”. A
forma gráfica correta do termo é “Ova-M’bo”, que foi sofrendo alterações até
chegar a Ambó.
A família Ambó inclui do lado da Namíbia – antigo
Sudoeste Africano – os Onga, Kwambi, Gandgela, Kwaluty, Lolocktsy Gunda; do
lado Angolano os Dombolas, Kwamatwy, Kwanyama, Evale e Kafima.
Entre os Ambos do lado Angolano, as duas tribos que
mais se distinguiram pelo valor como guerreiros e pelo poderios econômico que
alcançaram, foram os Kwanyama e os Kwamatuy.
A lenda do aparecimento dos Kwanyama, diz que uma
parcela da tribo dos Donga, errando pelo deserto do Kalaháry --
tratava-se provavelmente de um grupo Wa-Twa, comedores de raízes --
atingiu uma região rica em vegetação e caça, onde se fixaram. Passaram a
comer carne -- Nyama
-- passando depois disso a ser
designados ou a se auto designarem como os Wa-Twa-Nyama, ou os Wa-Twa da carne,
que acabou degenerando para Kwanyama, e que os Portugueses simplificaram a
pronúncia para Cuanhama.
Na realidade, sendo Wa-Twa, e portanto nômades,
devem ter chegado à região que vai quase até à Huíla, por puro nomadismo, e não
por estarem perdidos no Kalaháry.
A região, rica em boa alimentação e pastos, fez
deles um povo forte, de compleição física avantajada, próspero e que se tornou
temido na guerra. Têm como base de alimentação, o leite, o mel, carne, frutas e
milho.
As crianças são amamentadas até tarde, e quando a
lactação materna termina, passam a dar à criança, uma coalhada de leite adoçada
com mel.
O nascimento de uma criança é motivo de alegria para
a família e todo o clã.
A parturiente dá à luz sem qualquer ajuda, numa
cubata rodeada por velhas -- Ovalikadi; a placenta é enterrada no local do
nascimento, o cordão umbilical cortado com os dentes e untado com uma pasta de
ervas cicatrizantes, misturadas a cinzas.
O corpo do recém nascido é untado com uma pasta à
base de manteiga e LUKULA, extraído da árvore Chora-Sangue --
Omulio-Sonde -- por acreditarem
que essa substância tem propriedades que impedem a aproximação de espíritos
maus.
Após o nascimento a mãe grita para fora da cubata:
-
Temos “Omutwa Ohukwa”, pisadora de milho, se for menina, ou “Omukwaty
Womafuma”, caçador, se for um menino.
Em ambos os casos, se escutam as exclamações de
alegria entoadas por toda a tribo:
-
Diririririririririririririririririririririri........
A escolha do nome é decidida por toda a família,
mais ou menos uma semana após o parto, e obedece a orientações conhecidas.
Os nomes são precedidos da expressão Manu para os
rapazes, e Namu para as meninas; por exemplo: Namutenya ou Manutenya. Se
nascidos de noite – Dufiko -- Manufiko
Namufiko, se de manhã -- Ongula
-- inspira nomes como Namugula ou
Manugula.
Até aos sete anos aproximadamente, quando cai a
primeira dentição, a criança é cuidada exclusivamente pela mãe; a partir dessa
idade as meninas começam a acompanhar as mulheres e os meninos os homens.
Começam a adestrar-se no manejo das armas de caça, o
arco e flecha --Ondabi -- com ponta de madeira, usado para aves de
pequeno porte.
Já um pouco mais velhos, começam a usar as flechas
com ponta de ferro, e trazem à cintura, uma faca de dois gumes --
Omakonda -- retida à cintura por bainha de madeira,
chifre de boi ou couro de animal.
Já o nascimento de gêmeos, como foi dito atrás, é encarado com apreensão por
toda a família Ambó, e, portanto também pelos Kwanyamas.
Acreditam que o homem, com uma ejaculação só tem
capacidade para gerar um filho; e se vem mais de um, é entendido como
intervenção dos espíritos, capas de trazer má sorte à família e à tribo.
Diferentemente dos Nhaneka Humbe, que só têm
preconceitos quanto a dois filhos numa mesma gestação, os Ambos têm-no em
relação a mais de um filho por gestação.
Para neutralizar esse mal, tem que se proceder a um
ritual de purificação dos recém nascidos e da mãe, cerimônia presidida por um
Ondudo -- curandeiro adivinho -- que asperge a todos e ao lugar, inclusive
aos visitantes, com um banho de ervas, durante a primeira Lua.
Combatidos os efeitos negativos, tudo o mais decorre
normalmente.
Outra tribo que procedia com verdadeiro barbarismo
ao nascimento de gêmeos, ou de crianças com qualquer tipo de deficiência
física, eram os MUKUBAIS. Os recém nascidos nessas condições, entre os
Mukubais, eram abandonados em covas, no
mato, onde eram devorados por predadores ou formigas, antes de ocorrer a morte
por inanição.
A influência cultural ocidental trazida pelos colonizadores,
bem como a ação dos missionários, extinguiu, ou pelo menos atenuou muito esse
tipo de vandalismo.
KWANYAMAS:
É um povo extremamente orgulhoso, de um porte físico
imponente e majestoso, e que se considera superior a todas os outro povos.
Foi uma das tribos que maior resistência fez à
ocupação colonial, nunca se deixando subjugar por completo, e até hoje, alguém
que queira entrar em território Kwanyama, só poderá faze-lo com expressa
autorização do Soba.
É conhecida a história do Soba Manugula-Homandumbe
que, vendo-se em luta desesperada com militares brancos, quando só ele e uns
poucos guerreiros restavam, lhes perguntou se preferiam morrer ou ser escravos
dos brancos e, sem esperar resposta os matou, suicidando-se em seguida.
Povo de qualidades guerreiras extraordinárias,
aliadas ao fato de se encontrarem sempre militarmente organizados, fizeram-se
impor, não só aos povos vizinhos, mas também ao invasor branco.
De uma audácia fantástica, chegaram por vezes a
tentar negociações de paz, apenas como mera estratégia, pois tão logo se
sentiam capazes de voltar à luta, com boas chances de vitória, esqueciam
imediatamente os tratados anteriores, para voltar a marcar a sua posição.
A educação deste povo tem aspectos em comum com a
antiga civilização Grega de Esparta: praticam o laconismo, e o roubo é
permitido -- a terceiros, jamais entre eles -- desde que não se deixem apanhar. O ladrão
que é descoberto é impiedosamente castigado pela chibata diante de toda a tribo; não pelo roubo
propriamente dito, mas por não ter tido a argúcia suficiente para não ser
descoberto. Do sofrimento físico, nada
deixam transparecer, mas a humilhação pública, leva-os na maioria dos casos ao
abandono e convívio da tribo.
O indivíduo que mais gado consiga furtar às tribos
vizinhas, ou que em condições mais precárias consiga matar um leão, rapidamente
sobe no conceito da tribo. Ao contrário, qualquer indivíduo que dê mostras de
medo ou covardia, seja em que situação for, torna-se alvo das chacotas da
tribo, é-lhe interditada a caça, e passa a ser ajudante das mulheres nas
tarefas de tomar conta do gado e da lavoura.
As mulheres também, à semelhança de Esparta, têm que
ser fortes e saudáveis, pois disso depende a saúde dos filhos que forem
gerados.
Os homens são adestrados desde cedo nos exercício da guerra, corrida, luta,
manejo de armas, sendo o único povo cavaleiro em todo o território Angolano.
As mulheres desde cedo são preparadas para o
casamento, incluindo essa preparação, exercício físicos que as tornem fortes e
resistentes às doenças, fatores que consideram indispensáveis à fertilidade.
A mulher que não corresponder à expectativa do
marido, e for devolvida, dificilmente conseguirá casar com outro guerreiro,
restando-lhe juntar-se a algum membro da tribo rotulado de covarde.
Como modo de vida, os Kwanyamas são essencialmente
criadores de gado e pequenos agricultores.
Para o homem, só é apropriado o ofício de caçador
guerreiro, ficando para as mulheres a agricultura e criação de gado, da qual
periodicamente têm que prestar conta ao seu homem.
Os homens, quando afastados da caça, tornam-se
indolentes e permanecem dias seguidos na sanzala, fazendo simplesmente nada.
O sistema político é o feudalismo, tendo os Sobas
poderes absolutos, mas estando subjugados a um
Rei. A este Rei, e só a ele, é conferido o direito de vida ou de morte
sobre os Kwanyamas; e é indiscutivelmente obedecido, seja qual for o seu
capricho, inclusive pelos Sobas.
Como indumentária os homens usam apenas uma tanga;
as mulheres, como adornos, imensos colares de contas coloridas e pulseiras
de cobre trabalhadas, que junto com os
penteados, indicam o seu estado civil e condição econômica.
Ilustrando o orgulho e tenacidade deste povo, lembro
de uma história verídica passada com o pai de amigos meus, que tinha uma
indústria pesqueira perto de Moçâmedes.
Certo dia apareceu na indústria um Kwanyama ainda
jovem,vindo diretamente do Kimbo, pedindo emprego; caso raríssimo, motivos mais
relevantes o deviam motivar, acima da compensação monetária.
O dono da indústria
-- através de intérprete --
disse que sim, que havia, mas só nas traineiras de pesca, e era
fundamental saber nadar. Perguntou-lhe se sabia nadar.
O Kwanyama disse que sim, sabia.
O industrial então, indicando um pequeno bote
aportado relativamente próximo ao quebra-mar, pediu-lhe que nadasse até lá.
O rapaz hesitou apenas uma fração de segundo e
entrou no mar ... de onde precisou ser retirado, pois quase morreu afogado.
Preferia morrer
a voltar atrás com a palavra, ou ser pego na mentira. Ou ainda porque,
jamais lhe ocorreu que não soubesse; se outros sabiam, como um Kwanyama não
iria saber?
OS MUKUBAIS:
Também da linha Ambó, habitam a região da Serra da
Schela, num semi nomadismo de acordo com as
necessidades de pastagens para o gado, em função do qual vivem.
É um povo essencialmente pastor; a única coisa que
cultivam é a “massambala”, cereal de grãos pequenos, quando, encontrando uma
área de pastagens vasta, pretendem demorar-se no local.
A base de alimentação deste povo é leite e
derivados, e a massambala, da qual fazem
uma farinha para pirão. Carne, só comem quando caçam ou quando um boi morre de
morte natural.
Como se disse acima, vivem em função do gado, pelo qual têm tanto apreço que até o roubam
de outros povos; o deles, defendem-no a qualquer preço, muito embora no geral,
não sejam belicosos.
É um povo forte e saudável, de porte altivo e que, à
semelhança dos Kwanyamas, também se considera superior a todos os outros, a
ponto de preservar a pureza da sua estirpe; não admitem qualquer ligação com os
povos de outras tribos, e se uma mulher Mukubal tiver relações com um homem que
não seja da tribo, será severamente
castigada, ainda que tenha sido forçada. Os filhos desta ligação, se os houver, serão mortos.
Embora pratiquem o roubo de gado, consideram
vergonhoso roubar qualquer outra espécie de mantimentos ou o que seja, e seja
de quem for.
Embora fortes, corajosos e orgulhosos, se atacados,
preferem retirar para evitar o
confronto, que só acontece se for inevitável ou porque tenham que defender o gado; nesses casos, tornam-se
combatentes temíveis.
A mulher Mukubal considera um estigma de fraqueza
ter poucos filhos, e têm portanto, tantos quantos o seu organismo lhes
permitir. Preservam desta forma a espécie, e o curioso é que se conservam
esbeltas apesar disso, até idades avançadas.
A nota destoante da plástica das Mukubais --
pelos padrões de beleza ocidentais
-- é que desde cedo forçam o
achatamento do peito, com tiras de couro amarradas ao tronco. Para os padrões
ocidentais, é uma verdadeira quebra da graciosidade e harmonia das formas
femininas.
O ritual mais importante deste povo, é a festa do
Boi Sagrado, por encarnar espíritos antepassados. Periodicamente dá uma volta
por todas as sanzalas de Mokubais, para que lhe formulem desejos.
OS MAYACAS:
É outro ramo do Grupo Ambó. Vivem nas margens do Rio
Kwango, e são regidos, dominados e tiranizados por um grupo de feiticeiros, conhecedores dos
segredos do sobrenatural. O grupo de feiticeiros é dividido em três classes: a
primeira é a dos Otchimbos, que têm parentesco próximo com os espíritos e são adivinhos;
a segunda é a dos Kangas, os únicos capazes de livrar um indivíduo de qualquer
feitiço ou maldição; por último, mas não menos importantes, vêm os Kimbandas,
que são os curandeiros.
Quando um feiticeiro consegue acumular todos estes
poderes, torna-se o chefe dos chefes. Os Otchimbos e os Kangas, vestem-se de
pele de onça, cobrindo a cabeça com a pele da cabeça de um leão; os Kimbandas usam roupas de fibras vegetais
desfiadas e coloridas, e tapam a cara com máscaras de madeira entalhada.
Periodicamente os Otchimbos comunicam-se com os
espíritos, a fim de, por eles aconselhados, melhor decidirem a vida das tribos.
Acontece assim: ao entardecer de um dia escolhido por todos os feiticeiros,
reúnem-se Otchimbos, Kangas e Kimbandas num local afastado e tido como sagrado.
O Otchimbo principal, nesse local e em transe, vai
espalhando os objetos místicos em cuja disposição está encerrada a mensagem,
que será por ele interpretada, após sair do transe.
As mensagens, invariavelmente exigem sacrifícios
animais e oferendas por parte do povo.
Nos assuntos de maior vulto --
ameaça de seca, falta de caça, epidemias
-- é praticado o ritual do veneno ou “Obilunga”, que consiste em descobrir
o culpado da catástrofe, entre vários suspeitos.
Os suspeitos são reunidos na clareira e
interrogados, não havendo confissão por parte de nenhum deles --
isto é, se nenhum deles tem consciência de que pode estar causando o
mal --
o Kimbanda prepara uma bebida para cada um deles, colocando em apenas
uma das bebidas uma dose de veneno fatal. Os
suspeitos escolhem as bebidas e tomam, ficando deste modo identificado e
castigado o culpado.
Deste povo, fala-se também de um ritual, Kindóki,
que era um sacrifício humano -- de um dos elementos da tribo --
cujas vísceras eram maceradas com ervas mágicas, e a pasta resultante,
esfregado nas juntas de um parente doente, para o livrar da doença.
É um povo hostil a visitas e visitantes!
OS BIENOS:
A data de fundação da tribo Bieno remonta ao Séc.VII. É um
povo criador de gado e não belicoso.
Foi fundada por Mwata Bié, um Humbe dissidente que
levou o séqüito e grande quantidade de gado, para a região hoje conhecida como
Bié. Teve como esposa principal, uma mulher de nome Cahanda, oriunda da terra
de Soungo, e cujo povo habitava na época a região de N’Jundo.
Bié e Cahanda tiveram grande prole que se espalhou
pela região, dando origem às tribos Kimbangala, Nheme e Kukema. Bié reinou por
cerca de dez anos, ao fim dos quais foi assassinado por um sobrinho --
N’Gongo Hamulanda -- que em seguida assumiu o trono. N’Gongo
Hamulanda casou-se então com Cahenda, que lhe deu dois filhos: Ulunda e Kibaba.
O sucessor de N’Gongo foi Ulunda, que ampliou os
domínios dos Bienos expulsando os Ganguela-Nhemba para a região entre a Kukema
e o Kuanza. Nessa expanção foram absorvendo outras tribos Ganguela de menor
expressão.
Ulunda foi um chefe de grande prestígio, mas teve
morte prematura, assassinado pelo irmão Kibaba, que assumiu o trono Bieno.
Kibaba reinou com tanta crueldade e devassidão, que
foi deposto e executado pelo povo.
O povo escolheu entã para suceder Kibaba, o primeiro
filho de Ulundo, N’Dalo.
N’Dalo era muito novo quando assumiu o trono e tinha
por isso um tutor da mesma linha uterina, e de nome Anhambué.
O primogênito de Enhambué, ganancioso, envenenou o
pai e o jovam N”Dalo, mas o povo Bieno, mais uma vez mostrando não compactuar
com a crueldade, executou-o, e como castigo não deixou nenhum dos seus
descendentes assumir o poder; quem subiu ao trono governante foi N’Guilla-Mull,
irmão de Enhambué.
N’Guila Hull, o oitavo soba do povo Bieno, era igualmente cruel, tendo
como principal produto de comércio,
crianças da própria tribo; Silva Porto, no seu diário de viagens a África,
cita-o como grande apreciador de festivais de canibalismo.
Foi no entanto um bom administrador, político e
comandante militar. Fez alianças políticas com outras tribos Ganguelas, para
alargar mais as influências do seu Império, desenvolveu, armou e organizou
militarmente as forças guerreiras sob o seu domínio, mandou construir o Forte
da Kibaka.
Reinou como um verdadeiro senhor feudal, a quem os
súditos das tribos limítrofes eram obrigados a pagar pesados tributos de
vassalagem. Com isto, fortaleceu enormemente a economia do reino.
Morreu bem avançado na idade, no auge político,
econômico e militar do reino Bieno.
Depois dele, com os sucessores N’Kakwen e
N’assojaba, os Bienos entraram numa fase de decadência total, até que, por
volta de 1830 estavam reduzidos ao sobado, comandado pelo soba M’Bandwa, que se
submeteu sem oposição ne luta, ao colonizador Português.
OS BAILUNDOS:
A Lenda da formação do povo Bailundo, confunde-se um
pouco com a de Adão e Eva, acreditando-se portanto que sem dúvida foi
influenciada pelo clero.
Diz que o primeiro casal, Féty – o Princípio – e
Tamoya – a Perfeição – depois de muito vagarem pelo mundo, escolheram para
viver, a confluência dos rios Kunene e Kunungânua, na área do Kuima.
Tiveram três filhos: Kalangue, Sambo e Bailundo, que
deram origem aos povos do Huambo, e duas filhas, Bié e Kuima, das quais se
originaram os povos das regiões do mesmo nome.
Os fatos históricos, se bem que confusos e
apresentados de maneira diferente por diversos Historiadores e Etnólogos, são
um pouco menos poéticos, porém mais precisos.
Cerca do ano de 160, depois da epopéia do
Massangano, um grande grupo de Jagas, receando represálias dos colonizadores
Portugueses por terem enfileirado ao lado da Rainha N’Zinga M’Bandi e dos
Holandeses, contra a presença de Portugal em Angola, migrou para o Sul.
A numerosa caravana era chefiada por quatro valorosos guerreiros, autênticos potentados:
Huambo, Chibamba, Sambo e Katiavala.
Após meses de viagem, se instalaram da seguinte
maneira: Katiavala no Bongo, e os restantes na área do Katepe, onde Huambo se
fez proclamar Soba e senhor absoluto do povo.
Mais tarde katiavala entrou em guerra com Huambo,
por inveja do prestígio deste junto do seu povo, escorraçou-os e tomou a
sucessão de Huambo, tomando desde então o nome de Bailundo Tatuado.
Huambo fugiu para a Kaála, onde definitivamente se
fixou, Chibamba foi para o Kingenge, ali fundando o sobado da Tchiaka e adotou
o nome de Tchilulo, e Sambo foi para o Kamdumbo, onde passou a ocupar a terra a
que deu o nome. São guerreiros por índole, e segundo eles crêem, por predestinação.
Apesar de todo o atavismo belicoso, é um povo que se
deixa explorar pelos sobas, que os subjugam com impostos extorsivos, os
Otchivanda ou Ulambo.
Até relativamente pouco tempo atrás, entre os
Bailundos, a doença terminal de um soba, era uma sucessão de acontecimentos
bizarros.
Quando o Soba adoecia, reuniam-se os mais hábeis
feiticeiros e Kimbandas de maior fama,
para diagnosticar e combater a doença do chefe.
Como medida paliativa inicial, eram afastadas todas
as mulheres do convívio com o doente porque, elas são tentadoras e
afrodisíacas, itens dispensáveis a um
homem debilitado por doença.
Depois de feitas todas as diligências curativas, se
o Soba continuasse a não dar mostras de melhoras, eram afastados todos os
Kimbandas e feiticeiros, com exceção do Kimbanda assistente do Soba, e de três
secúlos -- Velhos.
Estes esperavam ainda um tempo, ao fim do qual, se o
estado de prostração permanecesse, não o deixavam morrer de morte natural, pois
para os Bailundos, a morte natural não é digna.
Enforcavam-no no teto da cubata, no maior segredo,
conservando sempre uma pele de antílope na
fechando a porta, e iam preparando o povo para o pior.
Continuavam visitando a cubata do chefe durante um
tempo, simulando assim que ele ainda estava vivo, muito embora, a cada visita a
perspectiva fosse mais negativa.
Quando finalmente a cabeça se separasse do corpo,
pela deterioração dos tecidos, o Soba era dado como morto. Essa massa
decomposta, era então embrulhada e amarrada em tecidos de fibras vegetais e
ervas diversas. Depois das cerimônias de despedida e encomenda da alma, tinha
lugar o óbito, e depois, junto à sepultura, uma sessão espírita que tinha como
intuito descobrir o causador da morte.
Esse ritual acontecia com o corpo do soba suspenso
de um galho de árvore, e dois guerreiros balançando-o ritmicamente, enquanto
perguntavam ao espírito quem era o culpado pela morte do corpo; iam neste
entretanto, mensionando o nome de todos os componentes da tribo, primeiro dos
parentes, e depois das outras pessoas. Quando, à menção de um nome, o corpo
balançasse de maneira diferente, ou mais acentuada, estava descoberto o
culpado.
O culpado teria que contribuir com uma série de
animais que eram sacrificados, e cujo sangue era derramado no chão, para ser
absorvido pela terra e assim servir de alimento aos espíritos.
A cabeça separada do corpo, era enterrada pela
família, em lugar escolhido e de difícil acesso, para que jamais pudesse servir
de troféu para ninguém; acontecer isso, seria a desgraça para toda a tribo.
O novo soba era escolhido pelos secúlos, respeitando
os laços uterinos, e depois disso ia pessoalmente apagar todas as fogueiras
existentes, e acender uma nova na Embala.
Esta fogueira devia ser bastante viva e crepitante,
pois o seu tempo de duração era prelúdio do tempo de duração do governo do novo
chefe.
Só depois disso vinham os rituais de proteção ao
soba recém empossado, bem como os festejos concernentes -- batuques, caçadas e eventualmente uma
incursão guerreira.
Até às décadas de quarenta e cinqüenta, um soba só
era considerado realmente chefe, na verdadeira acepção da palavra, após
promover uma guerra.
POVO HUMBUNDO:
Entre os costumes Humbundo, um dos mais complexos e
detalhados, é o ritual da morte e a despedida e encomenda do espírito.
Manda a ética que, quando morre algum membro da
tribo, se é encontrado por alguém que não seja parente próximo, a notícia seja
dada ao mais próximo dos parentes, à hora de melhor disposição, que é a da
refeição.
Segue-se à notícia uma cena alucinante, pois mandam
os mesmos preceitos éticos que o notificado, em demonstração de dor pública,
exagere nas demonstrações de inconformismo.
Um mensageiro vai depois avisar todos os parentes, para
que se reúnam na cubata do defunto tão cedo quanto possível, para dar início às
cerimônias rituais de despedida do espírito.
Nesse meio tempo, as mulheres vão preparando a
Kissângwa - bebida obtida com um
fermentado de milho ou massambala – que animará os vivos na vigília ao morto.
Depois da chegada do último parente, reúnem-se em
duas cubatas, homens numa e mulheres na outra, ficando na cubata em que está o
morto, os do mesmo sexo.
Durante a noite inteira são entoados cânticos de
despedida, que acompanham e alegram a subida do espírito, entremeados por
histórias vividas pelo defunto, contadas pelos membros da tribo, à medida que
delas se forem lembrando. Os animais que caçou, os bichos que teve, as viagens
que efetuou, atitudes em que tenha se destacado.
De madrugada tem início o óbito propriamente dito. O
Onganga entoa um cântico fúnebre acompanhado pelo som dos batuques em tom
contínuo e baixo, e pelo coro dos presentes, num gemido muito baixo, como que
longínquo. Após as rezas de encomenda, o corpo enrolado em esteiras, em
cortejo, é levado ao local de sepultamento.
No dia seguinte, todos os parentes em luto fechado,
vão visitar de novo a campa, levando cada um, um objeto de uso pessoal do
morto, para que, caso este, em espírito, sinta necessidade de voltar a usar um
dos objetos, não necessite voltar à sanzala. Os objetos estarão em volta e
sobre a campa.
O ritual torna-se por vezes bastante demorado, pois
alguns parentes podem morar em Kimbos bastante afastados, acontecendo nesses casos
e vigília, com o corpo em adiantado estado de decomposição.
Nem estado deteriorado do corpo, nem o mau cheiro
inerente, alteram a urgência do ritual; o importante é estarem todos os
parentes reunidos, a fim de melhor evidenciar o vácuo que o morto deixa com o
seu desaparecimento.
Entre os Hanhas, povo da família Umbundo, ao
nascimento de uma criança, segue-se um ritual pouco comum.
A parturiente fica de joelhos, sentada sobre os
calcanhares, e com a coxas bem separadas, mantidas nessa posição por uma mulher
que a assiste, até que a criança nasça por si só, caindo num ninho forrado com
capim e folhas macias.
Em seguida a criança é lavada, e vem então uma
velha, para purificar mãe e filho.
Essa velha, com uma faca bem afiada, faz em torno do
sexo da mãe, uma série de pequenos golpes, com cujo sangue fricciona a testa,
pescoço e umbigo de mãe e filho.
Só após a purificação é permitida a entrada do pai
na cubata, para ver a criança. No dia
seguinte, o pai pega numa panela de barro onde tenha sido colocada a placenta e
vai enterra-la no mato, perto de uma grande árvore, pois acredita que assim o
filho poderá adquirir as qualidades da árvore:
robustez , imponência e longevidade.
Quando o parto é difìcil, uma velha prepara uma
beberragem de ervas, com a qual lava o sexo do pai, dando em seguida o
líquido a beber à mãe ; é uma poção que provoca o vômito, cujas
contrações acabam ajudando a expulsão do bêbê.
KIMBUNDOS:
Um dos aspectos extremamente interessantes e
louváveis entre os Kimbundos, é a
solidez da estrutura familiar. Não há qualquer espírito de oposição de idéias
no seio de uma família, que possa abalar essa estrutura.
A educação, proteção e cuidados diversos, ficam ao
encargo do pai; alimentação aos cuidados da mãe.
Os sogros são, no entender dos Kimbundos, os maiores
responsáveis pelos atritos domésticos, de maneira que, resolvem o problema
cortando por completo o relacionamento logo após o casamento.
Se por um acaso se encontrarem, afastam-se sem
sequer se comprimentarem ou olharem; os cunhados de sexo diferente podem
ver-se, mas devem evitar conversar.
Não é no entanto interditado a um pai ou uma mãe,
falar com o filho ou filha casados, mas devem avisar com antecedência, para que
genro ou nora possam afastar-se durante a visita.
Tal costume
não significa que haja ódios de parte a parte, ao contrário; se acontecer um
genro ou uma nora terem que falar com sogro ou sogra, ou vice versa, fazem-no
com respeito e mostrando respeito e amizade; simplesmente evitam de forma
radical o contato gratuito.
O adultério no homem é comum; consideram que a
grande capacidade que o homem tem para gerar filhos, em contraposição à mulher,
que apenas pode ter um filho por ano, ou duas gestações a cada três anos, o
determina a ter quantas mulheres puder.
A infidelidade feminina, se bem que não restringida
de forma rígida, não é bem encarada; o que quer dizer que, acontecendo, não vai
causar grandes alterações na paz familiar.
A
esterilidade ou qualquer outro tipo de descontentamento de um dos cônjuges, pode levar à separação, que é simples e
amigável.
No caso da separação ser pretendida pela mulher, a
única cláusula inapelável, é a restituição dos bens oferecidos pelo marido, no
lembamento. Sempre em harmonia e sem qualquer animosidade.
Só há uma altura da vida, em que mulher nenhuma
pensa em ser infiel, que pe durante a gravidez, por acreditarem que a
prevaricação pode resultar em morte no parto.
Outro sentimento elevado neste povo, é a amizade.
Todo o homem escolhe em certa altura da puberdade, um dileto amigo, e a
dedicação mútua a esta amizade é inabalável, e para toda a vida. Pode um
Kimbundo separar-se da mulher ou até renegar os filhos, mas nunca, em
circunstância alguma o faria com um amigo.
OS GINGAS:
Os Gingas, tendo sido a tribo base dos N’Gola, foram
um povo rebelde e guerreiro até meados do século XVI.
Chefiados por N’Zinga M’Bandi – a Rainha Ginga -
enfrentaram o colonizador Português em várias batalhas famosas e
sangrentas, culminando com a Epopéia do Massangano, em que se aliaram aos
Holandeses, contra a ocupação de Portugal em Angola.
Povo de compleição atlética, guerreiros convictos,
nem mesmo depois de derrotados deixaram de praticar os exercícios de guerra e
adestramento com armas, na esperança de
voltar a ter um chefe da índole da Rainha Ginga, que os levasse de novo a ser o
potentado de outrora.
Para isso precisavam de homens que viessem a ser
combatentes, e não de mulheres.
Instituíram então uma Lei, que expulsava da tribo
como imprestável, qualquer mulher que tivesse mais de duas filhas seguidas.
A única autoridade por eles reconhecida, política e
judicialmente, era o Soba.
Quando um Soba morria, e até que um outro assumisse
o poder e o destino do povo, praticavam-se no interregno os maiores crimes e
roubos, na certeza da impunidade.
A partir de 1680, os remanescentes, tornaram-se
agricultores e comerciantes; iam a Malange trocar e vender o produto das suas
lavras.
Uma parte deles, os
mais inconformados com o fim do potentado, acabaram migrando para outras
regiões, onde acabaram fundando novos potentados.
OS LUNDAS:
Entre os Lundas, ao contrário da maioria dos povos
de Angola, o nascimento de gêmeos é altamente festejado, pois considera-se tal
acontecimento, indício de bom presságio.
É fundamental a mais completa imparcialidade, da
parte dos familiares, no tratamento para com irmão monozigotos.
Se acontece um deles ter de ser castigado, o outro
também é; o que se oferece a um se oferece ao outro, a comida é repartida igual
para os dois gêmeos – Anapaza – e até, se por acaso um deles estiver fora do
Mussôco, nem por isso deixa de ter o seu lugar à refeição dos pais e irmãos, e
de lhe ser servida a sua porção de alimento.
O que estiver viajando, também se servirá em porção
dupla.
Mas só nos apercebemos do conceito real em que a
maioria tem os gêmeos, quando um deles morre. A morte de um gêmeo é, no ponto
de vista de um Lunda, um mal irreparável, acontecimento trágico chorado como
nenhum outro, dor que nunca chega a ter resignação.
Depois de inúmeras cerimônias fúnebres e rituais
feiticistas, a mãe do morto encomenda ao entalhador – Songui – o retrato –
Capéria – ou sombra – Tchitchukié – do filho. Essa sombra, a mãe transportará
para sempre, debaixo do braço esquerdo, até o gêmeo sobrevivente ser
considerado homem.
Depois dele terminar o ritual da circuncisão, a
responsabilidade pela figura do morto, passa a ser por conta do irmão.
Ele tem o dever de se fazer acompanhar sempre por
esta recordação e trata-la com o maior zelo, contar-lhe das experiências da
vida e venera-lo como espírito; nunca acreditam completamente na morte de um
ente tão querido.
Um gêmeo a quem tenha morrido o irmão, deverá sempre
seguir os pressentimentos que lhe ocorram, pois são tomados como avisos do
irmão que, no Éden, goza da companhia de
seres omniscientes.
POVO GANGUELA:
No Alto
Zambeze vivem os Luenas, tribo que pertence ao grupo lingüístico dos
Ganguelas. O nome vem do Rio Luena, afluente do Zambeze, e a região por eles
ocupada é de grande abundância alimentar.
No solo, fertilizado pelas cheias periódicas do
Zambeze, aparecem espontaneamente variadas árvores frutíferas e magníficas
pastagens, a que imensas manadas dos mais variados antílopes não resistem;
aparece também uma erva rica em látex.
É também neste solo, que aparecem os
peixes-que-nascem-como-o-arroz; determinada espécie de peixes – Mukussos – que
desovam na cheia do rio, e cujos ovos se mantêm debaixo da terra até à cheia
seguinte.
Esses pequenos peixes, depois de secos, são muito
apreciados não só pelos Luenas, mas também pelos povos vizinhos, e assim,
representam uma das fontes de comércio Luena; principalmente com os Tchokué.
O Rio lhes oferece uma grande variedade de peixes,
além das lontras, de que aproveitam a carne e o couro.
Com o privilégio de terem a caça, a pesca e a
agricultura ao máximo facilitados, vivem despreocupadamente. É um povo alegre e
cordato, não belicoso.
Dividem o tempo livre, que é muito, entre cantos,
danças, sexo, e o consumo de “Liamba” – Maconha/Cannabis – a que eles dão o
nome de capim de N’Zambi.
As cubatas são amplas, de forma quadrangular,
brancas e decoradas por fora com pinturas que representam de uma maneira geram,
cenas amorosas.
Vivem muito para o amor e prazeres carnais, de tal
maneira que os Tchokué chamam as doenças venéreas de “Mal Luena”. É a única
tribo em Angola onde se pratica a poliandria.
Outra característica bem marcantes deste povo, é a
maneira franca com que recebem um visitante; ou melhor a naturalidade com que
encaram a hospitalidade um dever.
Mal o viajante chega à aldeia, dirige-se para a
Tchiota – cabana sem paredes onde se reúnem os homens.
Caso ele chegue à Tchiota à hora da refeição,
serve-se e come sem que ninguém precise de o convidar, e sem que ele precise de
agradecer. Após a refeição, e pelos dias que se seguirem, ele vai dizer quem é,
de onde vem, para onde vai, quem encontrou no caminho, essas pessoas de onde
vinham e para onde iam, e quem encontraram, etc...depois do relatório é a vez
dos habitantes da aldeia lhe contarem quem passou por lá, de onde vinha e para
onde...
Com isso, mantêm um sistema de informação bem
atualizado.
O visitante pode dormir do lado da fogueira, na
Tchiota, ou numa cabana ocupada por uma mulher, casada ou não, que esteja livre
no momento.
Quando vai embora, limita-se a despedir-se do Soba,
sem que deva agradecimentos a ninguém.
Perto de Mukonda – antiga Nova Chaves – vive o povo
Muxico, também do grupo Ganguela.
O foco central deste povo é o Soba, em volta do qual
giram todos os poderes, do político ao espiritual. Os Sobas, depois de mortos
eram enterrados em locais acessíveis, para que não houvesse dificuldade para
venere-los, como em vida. Os túmulos eram em forma de túnel, e o Soba sepultado
era colocado sentado, na mesma posição em que usava ficar em vida.
Era costume, até há poucas décadas atrás, sepultar
os Sobas com duas mulheres, ou duas crianças; uma para lhe tratar dos cachimbos
e a outra para lhos acender.
Junto do túmulo era construída uma cubata, que o
espírito poderia ocupar sempre que sentisse
saudades da vida terrena.
Os Muxicos sempre tiveram especial consideração
pelos artistas, músicos, escultores. São um povo de habilidades e aptidão
reconhecidas no manejo dos instrumentos musicais, em especial no manejo do
Kanguxi, espécie de violino de três cordas, tangido por um arco tratado a
resina. Os sons do Kanguxi, acompanham de forma melodiosa todos os cerimoniais,
com exceção do início de uma guerra.
Os preparativos de uma guerra, são acompanhados pelo
som nervoso da Mukupiela, tambor curto e revestido de couro dos dois lados.
Os escultores, acreditava-se que tivessem recebido
os seus dons diretamente de N’Zambi. Perfeitos nos trabalhos de madeira, eram
prolixos na produção de estátuas, estatuetas, máscaras entalhadas, bastões,
cadeiras de Soba etc...
Embora fosse distinguida a classe dos artistas, todo
o povo Muxico, em maior ou menor grau, tem a vocação artística; todos tiram os
seus acordes dos instrumentos musicais, ou de uma forma ou de outra trabalham e
esculpem a madeira, ainda que apenas nas partes internas em madeira, das
habitações. As cubatas do povo Muxico, são todas elas verdadeiras galerias de
arte, com entalhados dignos de um museu.
Entre os Luy, outro ramo do grupo ganguela, era
bárbaro o funeral de um Soba.
O Soba, ddepois de morto e de ter passado todos os
rituais fúnebres, era colocado na cova em que seria sepultado, junto com todas
as pessoas que lhe tivessem sido chegadas em vida.
O sucessor, era investido imediatamente após a morte
do chefe, por um dos secúlos do conselho de velhos, que o ungia com a ponta de
uma lança, numa investidura muito semelhante à dos cavaleiros na Europa
medieval.
Terminada a cerimônia do sepultamento do Soba e
respectivos acompanhantes, o novo chefe retirava com todo o povo para um novo
local escolhido para Kimbo, ficando o antigo local para veneração, onde os
velhos em determinadas épocas iam em peregrinação.
OS KIKONGO:
Para o povo Muxito, da família Kikongo, a morte de um Soba
era acompanhada de uma série de outras mortes, voluntárias , ou pelo menos
encaradas com resignação estóica, de pessoas que deveriam acompanha-lo, para
que no além túmulo ele pudesse continuar a gozar de determinados privilégios.
Pela tradição morriam também a mulher mais nova, o
conselheiro mais velho e o mais diligente dos serviçais.
Caso o Soba, na agonia da morte, determinasse que
queria outros acompanhantes além destes três, a sua vontade seria cumprida sem
qualquer contestação.
Este costume tradicional, foi dos que as autoridades
coloniais mais tiveram dificuldade em combater, pois apesar da vigilância
exercida, durante muitos anos a morte do Soba continuou mantendo todos os
preceitos tradicionais. Escondiam-se nos lugares mais inacessíveis, para levar
o ritual a efeito.
Dos últimos casos em que se teve conhecimento
oficial dessa prática, foi no ano de 1926, quando da morte do Soba Mazeze.
Nesse ano, marcharam o Soba Mazeze e respetiva
comitiva, para o Posto do Lucano, em visita cordial.
Nesse entretanto, deslocou-se ao Sobado, um sobrinho
de Mazeze, Sobeta em território Congolês, que por sua vez ia visitar o tio.
Como não o encontrasse, resolveu ir ele também ao Lucano, para lá cumprimentar
o Patriarca.
As duas comitivas encontraram-se no caminho, estando
já Mazeze de volta, e todos pararam para celebrar. A celebração demorou vários
dias, em que foram consumidas expressivas quantidades de cabaças de Marufo (
fermentado de seiva de palmeira ), tanto pelos chefes, como pelos acompanhantes.
Dada por finda a celebração, voltaram as diuas
comitivas ao Sobado, onde Mazeze chegou já bastante doente.
A despeito de todas as tentativas de cura por parte
dos Tchimbandas, poucos dias depois o chefe morreu.
A autoridade colonial do Lucano, tendo tido
conhecimento dessa morte, e sabedora dos costumes tribais, logo rumou para o
Sobado, junto com um pequeno destacamento de
Cipaios e Capitas ( forças militarizadas constituídas por
homens de outras tribos, de apoio às administrações coloniais portuguesas ),
numa tentativa de evitar o morticínio.
Mas o destacamento chegou tarde, várias pessoas já
haviam morrido em conseqüência do ritual. Mas as autoridades não conseguiram
apurar nada de concreto, pois o povo interrogado, limitava-se a responder que
os personagens extras, tinham morrido por haverem tomado o mesmo líquido que o
Soba, e não por qualquer outra razão.
Como se disse acima, este costume foi dos mais
difíceis de combater pelos colonizadores, e nada garante que esteja
completamente erradicado, que ainda hoje não se pratique nos mais recondidos e
inacessíveis lugares do mato, com a anuência de todos.
0S CABINDAS:
É o nome dado aos povos que habitam a região do Enclave de Cabinda, no Norte de Angola, e que abrange as tribos Bakongo, Bavoio, Bassundi, Balinke, Bavili, Ahoki e Mayombe, os antigos reinos do N’Goio, Kakongo e Loango.
O primeiro Soba foi chamado de
Ma-Yombe; Ma significa terra, e Yombe significa longe, numa alusão a terem
vindo de terras distantes, em movimento migratório.
A religião dos povos do
Enclave de Cabinda, difere em vários pontos da religião de outros povos de
origem Bantu, com figuras mitológicas de funções específicas.
Os
últimos KöiSan
Poucos anos atrás, o Mundo
maravilhou-se com um filme alegre, movimentado e hilariante, que fugia ao
padrão pasteurizado das comédias Hollyhoodianas.
Estou falando de Os Deuses
devem estar loucos, em que a figura de maior destaque do filme, passado no
Deserto do Kalaári/Namíbia( nome Hotentote para terra sem gente), era um
Bosquímano.
Para a grande maioria do público
que assistiu ao filme, foi certamente a primeira vez que tomou contato com essa
etnia Africana, com características antropológicas próprias, adaptadas à vida
no deserto, porém descendentes remotos de caucasianos.
É um povo nômade, que vive da
caça e colheita, como viviam os seres humanos do período paleolítico da
História
Em início do Séc.XXI, e apesar
dos contatos que têm com as tribos negras de agricultores e artesãos, mantêm um
sistema de vida tribal idêntico à época Neandertal – 130.000 a 40.000 anos
atrás -- com todo o respeito ao meio ambiente que os cerca.
Ignoram o sentido de propriedade
privada, tudo o que caçam e colhem pertence ao grupo familiar, que também não
descrimina sexos, nem tem um chefe ou líder rígido. As decisões são tomadas
pelo grupo e é seguida a vontade da maioria; o patriarca tem apenas o voto de
Minerva, em casos de empate ou grandes indecisões.
Como características antropológicas
de adaptação à vida no deserto, têm os olhos amendoados, oblongados, como das
pessoas orientais, em proteção à luminosidade, têm pernas desproporcionalmente
longas em relação ao tronco, o que os ajuda nas caminhadas nômades. Os pés são
também desproporcionais, grandes e largos, evitando que afundem nas areias mais
soltas, e têm, principalmente as mulheres, uma lordose lombar, devido às
nádegas grandes, verdadeiros depósitos de gordura, uma reserva natural para
épocas difíceis.
Uma outra característica curiosa
deste povo, é o dialeto, com um linguajar ponteado de estalidos – cliques – de
língua.
Espremidos no deserto, pelos Bantus ao Norte e pelos Boers
ao Sul, aprenderam a sobreviver à carência de água, extraindo-a de tubérculos
que só eles sabem como e onde encontrar,
e colhendo gotas de orvalho das folhas e em reentrâncias das pedras.
A água que captam e não consomem,
guardam-na em ovos de avestruz, enterrados no deserto, sem qualquer referência,
mas que eles encontram na primeira tentativa, mesmo depois de meses ou anos sem
passar pelo local.
Têm métodos curiosos e inteligentes, para resolver as suas
necessidades; por exemplo se por um acaso não conseguem água pelos meios comuns
e tradicionais, capturam um macaco novo ( macaco velho não mete mão em
cumbuca), colocando alguns grãos num buraco onde só caiba a mão do símio
alongada, e tendo a certeza de que estão sendo observados. Capturado,
alimentam-no à vontade com comida salgada durante um dia e uma noite, após o
que o soltam, e vão atrás. Os macacos são os únicos animais do deserto que
conhecem as reservas e poços subterrâneos escondidos entre as pedras, depois é
só soltar o macaco e segui-lo.
Vivem em grupos familiares
pequenos, entre dez e quinze pessoas,
incluindo as crianças, mas são
amistosos, e os grupos visitam-se e frequentam-se.
RELIGIÃO E DEUSES
1 – Kuiti-Kuiti: Filho de um deus, já nasceu
velho e com os poderes do pai, em M’Boma Uala Lisongo.
Tem quatro irmãos: N’Kunda, M’Baki, N’Randa e
M’Boze. Casou com M’Boze, de quem teve um casal de filhos, M’Zore e N’Kanga.
M’Boze cometeu incesto com N’Kanga, que concebeu e nasceram gêmeos.
2 – M’Boze: Irmã e mulher de Kuiti-Kuiti, que
foi abandonada por ele após ter parido gêmeos, fruto da ligação incestuosa como
filho N’Kanga, tornou-se uma figura amarga, e é a entidade das pragas e
maldições.
3 – Lusunzi: Filha de Né-Binda Né-M’Boma e de
M’boze. Casou com o irmão N’Kanga. É a entidade que regula os atos da vida
social e moral; proíbe relações com uma moça que não tenha passado pela Kualama
– iniciação - proíbe à mulher ter relações
e cozinhar para o marido enquanto menstruada, proíbe relações e casamentos
entre consangüíneos.
4 – N’Kanga: Filho de Kuity-Kuitu e de
M’Boze, casado com Luzunzi, preside todas as ceromônias e governa
espiritualmente as terras de Kingagaca, N’Goio e Kankatu.
5 – M’Vemba: Filha de Né M’Binda Né M’Boma e
de M’Boze, é a entidade invocada nas grandes calamidades. Tem poder de sustar
as grandes forças da natureza quando em ação, o de fazer reverter os resultados
dessa ação violenta.
6 – Lunga: Também filha de Né M’Binda Né
M’Boma e de M’Boze, habita as florestas das margens e da foz dos rios. É a
deusa ecológica e invocada para a salvação dos rios e florestas.
7 – M’Bunzi ou M’Bungi: Filha de N’Kanga e
N’Boze, é e deusa ou entidade da desarmonia, desentendimento, intriga e
traição. É uma deusa invocada especialmente nas terras de M’Puto Kinzaze e da
Matamba.
8 – M’Pangi: Filha de Luzunzi, habita a Baía
de Cabinda, numa pedra encostada no morro do Porto Rico. É um espírito mau,
vingativo, evocado para as vinganças e para fazer o mal.
9 – N’Kunda M’Baki N’Randa: Irmão de
Kuity-Kuity, é casado com N’Sanda Kunda. É o deus da chuva e das tempestades. É
um deus com cauda, e quando evocado aponta a cauda para o céu, e a chuva passa
a cair na quantidade e pelo tempo que ele quizer; caso seja excessiva, basta
que aponte a cauda para o chão, para a chuva parar de cair.
10 – Makunku: Filho de Luzunzi, é o deus das
preocupações. O seu principal poder é sobre os movimentos do sol. Qualquer
trabalho iniciado por ele tem que terminar antes do pôr do sol; se tiver que
demorar um pouco mais, ele manda o sol parar, ou até recuar um pouco, até que o
trabalho esteja terminado. É um deus que viaja muito, pois consegue em
instantes ir de um lugar para outro, para assistir e aliviar todas as
preocupações do povo.
DEUSES MENORES OU DE SEGUNDA ORDEM
São todos filhos adotivos de Lusunzi.
1 – Wela-ke-Luzunzi: É a entidade que protege
os pobres e os tristes
2 – Kinkinda e Kilili: São as entidades
protetoras dos grãos de milho, da mandioca e das farinhas que deles resultam.
3 – Kimpunkulo e Kinzunda: São as entidades
protetoras da agricultura.
4 – M’Baki, Lukola-Limpangi, Mundala-Mipangi e
Luki-a-Limpangi: São as entidades que protegem os riachos, onde habitam,
junto com toda a fauna e flora desses lugares.
MITOLOGIA DO CLÃ BAKONGO
1 – N’Zambi: É o ente supremo e bom, que tem
o poder criador. Chamam-lhe também de Tata ou Tata-Itu – Pai ou Pai Nosso.
2 – Bakisi ou N’Kisi: São seres sobrehumanos
que protegem o homem. Bakasi Basi são os espíritos da terra; N’Kisi N’Si são os
espíritos do poder. Usam outros espíritos nas suas tarefas, e são de uma
maneira geral bons, mas se for necessário, podem também fazer o mal.
3 – Zindundu: São espíritos de albinos,
monstruosos e incapazes de procriar. São temidos por todos os espíritos do mal,
muito embora não esteja muito bem definido que tipo de poder eles têm, nem como o exercem. Os albinos, em vida
também são temidos a ponto de, nos mercados os deixarem pegar o que quiserem,
sem terrem que pagar por nada.
4 – Basima: São os espíritos dos gêmeos; são
bons e respeitados. Em vida os gêmeos também são respeitados como seres
especiais; deles sempre se espera atitudes boas e generosas, e se por um acaso
tomam uma atitude que não o seja, considera-se que houve forte razão para isso,
ou que a atitude não foi bem interpretada.
5 – Kilombos: São os espíritos que entram nos
cérebros, os intrepretam e influenciam.
6 – Vimbu: São espíritos maus, de pessoas que
morreram inchadas, com chagas, doenças de pele e irritações.
Os Cabindas são um povo sadio, forte e amigável. A
situação geográfica de Cabinda, tendo de um lado o mar rico em peixe, e do
outro a hostil e quase impenetrável Floresta do Mayombe, contribuiu para que os
homens deste povo se dediquem quase exclusivamente ao mar; o povo Cabinda é um
povo de pescadores. Na pesca, utilizam para enfrentar o mar, estreitas pirogas,
por eles construídas, de modo a serem resistentes à batida das ondas e melhor
cortarem as águas.
A pesca é um trabalho árduo e perigoso, que é da
exclusiva responsabilidade dos homens; às mulheres cabem as tarefas ligadas à
agricultura e os trabalhos domésticos.
O homem Cabinda, sendo alegre e despreocupado,
quando regressa das incursões piscatórias entrega-se a dias de ociosidade,
ficando em terra até que se tenha consumido o produto de tão arriscada tarefa.
Em Cabinda, tal como é freqüente nos povos de
angola, o número de mulheres supera o dos homens, o que lá se torna um fenômeno
de conseqüências adversas. Deve-se essa adversidade, ao fato de ser em cabinda,
bastante irregular a poligamia, fica difícil para as mulheres arranjar um
marido.
Começa deste modo, uma série de costumes e
acontecimentos exclusivos deste povo.
Os homens, sabendo-se em menor número, e com uma
noção acurada das leis de oferta e demanda do mercado, e em conseqüência alvos
de cobiça, não vêem razão para fazer gastos com Lembamento. Mas como a
ceromônia só pode realizar-se dentro desta base, são as próprias mulheres que
fazem as economia necessárias, para isso se prostituindo inclusive, e sem que
isso as desprestigie, ou que por isso venham a ser menosprezadas pelo futuro
esposo.
As moças, após saírem da “Casa da Tinta” , escola onde na época da
puberdade e primeira menstruação, se aperfeiçoam nos conhecimentos de
agricultura, maternos, concubinas etc...são apresentadas pelos familiares,
embelezadas por um pó – Talulo – que lhes dá um tom avermelhado, ao mesmo tempo
em que a família anuncia ter uma moça pronta para casar.
Não aparecendo nenhum candidato disposto a dar o
lembamento estipulado, a moça é liberada para ir trabalhar; com economias fica
mais fácil casar-se.
As questões de separação são complicadas, pois a
mulher não aceita facilmente o divórcio; tornam-se em geral quezilas de
tribunal, resolvidas pelo Soba e Conselho dos Velhos – cuja decisão é
irrecorrível – à sombra de uma Mulemba – Muanza Kilua – que quer dizer “Sombra
da Verdade”.
As sessões Jurídicas têm início quando o Soba manda
soar o Mussaco, tambor só usado nessa
ceromônia.
Entre os Cabindas há também dois costumes que são
exclusivos desse povo, que são o Licoêze e o Moela.
O Licoêze consiste na restituição dos bens
oferecidos como lembamento, à família da mulher, caso ela morra. Apesar de,
entre os Cabindas serem as mulheres a
economizar para o Lembamento, se a mulher morre, a família dela se obriga a
devolver os bens recebidos.
Quando é o homem a morrer, a família dele presta a
ela a homenagem da Moela, que consiste na libertação imediata dela, para
refazer a vida, caso não tenham filhos menores e a oportunidade surja.
Caso tenha filhos menores, deve observar um período
de luto, ao fim do qual, caso queira casar de novo, deve abdicar dos filhos em
favor da família do marido. O curioso é
que, apesar deste puritanismo aparente, a jovem viúva, para sustentar os
filhos, pode enveredar pela prostituição, sem que isso a desmereça aos olhos
seja de quem for. Devo acrescentar que, a prostituição no contexto em que é
apresentado neste apontamento, é um costume relativamente recente, bem
posterior ao advento da colonização.
Entre o povo Cabinda, o tira-teima dos feiticeiros e
adivinhos, quando alguém é apontado como culpado de alguma coisa e nega, toma
uma característica ligeiramente diferente.
Tem o nome de “Sanga”, e é o ritual da faca quente.
Os suspeitos ficam em lugar de destaque na roda de
povo em volta do feiticeiro que, após monopolizar a atenção e criar a atmosfera
de temor e desconforto, inicia o ritual.
Faz uma cova no chão, onde coloca e tapa uma pedra
mágica, fazendo em cima uma fogueira, onde coloca esquentando, a faca
justiceira.
Após preces ora gritadas, ora murmuradas, desenha
usando Pemba ou Cinza umedecidas, um círculo
branco abaixo do joelho de cada um dos suspeitos.
Nesses círculos, será encostada a faca quente, e a
pele que intumescer denunciando queimadura, aponta o culpado.
OS MAYOMBES:
É um dos povos mais interessantes e curiosos de todo o
território Angolano.
Pigmeus fortes e atarracados, extremamente corajosos
e arrojados na caça – enfrentam elefantes com lanças – não belicosos e
amistosos, se bem que tímidos no convívio normal com estranhos.
São semi nômades e fixam-se por espaços de tempo
relativamente curtos nos lugares. Alimentam-se de caça, répteis, insetos,
vegetais e frutas espontâneas.
É um povo que, pelas características físicas,
dificilmente acreditaríamos serem capazes de enfrentar tão majestosa e
agressiva floresta.
Corajosos como se disse acima, a ponto de
enfrentarem o elefante com pequenas lanças – que vão espetando e fugindo, até
que o animal, exaurido pela tortura e perda de sangue, acabe por desistir da
luta pela vida – temem de forma apavorada apenas os Gorilas.
Protegem-se das intempéries por cascas de árvores,
que têm também a vantagem de os camuflar.
Vivem em pequenas famílias, cujo chefe é o homem
mais velho, e quando algum elemento do grupo morre, é enterrado com todos os
pertences.
O semi nomadismo é uma boa mabeira de viver, para
uma gente tão bem adaptada psicológica e fisiologicamente à floresta; quando os
Belgas tomaram conta do território, depois da Primeira Grande Guerra – antes o
território fora da fronteira de Angola, era Alemão – decidiram por uma política
protecionista em relação aos Bantuís – Pigmeus – da Floresta Ituri –
continuação da Floresta do Mayombe.
A intenção era boa, mas o protecionismo levou-os a
fixarem-se num sedentarismo ao qual não se adaptaram, e que facilitou a ação de
outras tribos, que os atacavam e escravisavam, além de lhes tomar as mulheres
jovens, impossibilitando-os de se reproduzirem.
Poucos grupos mantiveram a tradição nômade, e o
número de pigmeus baixou de aproximadamente um milhão e meio há trezentos anos,
para menos de dez mil atuais.
TCHOKWÉS – HIERARQUIA RELIGIOSA
N’Zambi (1)
Samuang (2)
Feminino Namuang (3) Masculino
Tchirhongo(8) Kuba-Wavula(6) Kakuka
(5)Tuhemba(massuko)(4) Katoto (9)
Katwa(10)
Mwana-Pwo (7)
1 – N’Zambi: É o Criador do Mundo.
2 e 3 – Primeiro casal da terra, representados por
dois troncos secos e estreitos, com as esculturas de um casal nas extremidades,
ficam erguidos perto das cubatas e isolados.
4 – Divindade feminina que ajuda as sementeiras.
Primeira filha de 2 e 3. É representada por
um tronco estreito e seco, com uma figura feminina esculpida na ponta.
Esse tronco fica espetado do lado de uma
paliçada pequena, que tem em cima figuras representando a família e
descendentes.
5 – Filho de 1 e 2 , tem poderes de premonição. É
representado por um boneco e uma tábua, na qual se esfrega o boneco, até este
dar as respostas pretendidas.
6 – Divindade má, mata, queima e destrói em dias de
chuva – Wavula – no momento do raio – Kuba. É representado por um manipanço
disforme, com dentes pontudos e irregulares simulando uma boca.
7 – Totalmente feminina nos trejeitos e enfeites, é
uma divindade protetora e alegre.
8 – Personagem masculino, austero, representa força
e mando.
9 – Personagem grotesco, ridículo e cômico.
10 – Figura amedrontadora, de feitiço muito
poderoso, protege quem o agrada e prejudica os que o substimam.
SACRIFÍCIOS HUMANOS E ANTROPOFAGIA
Em quase todos os relatos de exploradores africanos, Etnógrafos e Etnólogos, que
escrevem ou escreveram sobre os povos de Angola, se encontram referências e
registros de rituais com sacrifícios humanos. Foram registrados acontecimentos
desses entre os Lubas, Luenas, Kwanyamas e Huílas.
De uma maneira geral, o sacrifício visava a adquirir
a força, a virilidade ou a coragem – ou todas essas qualidades juntas – do
sacrificado, e era feita em oferenda aos espíritos.
Entre os Kwanyama, Kwamatuy e Mukubais, verificaram-se
e foram registrados muitos sacrifícios de crianças, por nascerem com
deformações físicas ou por serem fruto de uniões indesejadas e até em casos
especiais de coroações de Sobas.
Outro motivo que podia levar a sacrifícios de seres
humanos, por indução de feiticeiros, era o ritual para livrar, exorcizar uma
pessoa de uma obcessão causada por um espírito.
Rituais que incluíssem além de sacrifício,
canibalismo de partes do corpo do sacrificado, eram mais raros. Consoante os fins que se pretendia, os órgãos
mais visados para a consumação destes festins, eram o coração e o pênis;
eventualmente também o sangue – todos considerados fontes vitais.
Entre os povos de Angola, não há registro de
antropofagia simples e pura, sem conotação religiosa ou feiticista.
De qualquer modo é muito e inexata a observação
científica neste assunto particular, pois invariavelmente os participantes,
temerosos de repressões das autoridades coloniais, tomavam todas as precauções
e se escondiam para essas práticas, e as testemunhas silenciavam ou negavam
peremptoriamente que houvessem ocorrido.
At´pe 1974 apareciam registros de acontecimentos
destes, por parte das autoridades coloniais. Em 1974 foi muito comentado um
caso acontecido na região da Huíla, entre os M’Huíla, e que consta dos arquivos
do tribunal da Huíla.
ZINDUMBA – ZA – WÂNTU ( OS HOMENS LEÃO )
Os Zindumba – Za – Wantu, cuja existência era
comprovada até poucos anos atrás por oficiais do Kwango, eram uma seita que,
vestidos com pele de leão e imitando o urro do felino, se aproveitavam do temor
que o disfarce incutia nas populações, para poderem proceder a vinganças,
prepotências, roubos.
A cerimônia de iniciação dos “Bantu-Simba”,
designação dada à seita por vários autores – Bantu como plural de N’Tu, que
quer dizer Ser Humano, e Simba, que significa Leão – era qualquer coisa de
terrificante e original.
O grupo escolhia para a admissão de um novo membro,
uma noite de Lua Nova; ia então à casa do candidato onde, executando uma
exótica dança, lhe dava a entender que era chegada a hora de prestar provas
para a admissão. Quando o novato, entre temeroso e ansioso assomava à porta, do
grupo destacava-se o chefe que, sem proferir palavra, entregava ao futuro irmão
Simba, uma Zagaia e três flexas envenenadas.
Iam em seguida, com o novato no meio, floresta a
dentro, à procura de um leão, que este teria que matar sem qualquer espécie de
ajuda e usando apenas as armas que lhe houvessem dado.
Se falhasse, o grupo tratava de matar a fera, e o
candidato perdia no ato a esperança de vir a integrar a bizarra oligarquia.
Caso conseguisse matar o animal, o feiticeiro
retirava do cadáver o coração ainda quente, e com ele traçava na testa do novo
membro o sinal Wântu, esfregava-o em seguida no peito, de modo a deixar bem
marcada uma mancha de sangue.
O novo aderente, finda esta parte do ritual,
empunhava uma faca, retirava e vestia a pele ainda úmida do bicho morto, e
gritava: Eu, Bantu-Simba, consegui vencer o Leão, o seu coração deixou sangue
no meu peito, sou agora mais forte que ele.
Ditas estas palavras, tentava imitar o furioso
bramido do Rei dos Animais, e iniciava a
dança nervosa dos seus novos companheiros.
GENTE DA REGIÃO DAS NEVES
Alguns autores assinalam que, perto da Humpata,
viveu um povo da Região das Neves, nome dado à região pelo fato de ser muito
fria e com certa frequência cair granizo.
A curiosidade deste povo está em que, apesar de
terem cor e traços negróides, são descendentes de Holandeses, Boers.
De feições que têm muito de Europeu, e cabelos lisos
e escorridos, com tonalidades claras. O dialeto em que se comunicavam, tinha
muitos vocábulos que lembravam palavras Holandesas.
As mulheres usavam vestidos compridos, de mangas até
aos pulsos, e os homens, trajes parecidos aos europeus, e por eles mesmo
confeccionados.
Viviam do gado e do cultivo da terra, e só utilizavam as
aldeias de brancos para as transações comerciais.
Como
transporte dos produtos que comercializavam, usavam os carros de boi, com duas
ou três parelhas, e com um formato bem idêntico ao do Carro Bôer.
Eram
tímidos e não hospitaleiros, se bem que não beligerantes; mas pouco receptivos
às pesquisas ao seu modo de vida. Pouco se sabe dos costumes deste povo.
Acredita-se
que nos últimos 70 anos, tenham sido absorvidos por outras tribos.
Os Grandes Potentados da
História
Reino do Kongo
Fundado por volta do Séc.XIII,
por Nimi-A-Lukeni, reuniu todas as triboa da língua Kikongo, e chegou a ter
como limites, ao Sul o Rio Kuanza, e ao Norte o atual Gabão.
De economia forte, baseada na
agricultura, crição de gado, trabalhos em olaria, ferro e verga, caça e pesca,
utilizavam o Zimbo (pequeno Búzio de cor cinza), como moeda de grande aceitação
em todo o território.
Quando Diogo Cão, em 1484 chegou
ao Reino do Kongo, encarregado por carta régia de descobrir novos territórios
para o Império Português, e implantou o Padrão símbolo na foz do Rio
N’Zire(Zaire), o reino tinha como Soba ( Monarca ), Mwene Kongo ou Manikongo.
O domínio de Manikongo ia do Luango
até Ponta Negra no litoral, e do Macoco ao Zambeze, Norte Sul, e Manikongo
reunia ao título de Rei do Kongo, o de Senhor dos Ambundos, da Mataba, da
Kissama, de N’Gola ( que deu origem à palavra Angola ), do Kakongo, dos Sete
Reinos do Konguere-Amulala, dos
Banguelungos, dos Anzicos e Luangas. Temos assim uma idéia do poderio e domínio
dos Monarcas do Reino do Kongo.
Em 14 de Dezembro de 1490, saiu
de Lisboa a 1ª expedição Portuguesa rumo às novas terras, chefiada por Rui de
Souza, e que levavam além de colonos, missionários com o objetivo de iniciarem
Mwene Kongo, na religião dos brancos. Foram recebidos sem hostilidade, mas
Mwene Kongo, muito embora não impedisse a atividade dos missionários, ele
próprio continuou fiel ao animismo.
O sucessor de Mwene Kongo, foi
seu sobrinho mais velho ( filho da irmã, a sucessão é matriarcal, uterina ),
N’Gunga-O’Cuum, a quem os Portugueses auxiliaram numa expedição bélica contra
os Anzicos, povo que dominava o Alto Zambeze. A expedição foi um sucesso, e os
conselhos estratégicos dos Portugueses, fundamentais para anexar mais essa
fatia de terra ao já extenso potentado.
Com o prestígio recém adquirido
na campanha militar, os Portugueses passaram a ser ouvidos não só nos assuntos
concernentes à guerra, mas também nos assuntos econômicos, políticos e
religiosos.
Começaram assim a influenciar
N’Gunga-O’Cuum, de uma maneira que fosse proveitosa ao Império Português, todas
as decisões do Monarca.
O Soba N’Jovi, sucessor de
O’Cuum, já muito dependente das orientações dos colonizadores, foi o 1º monarca
que prestou vassalagem ao Rei de Portugal.
Entretanto, quando N’jovi viu
quais as verdadeiras intenções dos conselheiros brancos, tirou-lhes as
regalias, renegou a Fé Cristã, e voltou-se de novo para o animismo.
Em 1509 N’Jovi foi sucedido por
N’Pemba-Ká-N’Ginga, que voltou a criar alianças com a Igreja Católica e,
influenciado por esta, voltou a aceitar conselheiros Portugueses, a quem
devolveu todos os privilégios anteriormente cortados.
A influência colonizadora de
Portugal sobre este soberano foi tal que, durante uma expedição de guerra feita
ao Sul, contra os Ambundos, além de levar estrategistas brancos como auxiliares
e orientadores de falanges, deixou como seu sucessor durante a campanha, com
todos os poderes, o Feitor do Rei de Portugal, Álvaro Lopes.
Os colonizadores, fortemente
imiscuídos e enraizados em todos os sistemas de poder do reino, trataram de
destruir e fragilizar todos os elos familiares, assente nos quais estava todo o
poder sucessório e de coesão do potentado.
Nessa mesma época, a coesão do
reino e aliados, foi também fortemente minada pelas guerras iniciadas pelos
Gingas e
Jagas, que vizavam o poder do Kongo para a tribo.
Em 1658 morreu o monarca Mwene
Solo Ya Kukuri – D. António – que, aconselhado pelos Portugueses, como 1ª
medida mandou matar os irmãos e todos os outros príncipes de sangue real. Mas
pouco tempo depois, arrependido, voltou a retirar todas as regalias e bens dos brancos, promulgou editais contra e
religião Cristã e declarou-se inimigo dos Portugueses.
Em 1662, o seu sucessor Mwene
Vitukuri – D. Álvaro VII – declarou guerra contra os Portugueses, levando
avante a promessa do Soba anterior.
Voltou o Reino do Kongo a
congregar todos os povos visinhos, que um simples sinal tinha a capacidade de
levantar em armas. Exércitos fantásticos e coesos, marcharam contra os
Portugueses, com forças conjuntas que, em 1663, totalizavam cercade 900 mil
homens.
Entretanto, na Guerra dos Dembos,
os Portugueses conseguiram matar Vitukuri, e os exércitos, perdido o poder
carismático do chefe, acabaram retirando.
O Reino do Kongo ficou assim sem
sucessores de linhagem real, e passou por uma fase de lutas sucessórias, que
mais contribuíram para a fragmentação.
Como os Portugueses ainda
mantinham influência em boa parte das famílias de casta elevada, conseguiram
por volta do ano de 1700, manipular a sucessão do rei. O novo Rei do Kongo,
verdadeiro súdito de Portugal, determinava e decidia mais em favor do Império
Português do que do Reino do Kongo, e com isso foi minado por completo o poderio do Império
Negro.
Reino de N’Gola ou N’Dongo
O Reino de N’Gola foi fundado por
volta de do Séc.XIV, na Matamba, por N’Gola M’Bandi, e tinha como cidade
principal, Kapassa.
Tinha como fronteiras, ao Norte o
Rio Dange e o Ambuíla, ao Sul o Planalto do Bié, a Leste o Kassange e a Sudeste
a Kissama.
A partir de 1575, os Portugueses
passaram a instalar-se na região ao Sul do Rio Kuanza, onde, além da intenção
de explorar prata, tinham uma inesgotável fonte de escravos, capturados pelos
exércitos de N’Gola M’Bandi.
Soberano de um potentado, e em
posição extremamente sólida em relação às forças coloniais, o Soba do N’Dongo,
antevendo o enfraquecimento das forças Portuguesas, com a saída do Governador
João Correia de Souza, manda em 1623 como emissária, a Luanda, sua irmã N’Zinga
M’Bandi, exigindo do novo governador Pedro de Souza Coelho, o desalojamento dos
Jagas da Baixa de Kassange, região que queria sob o seu domínio.
O Governador Português, em nome
do Rei de Portugal, concordou com a imposição – que já havia sido anteriormente
tratada em negociações de paz , com N’Gola M’Bandi, mas não cumpriu o acordo.
N’Zinga M’Bandi, com quem o 2º
acordo fora tratado,indignada pelo não cumprimento do combinado, força o irmão
Soberano a declarar guerra aos colonizadores, mas, descontente com as
estratégias de combate do irmão, razão a que atribuía a guerra ainda não estar
vencida, e suspeitando que o irmão poderia de novo tentar negociar a paz, o que
ela achava indigno, envenenou-o e se proclamou o novo Soberano do N’Dongo.
Simultaneamente inicia uma guerra
aberta contra os Jagas, com vitórias retumbantes, que anexaram toda a área do
Kassange ao Reino dos Jingas.
Em 1635, chega a Angola o novo
Governador, Francisco de Vasconcelos da Cunha que, a troco do restabelecimento
das rotas da escravatura, com os povos do sul da Matamba, consegue deter o
avanço de N’Zinga M’Bandi em direção a Luanda.
Òr esta altura, N’Zinga M’Bandi,
também conhecida por Rainha Ginga, já era soberana também da Matamba.
Nesse meio tempo, os Sobas do
Libôlo em luta contra os Jagas, vão ao Massangano pedir a ajuda dos
Portugueses. Os Portugueses, imaginando que esta aliança, além de pacificar e
dominar os Jagas, poderia trazer a adesão de expressivas forças aliadas contra
a Rainha Ginga, concordaram de imediato.
N’Zinga M’Bandi, sabendo da
movimentação das tropas Portuguesas indo
intervir na guerra dos Jagas contra os Sobas do Libôlo, marcha contra eles , e
apesar da superioridade do exército Luso, os Gingas infringem-lhes uma derrota
esmagadora.
A Rainha Ginga,
magnânimamente poupa os sobreviventes
brancos e perdoa os negros aliados do Libôlo.
Quando em Luanda assume o
Governador Sotomayor, decidido a recuperar prestígio perdido pelos Portugueses
por causa das guerras contra os Gingas, resolve iniciar o mandato enviando uma
expedição militar ao Massangano, para se confrontar e derrotar a Soberana.
No Rio Zenza, o exército
Português encontra um destacamento de Gingas e finge retirar evitando o confronto,
porém atacam de noite e chacinam quase todos os guerreiros; os poucos que
conseguem escapar da matança e avisar a
Rainha Ginga do ocorrido, foram decapitados por não terem tido a dignidade e
coragem de perecer em combate como os companheiros.
A Rainha Ginga, irritada por este
golpe que considerou covarde, alia-se aos Holandeses, que na época ocupavam
Luanda e dominavam uma faixa litotânea, na luta contra o exército de ortugal.
Em 1646, o exército Português
reúne mais de 40 mil homens em armas, entre tropas européias e aliados das
nações negras, e infringe uma derrota definitiva ao exército dos Gingas, às
margens do Rio Dande.
N’Zinga M’Bando, a Rainha Ginga,
que me 1621 em manobra política havia aceitado o batismo católico – D. Ana de
Souza – e que vivia com um harém de homens, que obrigava a vestirem-se de
mulher e trata-la como homem, negocia novo tratado de paz com Portugal.
Todos os chefes aliados dos
Gingas foram decapitados, e os Holandeses derrotados e expulsos.
Negociando escravos, N’Zinga M’Bandi
conseguiu levantar de novo a economia do potentadp, mas militarmente nunca mais
se reergueu.
O Reino do N’Gola, no apogeu do
reinado de N’Zinga M’Bandi, em expansão territorial, chegou e ter duas vezes e
meia a área da França. Entre 1600 e 1880, foram negociados mais de 3 milhões de
escravos.
Reino da Lunda
O reino da Lunda, que no Séc.XVII chegou a ser um dos
grandes potentados de Angola,foi fundado no início do Séc.XVI, no Leste de
Angola, por Mwatiânvua e sua mulher Lukocheka.
Embora fosse um reino só e coeso
em todos os aspetos e sentidos, Mwatiâmvua governava a metade Norte e a Rainha
Lukocheka reinava na metade Sul. Tinham poderes iguais, e as decisões que
fossem concernentes ao Reino como um todo, eram baseadas no consenso dos dois,
ajudados pelo conselho de séculos (velhos).
Foi um Reino economicamente muito
forte, com agricultura muito bem estruturada, com milho, massango e massambala,
trabalharam o ferro, o cobre e os tecidos, foram fortes no comércio de
escravos, marfim e tecidos.
No Séc. XVIII, uma parte do povo
decidiu migrar para a região do atual Moxico, dando origem ao povo Tchokwé (
Kiôco ). Foi o primeiro sinal de fragmentação do Reino Lunda, que talvez fruto
do crescimento econômico, ou das facilidades de vida, dadas pela exuberância do
solo, foram-se entregando mais aos prazeres da vida do que aos interesses do
Reino.
Os Tchokwé foram-se fortalecendo
e alargando os domínios territoriais, tomando terra dos Lundas, que
pacificamente iam cedendo.
Em 1885, os Tchokwé, chefiados
pelo Soba Mwatchisengue-Wa –Tembo,
invadiram militarmente e ocuparam o território da Lunda.
Ao contrário dos Lundas, que não
eram belicosos, os Tchokwé foram guereiros bravíssimos, de espírito
extraordinariamente beligerante, que só acabaram sendo vencidos pelas forças
coloniais portuguesas, por volta de 1920.
A ocupaçãp Belga em África, no
ex-Congo Belga, atual Zaire, foi um golpe de misericórdia no Reino da Lunda.
Perderam a expressão como potentado, embora os Lundas apesar de militarmente subjugados,
e em fase economicamente decadente, continuassem a preservar os seus hábitos,
costumes e tradições, resistindo à absorção de outros costumes tribais.
Os Lundas da Nação Tchokwé, adquiriram alguns novos
costumes, que passaram a integrar a sua cultura e tradição; após a invasão
chfiadad por Mwatchisengue-Wa-Tembo, e a ocupaçãp militar do território da
Lunda, tentaram forçar os Lundas aos novos hábitos adquiridos, no que não foram
bem sucedidos.
Culturalmente os Lundas não foram
dominados.
Reino Bailundo
O Reino Bailundo foi fundado no
Séc.XVII, pelo Soba Katiawala, que chefiando expressivo número de guerreiros,
migrou da Kibala.
Foi um Reino que chegou a
congregar todos os povos de língua M’Bundo ( Umbundo ) em estados Federados ao Chefe Bailundo, e que se
estendia do Planalto Central, a Benguela e ao Bié.
Foram economicamente fortes,
explorando e comercializando o milho, o óleo de palma, a cera, o mel e o
marfim; trabalharam o ferro, e comercializaram, com muito bons resultados para
a economia do estado, os escravos.
Entre os Bailundos, a propriedade
da terra era coletiva. Militarmente muito fortes e bem organizados, lutaram de
1645 a 1776 contra a ocupação colonial Portuguesa, praticamente sem tréguas nem
concessões.
Os Portugueses conseguiam
vitórias militares, mas não tinham força de ocupação e eram de novo rechaçados;
o governo colonial iniciou então uma política Maquiavélica, que foi instigar as
lutas entre os estados Bailundos.
Essa política foi bem sucedida,
os estados iniciaram uma série de lutas pela egemonia e poder, que só teve como
conseqüência enfraquecer internamente o Reino. Essas lutas acirraram ódios
tribais, que mais e mais as alimentavam.
O Reino Bailundo fragmentou-se,
perdeu a coesão e finalmente, em 1896, foi ocupado pelo exército Português.
Seis anos mais tarde, o Chefe
Bailundo Mutu-Ya-Kewela, conseguiu reunir guerreiros e revoltar-se noavamente
contra o domínio colonial, mas um ano depois foi novamente subjugado.
A partir de 1903, o Reini
Bailundo perdeu completamente a expressão política de autonomia, pois as forças
coloniais começaram, após o domínio
militar, a manipular as sucessões dos monarcas, colocando em lugares de
chefia, Sobas simpáticos à causa colonial.
Simultaneamente, autoridades
civis administrativas, ajudados por Cipaios – indígenas de força para militar
armada, normalmente de ouras tribos rivais – controlavam e impediam o
reagrupamento e reorganização dos povos subjugados.
Reino Kwanyama ( Kuanhama )
O Reino Kwanyama foi fundado no final
do Séc.XVIII, por Kawongekwa, e teve como cidade principal, N’Jiva.
Os Kwanyama foram a tribo que
mais se destacou entre as tribos Ambó.
Foi um Reino de economia e
organização militar poderosa. A guerra dava-lhes escravos e gado.
Os homens ocupavam-se da guerra,
da criação de gado e da moldagem do ferro; as mulheres ocupavam-se da
agricultura e da olaria, complementando a estrutura econômica. Na agricultura
ocupavam-se principalmente do cultivo do milho, massango e massambala -- pequenos grãos de cereal.
Mas a atividade que maior lucro
lhes dava era mesmo a guerra, com os saques de gado e bens materiais, captura
de escravos e expansão territorial.
Enfrentaram de forma tenaz, as
forças de ocupação colonial, nunca se deixando subjugar por completo, bem como
se impuseram a todos os povos visinhos. Sempre se mantiveram militarmente
organizados e preparados para os confrontos bélicos, não só por motivos
expancionistas, mas principalmente para a preservarem a independência
econômica. Políticos astutos, chegaram a negociar por diversas vezes a paz, mas
como mera estratégia, para consegurem tempo para se reestruturarem; tão logo se
sentiam de novo fortalecidos, voltavam ao combate.
Povo de um orgulho inflexível, os
chefes militares Kwanyamas, quando derrotados em alguma batalha, se a
retirada estratégica não era possível,
preferiam suicidar-se a ser feitos prisioneiros; preferiam a morte à vergonha
da submissão.
De educação Espartana, lacônicos
e altivos, davam valor à coragem na
mesma proporção que desprezavam a covardia. Qualquer guerreiro que
eventualmente tomasse uma atitude de medo ou covardia, era sumariamente
excluído do convívio dos homens, só lhe sendo permitidas as tarefas das
mulheres.
Em 1915, chefiados pelo Soba
Mandumbe, enfrentaram e venceram as forças coloniais de ocupação.
Mandumbe conseguiu manter essa vitória por pouco tempo; traído por comandantes
militares em quem depositava total confiança, suicidou-se em 1917, e só então o
Kwanyama foi conquistado.
Reino do Lobossi
A formação do Reino do Lobossi,
pode dizer-se que foi um dos episódios mais sanguinários da história dos
povos africanos.
No início do Séc.XIX, o grande
chefe Tchaka – terrível – fundou o Império Zulu, constituído pela confederação
dos povos Bantos do Leste, os Matabele, e ficava situado entre os Rios Orange e
Zambeze, na Província de Natal, na África do Sul.
Os povos visinhos, Bazutos e
Bekwanas, temendo a proximidade de tão grande e poderoso reino, migraram em
direção a Leste, em busca de maior segurança. O movimento migratório
intensificou-se quando o Soba Mozilikatze, fugindo à tirania de Tchaka, assumiu
o comando dos Matabele, marchou em direção ao Transvaal, e arrazou a ferro e
fogo os povos da região.
Por volta de 1824, chefiava a
migração dos Bazutos, o Soba Tchibitano,
que partindo do Orange conseguiu engrossar as suas forças, com guerreiros que
capturava nas batalhas em que entrava, nas terras por onde passava.
Atravessou o Kalaári e atingiu o
território do Zambeze, sempre perseguido por Mozilikatze. As duas hordes
acabaram sendo fundidas pelo gêno militar e político de Xi-Bytano, e passou
assim este povo único a chamar-se Makololo.
Como já nessa altura Xi-Bytano
possuísse imenso rebanho bovino, procurando terras mais ricas em pastagens, atravessou
o Zambeze pouco abaixo das Cataratas Vitória, e numa saga esmagadora e
devastadora de povos pacíficos, mal armados e menos numerosos, acabou por
fixar-se na região Kapwé, fundando aí o Reino Barotze-M’Bunda.
Porém, os Matabeles
conservavam-se inimigos tribais dos Mokololos, e foram atacar o novo reino que,
perdendo o confronto armado, voltou a deslocar-se, indo para os domínios do
povo Luy, que ia da margem esquerda do Zambeze, até ao Rio Kapombo, afluente
deste.
Xi-Bytavo, verdadeiro gênio militar
e político, com relativa facilidade conquista o Reino Luy e o organiza. Mas os
Luynos eram inteligentes, e apesar de militarmente subjugados, insinuando-se
aos poucos, acabaram por substituir os Makololos no contrle político do reino.
Os matabeles ainda tentaram nova
incursão contra os Makololos, mas desta
vez, Xi-Bytano, numa manobra militar de mestre, conseguiu sitia-los nas ilhas
do Rio Zambeze, onde acabaram por render-se pela fome.
Tem início depois disto, um longo
período de paz e de prosperidade. Xi-Bytano morre e é substituído por sua filha
Mamoxissane, que por sua vez casa e transmite o poder ao marido Tchikereto.
Este Soba reinou pouco tempo, adoeceu e
morreu em 1863, sendo substituído por seu irmão Omborolo.
Os Luynos, descontentes com esta
sucessão irregular, rebelaram-se em 1864, chefiados por Tchipopa, mataram
Omborolo e massacraram quase todos os Mokololos
Tchipopa mostrou-se um monarca
ditador, sanguinário e cruel – divertia-se por vezes alimentando jacarés com
crianças da tribo – e em pouco tempo foi assassinado por seu sobrinho
Manuanino, de dezessete anos, que se proclama Soba, e que como primeira medida
manda matar todos os chefes que o haviam apoiado no golpe.
Entretanto, os poucos chefes que
escaparam, juntaram-se e organizaram-se, provocando novo levantamento popular
contra a tirania de Manuanino.
Foi outro período sangrento de
guerras e assassinatos tribais, pois Manunino, perspicaz apesar da pouca idade,
havia previsto e se preparado para qualquer tipo de insurreição ao seu governo;
mas os aliados de Manuanino, descontentes com prepotência do chefe, começaram a
desertar, enfileirando ao lado dos rebeldes ao reino.
Enfraquecido e praticamente
sozinho, em 1878, Manuanino foge, acompanhado de uns poucos guerreiros fies a
ele. Assume o poder o seu primo Lobossi, que fundou o reino a que deu o seu
nome.
Os Grandes Chefes
Lobossi do Luy
Lobossi, subiu ao trono do Luy –
Lia-Luy – aos dezenove anos, em 1878. De
extraordinária inteligência, herdeiro de um poderoso reino, com um vastíssimo
rebanho de gado bovino, destacou-se como admonistrador e político, conduzindo o
reino numa fase de prosperidade econômica crescente.
Debilitado militarmente, apesar
do poder econômico de que o seu reino desfrutava, preferiu as alianças
políticas com as forças colonialistas, aos confrontos em armas. Com ele
contatou Serpa Pinto, que partira em expedição de Bengula em finais de 1879,
com a missão de negociar a abertura do livre comércio na África Oriental. Uma
das cláusulas importantes, dos acordos e alianças entre Lobossi e Serpa Pinto,
foi a proibição do tráfico de escravos nos domínios do reino.
Lobossi não perdeu a oportunidade
de dar a Serpa Pinto, uma demonstração do poder econômico de que dispunha;
ofereceu à pequena comitiva do sertanejo Português, 30 bois, que segundo a
tradição deveriam ser imediatamente sacrificados para um banquete acompanhado
por dezenas de cabaças de kimbombo – bebida fermentada de milho – como prova de
regozijo pela presença do visitante.
De toda essa carne, seria
oferecida uma perna ao Soba, e uma pequena porção aos conselheiros e homens de
confiança, todo o resto era para a exígua comitiva de brancos.
Ekukui II do Bailundo
Quando Ekuikui II assumiu o trono
dos Bailundos, em 1876, já os Portugueses dominavam boa parte do Norte de
Angola e se preparavam para dominar o Sul.
O Monarca negro, com uma visão
perspicaz, entendeu que os brancos invasores, eram um inimigo mais poderoso, e
conseqüentemente o que primeiro precisava de ser combatido e aniquilado.
Resolveu preparar o seu povo para
a guerra contra os brancos; parou todas as pequenas guerras, que tanto desgaste
e pouco proveito traziam à nação Bailundo, fortaleceu-se economicamente, através
de produtos que comercializava – milho, cera, mel, marfim e escravos –
fortaleceu e estruturou o exército, e estabeleceu diversas alianças políticas
com outros povos, sendo a principal, com o Monarca N’Dunduma do Bié.
As fprças coloniais de Portugal,
percebendo a estratégia engendrada por Ekukui II, e sabendo que o Soba Bailundo
estava iniciando conversações e alianças com outros povos do Planalto Central
de Angola, decidiram atacar o Bailundo e o Bié simultaneamente, antes que as
alianças políticas se consumassem, e as tribos do Planalto Central, com a sua
adesão, mais fortalecessem os exércitos coligados aos Bailundos.
A luta contra Portugal durou toda
a sua regência, isto é, até ao ano de 1893, ano em que morreu.
Mas seu sucessor, empossado sem
grandes pompas, continuou a guerra.
Mandumbe dos Kwanyamas e
Matobe dos Kwamatuy ( Kuanhamas e Kuamatos )
Mandumbe, sucessor dos Kwanyamas
e Matobe, sucessor dos Kwamatuy, insatisfeitos pela forma como os reinos que
respetivamente herdariam, estavam sendo governados, prepararam o estratagema
que anteciparia a subida deles aos tronos dos dois territórios, e assumirem o
poder; decidiram que Mandumbe mataria o Soba Kwamatuy e Matobe mataria
assassinaria o Soba Kwanyama.
Mortos os soberanos, os
sucessores foram proclamados Sobas, Matobe com 18 anos e Mandumbe com 16 anos..
Mandumbe começou por governar na Embala Pequena – Pereira D’Eça, dos tempos
coloniais – pois não tinha ainda idade para ir para a Embala Grande, N’Giva.
Mandumbe mostrou-se desde o
início do seu reinado, um monarca fantástico, carismático, inteligente,
coerente, e um estrategista militar de primeira qualidade.
Desde o princípio da sua
regência, ditou leis que revolucionaram os costumes do povo; como medida de higiene,
mandou que todos os homens, a partir dessa altura, começassem a andar com a
cabeça e a cara raspadas, e para mostrar até que ponto fazia questão de que a
sua determinação fosse cumprida, mandou chamar um velho feiticeiro que vivia
afastado da tribo, e que por todos era temido, e em frente ao povo reunido, ele
mesmo cortou os cabelos e a barba do eremita.
Castigava de forma severa todo o
adulto que tirasse um fruto verde de uma arvora, e o rejeitasse por estar
verde, bem como quem danificasse plantas que fossem produtoras de alimento.
Descobriu e explorou as Tchipakas – reservatórios de água – utilizando os furos
artesianos, melhorou a agricultura, utilizando sistemas de irrigação.
Mas principalmente, armou,
reorganizou e começou a treinar o seu exército para a guerra.
Repeliu uma invasão dos Ingleses
ao território Kwanyama, e aproveitando-se da guerra entre Portugueses e Alemães
na disputa pelo Sul de Angola, consegue adquirir armas dos Alemães, para
combater o Português.
No 1º confronto que teve contra o
exército Português, ainda na Embala Pequena, em 1915, Mandumbe perde a batalha
e retira estrategicamente. Percorre então todas as Nações Ambó, incitando-as a
se unirem contra o invasor branco.
Unidos, os Ambó enfrentaram e
venceram as tropas do Comandante Pereira D’Eça, que foram por sua vez obrigados
a fazer a sua retirada estratégica.
Portugueses e Ingleses uniram-se
contra Mandumbe em diversas batalhas que nada decidiam, até que conseguiram
corromper alguns aliados dos Ambó e assi venceram as batalhas de Môngua e
Mufilo.
Desgostoso com a traição, e
vendo-se irremediavelmente perdido, Mandumbe mata os últimos guerreiros que
estavam com ele, e suicida-se em 1917.
Sobrevieram depois questões entre
os Portugueses e os Ingleses, porque os
Ingleses, tendo-se apossado da cabeça de Mandumbe, alegavam ser eles os
verdadeiros conquistadores dos Kwanyama, e reivindicavam por isso a revisão e o
alargamento das fronteiras. Após uns quantos confrontos bélicos, a opinião
Lusitana acabou por prevalecer.
M’Bula Matady dos Kongueses
M’Bula Matady, que significa quebra pedras, foi talvez o
1º grande chefe de uma Nação Africana, a opor resistência armada à ocupação
colonial Portuguesa.
Em 1570, o grande monarca chefiou
uma revolta contra os Portugueses e foi repelido.
Reuniu então todos os povos do
reino, e iniciou uma resistência armada que durou anos, à ocupação do
território do Kongo, pelos representantes do Reino de Portugal.
Resistência que manteve até à sua
morte, e que o seu sucessor, desgastado pela guerra, achou por bem terminar.
N’Zinga M’Bandi ou Rainha Ginga
Após envenenar o
seu irmão N’Gola M’Bandi, o Soba de N’Gola, sobe ao trono N’ Zinga M’Bandi, por
volta de 1619 ou 1620. Viria a tornar-se uma das figuras mais carismáticas de
toda a História de Angola e dos povos de Angola.
Ainda durante o reinado do seu irmão N’Gola M’Bando, é enviada por ele a
Luanda, para negociar com o Governador colonial, Pedro de Souza Coelho, a
expulsão dos Jagas, povo ancestralmente inimigo dos Gingas, da região de
Kassange e Pungo Andongo.
Recebida em Luanda pela autoridade Colonial, vinca desde o início a sua
personalidade; entrando N’Zinga M’Bandi no salão de recepção, repara a N’Zinga M’Bandi que havia apenas uma cadeira
para o Governador, restando para ela e comitiva, almofadões e peles de leopardo
espalhados em semi-círculo, pelo chão, em frente à cadeira.
Recusando-se a falar em nível inferior ao do interlocutor, o que
aconteceria se se sentasse nos almofadões, fez um sinal aos membros da
comitiva, de onde se destacaram vários para, com os próprios corpos fazerem um
trono improvisado, mais alto do que o do representante do Reino de Portugal,
onde ela se manteve sentada até ao final da audiência.
No início dessa audiência, o Governador Português tentou exigir da parte
dos Gingas o compromisso do pagamento anual de um tributo de vassalagem. Mal
escutou a proposta, a orgulhosa embaixatriz dos N’Gola, replicou vivamente, que
tal condição só deveria ser imposta um povo
conquistado, vencido, e jamais a um príncipe soberano, que voluntariamente
buscava a amizade de um outro seu igual.
N’Zinga M’Bandi aspirava sobretudo à unificaççao de todos os sobados
N’Gola, mas a confusão era grande naquela altura; o Reino do Kongo pretendia
anexar aos seus domínios os mais próximos sobados do Reino de N’Gola. Por sua
vez, nem todos os Sobas N’Gola concordavam com as idéias de unificação da
soberana. Os sobados entre N’Gola e Kongo, eram vassalos ora de um ora de
outro, e por vezes, de ambos.
Aumentando ainda mais esta confusão geral, havia a presença dos Portugueses, cujo domínio
político não era efetivo; mas o poderio pelo Kongo, em virtude do auxílio dos
colonizadores, levavam os sobados menos poderosos de N’Gola, a aproximarem-se
também.
É nesse caldo de indefenição política que a Rainha Ginga começa a ocupar
militarmente e a tutelar diversos sobados menores, como os de Lukala, N’Dondo,
Matamba, Kassange, Dembos e Kissama, alguns do Kongo, e alguns do Planalto
Central.
As tropas Portuguesas, não conseguindo bate-la na guerra, lhe aprisiona
duas irmãs, que leval para Luanda.
Mais tarde, alia-se aos Holandeses, que haviam ocupado Luanda, e deles se
manteve aliada durante os sete anos que durou a ocupação.
A sua ação durante este período de
tempo, ajuda de forma eficiente os Holandeses, e foi realmente contra exércitos por ela comandados, que se
passaram os episódios mais sangrentos das guerras do Massangano.
Derrotados e explusos os Holandeses, a Rainha Ginga depõe as armas, e
tenta uma cartada diplomática, negociando a paz.
Com tanto sucesso negocia, que consegue além da paz, a libertação das
suas duas irmãs, cativas desde 1628.
Derrotada, não esqueceu os ideais de hegemonia e unificação do seu povo,
e em 1671, aos setenta anos de idade, tenta mais uma vez, embora sem resultado,
um movimentos de revolta.
Em 1680, aos setenta e oito anos de idade, morre no Pungo Andongo N’Zinga
M’Bando, ou Rainha Ginga, ou D.Ana de Souza
-- nome Cristão com que fora batizada em Luanda, quando pela 1ª vez, e
na qualidade de embaixatriz de seu irmão, o Soba N’Gola M’Bando, se confrontou
com as autoridades coloniais Portuguesas.
Morreu cercada por seu harém de homens, que fazia questão de manter vestidos
de mulher, e que a tratavam como se fosse homem.
Morreu a mulher, não o mito.
ORGANIZAÇÕES POLÍTICO-RELIGIOSAS
Watch Tower
O movimento religioso Watch Tower foi fundado na
Pensilvânia, na cidade de Allegany, em 1872, por Charles Taze Russel que,
baseado numa particular interpretação da Bíblia, dava como falsas todas as
outras religiões ou divergências do Cristianismo.
Os seu membros consideravam-se os únicos
verdadeiros, e começaram por designar-se simplesmente CRISTÃOS, vindo posteriormente
a adotar o nome de Watch Tower.
Com propaganda eficiente nas classes mais
receptivas, e tendo em cada novo membro um angariador convicto, o movimento se
espraiou rápido pelo mundo.
Em 1879 saiu o prmeiro jornal do movimento com
tradução em várias línguas; em Português teve o título de “A SENTINELA”, e era
editado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
Em 1884, num processo de organização e garantia de
continuidade, é fundada a sociedade chamada
“THE WATCH TOWER BIBLE AND TRACT SOCIETY”.
Com esse noma se manteve até 26 de Junho de 1931
quando, num congresso com representantes de todo o mundo, em Columbos, Ohio,
optaram pelo nome de “JEHOVAH’S
WITNESSES – TESTEMUNHAS DE JEOVÁ”.
Segundo os seus adeoptos, só existe uma religião
verdadeira, a que foi praticada por Adão e Eva, antes da expulsão do Paraíso, e
cujos preceitos foram diretamente ditados por Deus.
As outras religiões aparecem em função da
desobediência do Anjo que Deus encarregou de vigiar Adão e Eva. Esse Anjo,
querendo passar-se por Deus, mandou a serpente tentar Eva, para comer do fruto
da árvore do bem e do mel. Frutificaram daí as outras religiões, mas Deus assegurou o triunfo final aos seguidores da
verdadeira religião.
Em Angola, o Watch Tower estabeleceu-se ao Sul de
Benguela, área em que essencialmente exerceu a sua influência.
Foi um dos pólos a minar a soberania portuguesa,
pois do ponto de vista político e social, induz à rebelião permanente contra
todos os valores constituídos, por considera-los forças do mal, ou pelo mal
emanadas, já que não estão nos parâmetros da Watch Tower.
Os adeoptos negros das testemunhas de Jeová,
fortalecidos e encorajados na fé à religião adotada, começaram a ter a coragem
de afrontar e renegar todos os valores políticos, sociais e religiosos dos
colonizadores.
Kimbangismo
O Kimbangismo foi a doutrina iniciada por Simão
Kimbango, que lhe deu o nome.
Simão Kimbango nasceu em 1881, na Missão Batista de
N’Gombe Lutete, circunscrita a Thisville.
O pai de Simão Kimbango era Kimbanda na tribo, e
assim ele assistia desde cedo às cerimônias de cura, com as concernentes evocação dos espíritos, com
médiuns em transe, convulsões e tremores nervosos, que mais tarde
caracterizariam os seus cultos.
Freqüentou a missão como estudante, mas só chegou a
catequista -- ministrava o ensino do catecismo às
crianças - pois sofria de um problema vocal o que o
impedia de dominar a palavra oral.
Numa viagem ao Kushase teve uma visão e um desmaio,
em que lhe aparece um ser com uma Bíblia e lhe impõe pregar a palavra de Deus.
Nas pregações impressionou pelos tremores e
convulsões e começou a reunir adeptos e seguidores.
Já com um grupo expressivo de seguidores, auto
denominou-se com o epíteto de “Grande Profeta”, organizou uma hierarquia, e
passou a chamar a aldeia de “Nova Jerusalém”.
Em pouco tempo a religião foi degenerando em
movimento político e revolucionário, e os Belgas, então colonizadores do Congo,
quando se aperceberam da amplitude do movimento, ordenaram a prisão do líder
religioso.
Simão Kimbango foi preso, mas em pouco tempo conseguiu
evadir-se, o que fez com que subisse extraordinariamente na consideração e
conceito dos kimbangistas.
Os adeptos de hierarquia mais elevada começaram
então a anunciar que ele voltaria como libertador, e nessa condição lhes traria
a paz, alegria e todas as riquezas.
Volta entretanto a ser preso, e desta vez é julgado
pelas autoridades coloniais como chefe
de rebelião civil e política, e o condenam à morte, pena comutada pelo
Rei Alberto da Bélgica, em prisão perpétua.
Morreu exilado no Katanga, em 1951.
Mas o Kimbangismo, que sobreviveu à sua morte tendo
como líder Simão M’Padi, mistura elementos e dogmas das religiões tradicionais,
e do Antigo e Novo Testamento, com estaque e ênfase para os aspectos
proféticos.
Kimbango, que era iconoclasta e moralista, proibira
as imagens sacras, os feitiços, a poligamia e as danças com conteúdo e
conotação erótica ou obscena, como as da fertilidade.
Com a infiltração política, acrescenta mais três
proibições ou orientações:
-
Proibição do pagamento do imposto colonial
-
Proibição de novas plantações de mandioca
-
Proibição da limpeza dos caminhos que levavam ao cemitério
Era a negação à condição de dominado, a negação à
produção de alimento acima do necessário para o consumo das populações indígenas, e a negação ao
servilismo pelos valores dos colonizadores.
Após a morte de Simão Kimbango, com Simão M’Padi,
manifesta-se também de maneira irrefutável, a tendência anti européia.
Tocoísmo
Smão Toco, que deu nome e origem à “Seita Tocoísta”,
nasceu em Sadi Kibongo, em Makela do Zombo, em 24 de Fevereiro de 1918.
Em pequeno freqüentou a escola da Missão Batista de
Kibokolo, com tal aproveitamento que em 1933 é enviado com bolsa da missão,
para estudar em Luanda, no Liceu Salvador Correia.
Depois de completar o Primeiro Ciclo, voltou à
missão para lecionar. Orador persuasivo e catalisador das atenções. Foi bem
sucedido a ponto de, dali ser enviado para lecionar na Missão do Bembe.
Cinco anos depois, com encargos que não
correspondiam ao salário, e sentindo-se injustiçado por não o valorizarem como
sabia que merecia, emigrou para Leopoldville.
Na missão batista da cidade congolesa, e com os
antecedentes que tinha, arranjou emprego, passando também a reger um coro de
jovens angolanos.
A partir de 1940, deixa-se influenciar pelo
movimento do Watch Tower – Torre de Vigilância – seita conhecida no Congo pela
denominação de Kitawala, cujp poder de agregação muito o impressionou.
Simultaneamente Toco entra em contato com membros do
Kimbangismo, e o que mais o seduz é o fato de um negro ter tido a capacidade de
fundar uma religião só para negros.
Em 25 de Julho de 1949, Simão Toco assiste a um
ritual em que acontece um fenômeno de catarse coletiva, o que definitivamente o
motiva a fundar a sua própria religião. Desliga-se das missões batistas e
começa a reunir-se com adeptos iniciais em sua própria casa.
Em 22 de Novembro, ele e uma centena de seguidores,
são presos pelas autoridades coloniais portuguesas, que lhe fixam residência no
Bembe; mas o ditador Português Salazar, não se contentava em impedir o povo de
pensar e escolher os seus destinos políticos. Com fortes ligações com o clero,
na figura do Cardeal Cerejeira, roubava-lhe também a liberdade de optar por
qualquer outra religião que não fosse a católica.
Religiões eram fortemente reprimidas, e o Tocoísmo,
com conotações políticas e raciais, mais do que todas as outras. Por espalhar a
sua doutrina, Simão Toco foi assim sendo transferido para Luanda, Kasonda,
Kalukembe, Kassinga, e por todos os lugares ia deixando a sua semente da
doutrina Tocoísta.
Os Tocoístas, vestidos de um branco imaculado,
seguiam praticamente à risca os preceitos políticos e unirraciais do
Kimbangismo, o que os levou a entrar em choque com os Universalistas do Watch
Tower.
Politicamente pregavam a necessidade de expulsão de
todos os brancos e de uma independência negra.
* * *
Em países africanos, como por exemplo a Nigéria e o
Kassay, no tempo em que eram colônias Inglesas, surgiram diversas associações
secretas, de caráter meramente político, e que tinham como objetivo eliminar os
brancos começando pelos religiosos das missões. No ex Congo Belga, os
movimentos revolucionários armados pela independência, começaram precisamente
nas missões religiosas, onde foram feitas verdadeiras chacinas.
Na Nigéria, os Ingleses deram aos povos dessas
associações o nome de “Silenciosos”, e no Kassay foram chamados de “Rostos
Brancos”.
O Secreto, deve-se unicamente ao fato de se terem
formado as associações sem o conhecimento do colonizador, o que é óbvio, pois
tinham como objetivo eliminar esse mesmo colonizador.
* * *
No ex Congo Belga, depois Zaire e atualmente
República Popular do Congo, surgiram algumas sociedades secretas que tinham
como principal objetivo preservar costumes e outros aspectos culturais da
influência repressora do colonialismo; um dos costumes mais fortemente
reprimidos era o canibalismo.
Na região de Maniema, território de Shabunda, ao
norte da Província de katanga e ao sul de Stanleyville, surgiram as sociedades
secretas do Bwamé e dos Homens Leopardo, esta última responsável por milhares
de mortes de homens, mulheres e crianças, na segunda metade do século XX.
Aliás, Maniema significa textualmente “Comedores de
Homens”.
Em relação às tribos Maniema, Henry M. Stanley
disse:
-
Esses selvagens só vêem um congresso missinário como matéria prima para
um rosbife.
Comunismo Tribal
Em várias tribos, das mais diversas etnias
angolanas, se verifica a existência de alianças intertribais em que se encontra
o sistema de bens comunitários.
A riqueza comum é colocada à disposição da
comunidade, e a administração desses bens é exercida em comum, ou por membros
escolhidos por todos.
E o Coletivismo, prática altamente vantajosa para a
maioria, em que clãs aparentados -- leão
com onça, mabeco com cachorro, elefante com rinoceronte -- se
aliam em cooperativas de sistema coletivista, visando o interesse comunitário.
No Sul, verifica-se muito este tipo de coletivismo
entre as tribos Kilengues, Dombes, Kwanyamas, Kwamatuy; ao Norte entre Kikongos
e Kimbundos; e a Leste entre os Ganguelas.
Mas no Kwanza Sul, na foz do Rio N’Gunza, existe uma
tribo onde se pratica o comunismo puro, no sentido filosófico.
Todos trabalham em prol da comunidade, de acordo com
as suas possibilidades, e a todos era distribuído o produto de acordo com as
suas necessidades.
Era o Kimbo do Ximbutica, Soba sábio e tolerante que
soube fazer do seu pedaço de terra
-- o delta da foz do rio -- um
éden de prosperidade e boa vontade, sem cobiças nem ganâncias.
POVO
FEIO E COM
GRANDES BUNDAS: LENDAS
GRANDES BUNDAS: LENDAS
Os Pigmeu criaram formas culturais
próprias, de acordo com as exigências do seu hábitat. Isso, ao lado dos
obstáculos geográficos e naturais, foi um dos fatores que os levou a viver
isolados. Mesmo os poucos intercâmbios comerciais de carne e mel selvagem
sempre se deram através de intermediários.
O longo isolamento na selva e a falta
de contato com os demais povos africanos deu origem a lendas absurdas e
racistas. Costumava-se descrevê-los como um povo muito feio, meio animal,
chegando-se a fantasiar que possuíam grandes rabos.
Tais lendas foram responsáveis por
atitudes discriminatórias por parte dos Bantu africanos, como também dos árabes
e europeus, que os consideravam animais, sem alma. Há umas dezenas de anos, por
exemplo, a tribo africana dos Magbetu perseguiu e matou todos os Pigmeu de seus
arredores, caçando-os como se fossem javalis.
Fisicamente bem proporcionados, os
Pigmeu são "baixinhos" se comparados aos nossos padrões: a altura
média das mulheres é de 135 centímetros e a dos homens, de 145. Eles mesmos
consideram sua baixa estatura uma vantagem, porque os faz ágeis em suas
andanças pelas obscuras selvas africanas. E ainda fazem troça, chamando os
altos e fortes Bantu de "elefantes desajeitados".
A cor da pele, acobreada e com matizes
avermelhados, distingue-os claramente dos Bantu, de pele negra ou café-escuro.
Também se diferenciam por suas tradições, costumes e sistema de vida. Por isso,
é comum ouvir um pigmeu dizer: "Biso
na baindu..." - "Nós e os negros...".
Em todos os grupos pigmeus, a unidade
sócio-econômica é a aldeia, formada por uma dezena de cabanas e habitada por
grupos de trinta a setenta pessoas. O mais velho, ou o caçador mais hábil,
preside cada unidade.
A cabana, semi-esférica e totalmente
coberta de folhas, tem de 2 a 3 metros de diâmetro e uma altura que raramente
supera os 150 centímetros. Antigamente, sua construção era tarefa exclusiva das
mulheres.
Os instrumentos de trabalho dos Pigmeu
são poucos e feitos com madeira, ossos, chifres, fibras naturais e vegetais,
dentes e sementes duras. Além de suas casas, são hábeis na construção de pontes
de cipó sobre os rios.
CAÇA: MOMENTO MÁGICO
DA COMUNIDADE
A estrutura social dos Pigmeu é muito
precisa, e há uma nítida divisão sexual do trabalho. As mulheres recolhem na
selva tubérculos, fungos, larvas e cogumelos. A pesca, que só acontece na
estação seca, é reservada, em alguns grupos, às mulheres e crianças.
Já a caça é atividade exclusivamente
masculina e se constitui num momento mágico na vida da comunidade pigméia. Os
homens se preparam para sair à caça se abstendo das relações sexuais e evitando
toda "ofensa" à comunidade. Antes de partirem, há cerimônias de
purificação e propiciação.
Nessas cerimônias, Mama Idei, a mulher mais
velha do grupo, joga punhados de folhas sobre o fogo, fazendo a seguinte
oração: "Abençoa, ó Deus, esses filhos teus. Olha para eles com atenção:
estão famintos! Faz com que muitos animais caiam em suas mãos".
Então, com a boca cheia d'água, benze
os arcos, as flechas e as redes dos caçadores com pequenos borrifos. Em
seguida, cada caçador enche a boca de água e borrifa sobre o fogo, pedindo o
perdão de seus pecados: "Deus, se agi mal, perdoa-me. Que a caçada não
fracasse por culpa minha".
Certos grupos pigmeus são famosos pela
caça do elefante, uma atividade valente e arriscada. Nela, alguns caçadores se
aproximam o mais possível do animal e dificultam-lhe a marcha para que se
distraia e caminhe devagar.
Enquanto isso, um dos homens se
arrasta por debaixo do ventre do animal e lhe corta os tendões de uma das patas
traseiras. Dessa forma, o elefante, debilitado e ferido, cai ao chão, e todos
os caçadores se reúnem para matá-lo.
DIVERSÃO: DANÇAS COLETIVAS
E JOGOS MÍMICOS
Os Pigmeu, por viverem na floresta
tropical escura, quente e úmida, encontram na coleta e na caça suas formas de
subsistência. Não acumulam alimentos nem bens naturais e vivem daquilo que a
natureza lhes oferece. Mas nem sempre contam com o suficiente para atender às
necessidades mínimas - às vezes, passam longos períodos de fome.
Como os demais povos caçadores da
África, nunca se interessaram nem pela agricultura nem pela criação de gado. O
único animal doméstico que costumam ter é o cachorro.
A mulher é muito respeitada na
sociedade pigméia, e a monogamia é uma tradição tão firme que chega a ser
difícil aos estudiosos explicá-la.
O homem em idade de casar busca uma
esposa em um grupo distinto do seu. É uma forma de intercâmbio: um grupo cede a
outro uma mulher se este está em condições de dar-lhe outra no lugar, para que
o vazio deixado por uma seja preenchido pela outra.
Todas as noites, os Pigmeu costumam se
reunir em danças coletivas e jogos mímicos, que são suas atividades preferidas
nas horas de lazer.
Não é fácil falar da religião dos
Pigmeu, porque eles não costumam expressar suas crenças com ritos externos e,
além disso, a religião dos diferentes grupos não é uniforme.
Geralmente, crêem num Ser Supremo
criador, que se personifica no deus da selva, do céu e do além. Crêem ainda que
as almas dos bons se convertem em estrelas do firmamento, enquanto as almas dos
maus são condenadas a vagar eternamente pela selva e dão origem às doenças dos
humanos.
Os Pigmeu acreditam também na vida
além da morte, mas não se estendem muito sobre o assunto, logo se esquecendo
das tumbas de seus antepassados.
POVO BANTU:
PATRÕES NEGROS DOS PIGMEU
As relações dos Pigmeu com a
administração dos Estados em que vivem são complicadas e difíceis, como para
qualquer povo semi-nômade. Os governos querem que se tornem sedentários para
obrigá-los a seguir seus programas de desenvolvimento e integrá-los à economia
nacional.
Alguns países pretenderiam usar os
Pigmeu como curiosidade turística e convertê-los em patrimônio nacional, como
se se tratassem de animais raros de uma reserva. Esta é uma situação
discriminatória que, nascida das diferenças entre os Pigmeu e os demais povos
africanos, ainda perdura hoje.
De natureza dócil e ingênua, os Pigmeu
foram facilmente subjugados pelos Bantu. Em certas regiões, chegam a ser
considerados parte do seu patrimônio familiar e, como tais, são transmitidos
como herança de geração em geração.
Nessas condições, é o patrão negro
quem responde por eles diante da sociedade. Defendem-nos em tribunais, onde às
vezes os Pigmeu nem sequer têm o direito de comparecer, e conservam seus
eventuais documentos públicos, que usam sem maiores controles.
Os Bantu desfrutam dos bens que os
Pigmeu caçam e colhem e exigem que trabalhem em seus campos. Em troca, lhes dão
retalhos velhos de tecido, alguns produtos de cultivo e até suas cabanas,
quando estas já estão semidestruídas.
VIDA E CULTURA AMEAÇADAS
PELO PROGRESSO
Quando estão entre estranhos e
distantes de seu hábitat, os Pigmeu parecem tristes, preguiçosos,
introvertidos. Na selva, ao contrário, são alegres, muito ativos, comunicativos
e acolhedores. Para eles, o sistema comunitário é essencial e determinante.
Enquanto para o negro em geral a selva
é uma madrasta perigosa, para os Pigmeu é uma mãe amorosa que os acolhe, nutre
e protege. Dela eles recebem o material para construir suas cabanas, a madeira
para seus arcos e flechas e o alimento cotidiano.
Hoje, como no passado, a sorte dos
Pigmeu está ligada à selva. Fora dela, sua cultura e sua vida se perdem. Mas
ultimamente o seu meio ambiente está sendo cada vez modificado e destruído pela
extração de madeira, extensas plantações de café, minas de ouro e diamantes e
implantações industriais.
Além disso, o uso de armas de fogo por
parte de negros e brancos afasta sempre mais os animais selvagens, dificultando
a caça, atividade essencial para a subsistência dos Pigmeu.
Qual o futuro dos Pigmeu? Eles
conseguirão se integrar numa sociedade moderna sem perder a sua identidade
cultural?
A discussão avança em terreno
desconhecido. Qual o tipo de desenvolvimento adequado para uma população
semi-nômade? Sabe-se muito pouco a respeito, e há o risco, sobretudo, de se
querer responder a essa questão em nome dos próprios Pigmeu
LUGARES HISTÓRICOS
( TURÍSTICOS E CURIOSIDADES )
PINTURAS RUPESTRES DE TCHITUNDO-HULO
A cerca de quarenta quilômetros do Virei, em pleno Deserto
de Moçâmedes – Namíbia – existem dois morros gêmeos, sendo um deles conhecido
como Morro Sagrado.
No teto de pequenas grutas deste morro, descobriu-se
em passado recente – 1949/1950 – uma série de pinturas rupestres representando
principalmente cenas de caça.
Arqueólogos acorreram ao local após a divulgação da
descoberta, e foram encontrando também pelo solo, instrumentos diversos de
pedra lascada.
Comoção no mundo da Arqueologia e da História, mas
por pouco tempo, pois estudos acurados de Geólogos comprovam que, além das
grutas estarem muito expostas, são de rocha granítica, de fácil desagregação, e
que essa desagregação é contínua, de tal maneira que, se as pinturas tivessem o
tempo que se imaginava quando da descoberta, há muito haviam desaparecido.
Conclusão, as pinturas, bem como os instrumentos encontrados, são do final do
Século XIX, início do Século XX, e quase de certeza feitos pelos Mukuankalas.
A História do Tchitundo-Hulo é no entanto pitoresca.
No alto do morro hoje denominado de Morro Sagrado,
havia uma aldeia que, pela posição que ocupava, era denominada Tchitundo-Hulo –
Aldeia do Céu.
Um dia, uma família de leões decidiu instalar-se
também no alto do morro, e após devorarem um ou dois aldeãos, o povoado foi
abandonado, deixando no entanto vestígios da sua civilização.
O Morro Sagrado goza da fama supersticiosa de que,
quem ousar profanar as suas encostas, é castigado com morte súbita, pelos
espíritos dos antigos habitantes.
Aconteceu há alguns anos atrás, um fato que veio
corroborar e contribuir para a perpetuação dessa crença; um eminente professor
da Universidade de Coimbra, Dr. Carriço, foi para o deserto de Moçâmedes
estudar a Welwitchia Mirabilis, planta que só existe no Deserto da Namíbia/
Kalahári, e aproveitando para estudar também a flora do deserto.
Cardíaco desconhecedor dessa sua condição, morreu
vítima de ataque fulminante no esforço da subida da encosta..
Para os supersticiosos foi o cumprimento da
professia da ira dos espíritos.
Curioso também, é que são dois os morros, “gêmeos”, mas só a um a
superstição do povo impôs o tabu.
WELWITCHIA MIRABILIS
O
Deserto Namíbia/Kalahári é o único lugar do mundo onde pode ser encontrada esta
original planta.
De folhas largas e espraiadas, com fibras
extremamente duras, e uma raiz que vai buscar água a profundidades
impressionantes. Muitos Botânicos consideram que se trata de uma planta
marinha, adaptada a novas condições de vida após o reinado das águas, e de uma
resistência admirável.
O androceu da planta apresenta uma meia calote
esférica convexa, com flores polinizadas; o geniceu apresenta a forma da
grandes lábios vaginais como receptáculo para a polinização.
Considerada também por muitos biólogos como a
transação entre o reino vegetal e o mineral,a planta é na verdade, um elo entre
as Gimnospérmicas e as Angiospérmicas.
TCHIPAKA
(MURALHA DE PEDRAS)DE KANGALONGUE
Cerca de setenta quilômetros da cidade da Huíla. Em
Kangalongue, encontra-se a muralha de pedras que tem uma forma singular, (
figura na página seguinte ).
No lado esquerdo de quem entra nas muralhas,
encontra-se uma lage de pedra queimada, que sugere um altar de sacrfícios.
A cerca de seis quilômetros de Kangalongue, encontram-se os amuralhados de Jaú. De forma
circular, também em pedra, mas com uma única entrada, também construída em
pedra, e com vestígios de cabanas.
Próximo uns cinco quilômetros, estão as grutas de
Kondimba, onde se vêem ossos insepultos e restos de cerâmica.

Tchipaca
(Muralha de Pedra) de Cangalongo – Sul para Norte
(
no vão a Norte, a Lage Queimada)
MENIRES DOS HOMENS DO NEVOEIRO
No Deserto de Moçâmedes/Namíbia, perto do Morro
Vermelho, encontran-se umas pedras grandes e estreitas, dispostas de tal
maneira, que podem sugerir vestígios de um povo.
A Oralitura – tradição oral –
dos Kwepes, conta sobre um povo de baixa estatura, designado por
“OWAKUAMBUNDO”, de “OWA” que indica plural, “KWA” que significa nevoeiro, e
“M’BUNDO” que significa “ humano”, o que numa tradução livre, podem ser nomeados como “AO HOMENS DO NEVOEIRO”.
Ainda segundo a tradição oral
dos Kwepes, o povo Owakwmbundo, encontrava-se numa fase de evolução tão
primitiva, que sequer conhecia o fogo, e teriam sido exterminados pelos
próprios Kwepes, no que é hoje o Oásis de São João do Sul.
Habitavam as cercanias do
Morro Vermelho, num nomadismo restrito, não se sabe desde quando, embora haja
notícias datadas do século XVII, que comprovam sua existência nessa época.
A Santa Padroeira – não
oficial – dos povos do Norte de Angola, é a Nossa Senhora da Muxima, cuja
igreja se encontra na Kissama, e a quem, há cerca de cem anos se vêm atribuindo
milagres os mais diversos.
Movidos pela fé aos seus
poderes, para a Muxima se dirigem
peregrinos, que a pé, chegam a percorrer mais de trezentos quilômetros.
Os fiéis vêem com papéis onde
trazem escrito os pedidos,
reivindicações, agradecimentos, e até reprimendas e admoestações por pedidos
não concedidos.
A fé de uma boa parte dos
povos de Angola não Cristianizados, se confunde muito com as crenças
supersticiosas feiticistas, onde se barganha e negocia muito com as entidades,
através dos sacerdotes.
Para dar uma idéia dos pedidos
que são feitos à Santa, e como são feitos, transcrevo um, tirado do Livro “Por
Terras de Angola, de Lima Vidal, também transcrito por Henrique Galvão em
“Outras Terras Outras Gentes”.
Quote:
“Pelo sinal da Santa Cruz livre-nos
Deus Nosso Senhor, inimigo. Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo,
Amém.
Ilma, Exma Senhora Dona Maria
Santíssima da Trindade da Muxima. Eu sua pregadora Beatriz de Souza Santos, que
faço esta promessa, pedindo à D. Senhora a sua fineza desta enfermidade de
lumbriga que eu tenho para eu ficar sadio o cirurgião quando me cura o remédio
fica sem efeito para que quando me der saúde estarei pagar 400 Réis pela minha
D.Senhora se não me dei são de então não pagarei nada como pediu a D.Senhora pois
o meu pedido seram servido para eu estar pagar. Peço e mais peço me ajudar com
essa minha enfermidade a minha Senhora.
Sem mais dizer
Tomba 5 de Fevereiro de 1912
Sua pregadora
Beatriz de Souza Santos”
Unquote
É um pedido negociado, mas
franco e aberto, nele não existe hipocrisia nem dissimulação.
Em dúvida, também não se pode
negar que esteja impregnado de fé, muito
menos se pode negar fé, a quem viaja, se desloca por distâncias enormes, a pé,
para se dirigir a uma entidade em seu próprio templo.
A cerca de vinte e cinco
quilômetros da cidade do Huambo, em direção ao Bié, ergue-se uma monstruosa
massa granítica, que foi cenário de titânicas lutas do Soba N’Dala, contra os
colonizadores portugueses; essa massa é o soberbo forte natural das Pedras do
Kandumbo!
Os Huambos, anteriormente
batidos na Embala do Huambo, perto do
Soque, e depois nas Pedras da ganda e Kané, perto da Kaála, depositaram neste
forte natural e no grande chefe N’Dala – víbora – e seus comandantes de guerra
Kalley, Kassango, Tchipulowando e Tchinlundulo, todas as suas últimas
esperanças.
Decorria o ano de 1902, e os
colonizadores brancos, ajudados por uma força Bôer, cercaram o Forte de
Kandumbo; a batalha durou três dias e quatro noites, de tiroteio ininterrupto,
no fim dos quais, em 20 de Setembro de 1902, o Capitão Teixeira Moutinho, do
exército colonial, ordenou os últimos tiros de dois canhões de setenta
milímetros, contra o povo Huambo.
O Exército português, ajudado
pelos Boers, pelos canhões e pela traição de um Soba, que mostrou ao sitiante a
maneira de penetrar no Forte Natural,
vencia a batalha do Kandumbo.
N’Dala jazia morto perto da
paliçada exterior.
N’Dala teve como sucessores:
Nondolo, Kachikwala,Xilundulo, Sambuanda e Samokoloco.
Os crânios de N’Dala e
sucessores, à exceção de de Sambuanda e Samokoloco, repousaram num relicário
triangular, a que se dá o nome de Kalunda.
Foram reconstruídas as cubatas
de N’Dala e do Tchimbanda Samakaka, com o pequeno templo, Etambo, bem como
algumas cubatas de guerreiros e mulheres deles.
Segundo a crença dos huambos,
o Soba N’Dala, bem como todos os guerreiros mortos na batalha de 16 a 20 de
Setembro de 1902, não conformados com a derrota, ainda não deixaram as Pedras
de kandumbo, sendo possível vê-los, encarnados nos pequenos Kanitas – roedores
que vivem nas pedras – que se escondem e espreitam curiosos, à aproximação de
qualquer estranho que venha como um intrometido devassar a monótona calma de
memórias de antepassados.
Alguns registros não
confirmados, mencionam dois conselheiros pouco comuns entre os assessores de N’Dala: um Liberiano
da Monróvia e um Hádgi da Costa do Marfim.
Libéria é uma República
fundada por Norte Americanos em 1821, na Costa Ocidental da África, para
receber os escravos alforriados. A capital é Monróvia, em homenagem a James
Monroe, Presidente dos EUA entre 1817 e 1825.
Hadgi é o nome dado pelos
Muçulmanos, aos fiéis que já tenham feito a peregrinação a Meca e Medina, em
visita à Kaába, ou Pedra Negra, lugar santo da Religião Muçulmana.
Os Hádgi são considerados
santos hoemns, sábios, pelas suas constantes citações dos Surate – Capítulos do
Coorão.
PUNGO ANDONGO
As Pedras Negras do Pungo
Andongo, gigantescos megalitos a cerca
de cem quilômetros de Malange, situam-se entre o Lukala e o Kuanza, a Oeste de
M’Baka.
A configuração dessas pedras
enormes, que chegam a atingir mais de cem metros de altura, é de uma
magnificência rude, que chega a lembrar paisagens extra terrestres.
Esse monólitos de configuração
exótica, bojudos e lisos, erudidos por ventos milenares, são provavelmente o resultado de grandes
convulções da Era dos Glaciares.
A cpr predominante das rochas
é o preto, apesar de serem constituídos de massas de gneisses, xistos vermelhos
e calcários de colorações diversas.
Impõem respeito, a imponência
e o silêncio do Pungo Andongo.
Foram a Fprtaleza Natural das
hostes da célebre Rainha Ginga, ou N’Zinga M’Bandi quando, aspirando à unificação
dos povos de todos os Sobados do Reino N’Gola, combatendo e submetendo Jagas, o
Libôlo, a Matamba, o Kassange, se preparava para aumentar os seus domínios até
à Kissama.
O Pungo Andongo, como
fortaleza inexpugnável que era, serviu
de abrigo e lugar de reestruturação às tropas holandesas, a quem N’Zinga
M’Bandi se aliou no combate aos portugueses.
Dispostas como um labirinto
assimétrico, guardadas em alguns poucos pontos estratégicos, tornavam-se um
pesadelo para eventuais invasores.
Mesmo na época atual, são
poucas as pessoas da região que se aventuram nos seus meandros.
Local de desaparecimento de
muita gente, tornou-se também um tabu místico para os povos da região, que
acreditam que o lugar é habitado pelos espíritos dos antigos guerreiros que, irritados
com invasões indesejáveis, orientam os perdidos por caminhos errados, até que
morram.
Bem no alto de um dos maiores monolitos do Pungo Andongo, vê-se nítida, em baixo
relevo na rocha, a marca de um pé enorme. Diz a lenda que é a marca da pegada
de N’Zinga M’Bandi, que tinha esse lugar como ponto principal de observação à
aproximação de tropas invasoras.

Pedras Negras do Pungo Andongo
e abaixo a marca do pé de N’Zinga M’Bandi

QUEDAS DE ÁGUA DE KALANDULA DO RIO LUKALA
MALANGE
As quedas de Água de
Kalandula, que ficam no Rio Lukala, a
cerca de noventa quilômetros ao Norte de Malange, são as maiores quedas de água
de todo o território de Angola.
Águas claras e brilhantes,
despencam de aproximadamente cem metros de altura, em um semi círculo com cerca
de duzentos metros de diâmetro, cercadas de exuberantes plantas tropicais.
Caindo em pesadas massas, e de
forma caprichosa, as águas chocam-se violentamente contra as paredes rochosas,
com o ribombar de uma trovoada fortíssima, espalhando pela atmosfera uma poalha
de água perceptível a grande distância, e constante.
Após a magnífica queda, o Rio
Lukala retoma a sua calma placidez, entre margens povoadas de palmeiras, até se
reunir ao Rio Kuanza.
Nessa área do território, são
freqüentes as quedas de água. Numa área relativamente pequena, podem ser vistas
também as quedas do Luando e as do Mussoledo, menores do que as do kalandula,
mas também impressionantes.
Quedas de água também dignas
de anotação, são as do Rio Luena, no Moxico, e as do Rio Luando, no Bié.
FORTE DE
KABATULILA
Entre Malange e Kafunfo, na
Serra de Kabatukila, dominando a grandiosidade da Baixa de Kassange,
encontra-se o forte a que a serra deu o nome, e que encerra séculos de história, mistérios e lendas.
Construído inicialmente para
repelir os ataques dos Bângalas, migrados do Nordeste de Angola, serviu depois
mais tarde, como ponto de apoio aos portugueses, no combate à captura e
comércio de escravos.
Foi também usado como base nas
frentes de trabalho e de pesquisa no combate à Mosca Tzé Tzé ou Mosca do Sono –
Glossiania morsitans – díptero hematófago, pouco maior do que a mosca comum,
cuja picada inocula um protozoário parasita do sangue, o Tripanossomo, que
provoca a doença do sono ou tripanossomíase, em homem e animais.
Essa doença provoca distrofia
e lassidão muscular nas vítimas. A mosca cravava-se nas vítimas por meio de uns
ganchos que tem nas patas; as vítimas, mesmo animais de grande porte, acabam
morrendo de inanição, em sonolentos bocejos.
A Mosca do Sono foi erradicada
de Angola em 1950, e s principais focos de concentração eram a Baixa de
Kassange e o Pungo Andongo.
Na região de Kabatukile,
reinou um Soba, de nome N’Ganga Kally, que passou à história do seu povo, pelo
modo salomônico com que ministrava a justiça; com uma rapidez e equilíbrio tal,
que dificilmente tinha decisões contestadas por qualquer das partes.
Casos que em geral exigiriam
réplicas e tréplicas morosas e pormenorizadas, evidenciando todas as nuances,
resolvia-os N’Ganga Kelly em minutos.
Um exemplo de uma pérola de
jurisprudência, é a do súdito que foi à sua presença, explicar que a mulher por
quem havia dado caro “Lembamento”, o abandonara e voltara para casa do pai, sem
qualquer motivo. Pretendia assim, que lhe fossem devolvidos os bens que dera em
sinal de apreço pela noiva.
O pai da noiva defendeu-se
confirmando que recebera os bens citados, e os aceitara, pois até se juntar com
o marido, a moça era digna do apreço por ela demonstrado; depois de casada, se
o marido não conseguia controlar a esposa, como poderia ele, que era apenas
pai?
N’Gala Kelly, pensou um pouco
e argüiu:
Ele, como pai, vivendo tanto
tempo com a filha, tinha por obrigação conhece-la, e assim, saber que ela era
capaz de tal atitude; e nessas circunstâncias, nunca deveria ter exigido um
Lembamento tão vultoso.
Por ter procedido de má fé,
obrigava-se a devolver ao frustrado marido, duas terças partes dos bens
recebidos.
Caso a sua filha voltasse a
ter um pretendente para casar, ele deveria pedir como Lembamento, bens
equivalentes a uma terça parte dos anteriormente ofertados, já que ela não
valia mais do que isso, e esse segundo lembamento deveria ser integralmente
entregue ao primeiro marido
VULCÃO
YÔNA.
Em 1960, a imprensa angolana
noticiou com um certo ênfase, a possibilidade da eclosão de um vulcão no Yôna.
Primeiro foram escutados
rumores subterrâneos fortes no maciço de Xamalinde, depois noticiou-se que,
após serem escutados, o que já se considerava serem os sons de um vulcão
prestes a eruptir, aparecia na Baía dos Tigres uma água esverdeada, forte
cheiro de enxofre, e grande quantidade de peixes mortos.
Falou-se em fumaça que saía do
solo, perto da Espinheira.
Enfim, falou-se o suficiente
para atrair cientistas e pesquisadores de todo o mundo, que após acurados
estudos acabaram por concluir que os estrondos o rumores subterrâneos tinham
origem nas camadas de quartzo que se deslocavam, quando a erosão desgastava o
terreno em que essas camadas se encontravam assentes horizontalmente.
A mudança de cor da água,
explicada como mudança de maré, e a influência da corrente fria de Benguela; a
quantidade de peixes mortos, foi justificada como fenômeno cíclico ou sazonal,
de natural controle de preservação das espécies, e motivadas por
superpopulações em áreas em que os predadores naturais, estivessem
temporariamente afastados.
As fumaças que saíam do solo,
não foram confirmadas, e as esperanças doa angolanos de terem o seu vulcão,
abandonadas e esquecidas.
BAÍA DOS
TIGRES
O nome dessa baía, se deve à
grande quantidade de tubarões Tigre que,
em cardume, podem ser vistos a deambular preguiçosamente por um mar de tal
maneira rico em peixe, que eles não têm necessidade, nem motivo, para se
afastarem do lugar.
São Martinho dos Tigres, é uma
vila espremida pelo deserto contra o mar, com uma única rua, que serve também
de pista para os aviões. Conheci-a pouco depois de obter a minha licença para
pilotar monomotores. Umas poucas casas de cada lado, açoitadas por ventos e
tempestades de areia do deserto.
É uma vila de pescadores,
fundada por João Rosa Machado, que vivem
da pesca e para a pesca, com tanto afinco e constância, que até os cachorros se
alimentam de peixe, que vão pegar junto à rebentação das ondas, com ardis e
perícia de felinos.
Região áspera e agreste, é o
paraíso para os adeptos da pesca e caça submarina.
Na pista de pouso, e nos
esporádicos aviões, se resume o lazer de uma população tímida e introvertida,
que se aproxima aos poucos para saber notícias do exterior daquela ilha,
cercada de mar e deserto.
Antes de pousar, faz-se
necessário sobrevoar duas ou três vezes a pista, para que pessoas e animais,
indolentemente a abandonem e liberem.
BAIXA DE KASSANGE
As lendas da Baixa de
Kassange, contam em geral, da dificuldade de transpor a escarpa, no lugar onde
a Serra se partiu ao meio, e uma das metades afundou; ou também em algumas de
caráter romântico, como a dos dois amantes que no momento do fenômeno,
escaparam milagrosamente de sucumbir com a metade afundada.
Mas o que na verdade se passou
na Baixa de Kassange, foi decerto mais drástico do que qualquer lenda poderia
contar.
Durante séculos, o que ficou
na memória dos povos, foi a Baixa, onde os Sobas de Kassange, concentravam
milhares de homens, mulheres e crianças, escravizados, depois de roubados aos
seus povos.
Era nessa Baixa de vegetação
exuberante, onde pulava vida animal, que os escravos que resistiam as provações
e tratamento bárbaro, eram comercializados com gado, antes da triagem para a
barra do Kuanza,perto de São Paulo da Assumpção de Loanda, ou São Philipe de
Benguela, estações de descanso e engorda, para o embarque definitivo para o
Brasil, terra para eles ignorada, onde a troco de pancada, haveriam de
enriquecer as tradições, o folclore, os senhores de engenho e os coronéis de
cacau.
Chagados ao Brasil, cantaram certamente
ao som das Marimbas, Tchissange e batuque, a beleza e nostalgia da paisagem
Angolana.
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Os escravocratas tinham linhas
de avaliação e preferência na aquisição dos escravos. Os Senegaleses eram
apreciados por seu caráter taciturno; os povos de Serra Leoa, Costa do Marfim e
Costa do Ouro, eram considerados rebeldes e desertores. Os Ibo da Nigéria, eram
bons trabalhadores, mas propensos ao suicídio, e os povos do Congo e Angola
eram os mais apreciados, por unirem robustez física a uma certa passividade.
Os escravos Angolanos, eram
disputados por fazendeiros de Haiti, das Bahamas e pelos senhores de engenho do
Brasil, como mercadoria de primeira qualidade.
No Rio Kunene – o nome vem de
Kuonene, que quer dizer água grande – na Serra de Kaná, encontram-se as
cataratas do Ruacaná, termo indígena que quer dizer Água da Serra de Kaná.
É uma serie de cataratas
múltiplas, em semi-circulo, sendo que a principal é de cerca de setenta metros
de altura, numa extensão de aproximadamente oitocentos metros.
A segunda queda, a meio de uma
borda que vai até a margem esquerda tem aproximadamente quinze metros de
altura, e as cutículas de água das duas principais quedas, formam na estação
seca, um constante Arco-Íris, que só se dissipa quando as chuvas voltam.
Na estação chuvosa, os três
braços do rio, formam um só leito, e uma única queda com mais de trezentos
metros.
Os povos Ambó e Mukuankala,
quando em movimento migratório, passam por toscas pontes, amarradas de cipós e
lianas, na travessia do Rio.
Posteriormente, nas guerras
Boers, foi um ponto estratégico de defesa dos exércitos de Portugal.
Mas o que há de destacar nas
quedas de água do Ruacaná, é a beleza, e a atração turística que podem representar,
principalmente numa viagem a partir da Baía dos Tigres, pela costa, entre o
Oceano Atlântico e o deserto, acompanhado de manadas de Zebras, Gnus, Impalas e
Orix Gazela, com seus chifres de sabre japonês, e os bandos de Avestruz de
passada gigante.
SÃO PHILIPE DE
BENGUELA HÁ CEM ANOS
A cidade de S Philipe de
Benguela era, no ano de 1870, um importante centro comercial, onde os povos do
interior, principalmente os Bienos, iam permutar seus artigos, fugindo à
exploração dos funantes, que já não lhes davam condições satisfatórias.
Vinham estas comitivas de
mercadores a pé, do Bié ou outras regiões ainda mais distantes, vender as suas
mercadorias, a preços cujas cotações eram na época:
-
Um Angolar e quarenta e cinco centavos, a libra de
marfim de lei, não quebrado.
-
Oitenta centavos a libra de cera limpa.
-
Oito angolares e cinqüenta a arroba da borracha.
-
Dois angolares a pele de onça, boa.
Os artigos mais procurados or
essas caravanas vindas do interior, eram as bebidas alcoólicas, o sal, a
pólvora, tecidos de riscado, armas, catanas-facões, espelhos e missangas.
Benguela foi primeiro, um
grande centro de concentração e exportação de escravos, e posteriormente
tornou-se importante centro de comércio. Esses dois fatores, levaram a uma
grande miscigenação de povos e costumes, gente de diferentes tradições, alem de
ter sofrido também, e em função das circunstâncias anteriores, muita influência
por parte dos brancos.
Tudo isto alterou bastante os
costumes e modo de vida do povo de Benguela, mas o dialeto, manteve-se Umbundo.
Os homens do povo de Benguela ocupavam-se essencialmente da pesca; as mulheres
da agricultura e criação.
Há cem anos, Benguela era uma
cidade espraiada, com construções baixas, em que se destacavam o hospital
municipal, o Palácio Residencial do Governador Colonial, o Quartel das tropas
portuguesas e a Alfândega, cuja cifra de rendimentos aduaneiros, orçava já a
expressiva ordem dos Cem Contos de Réis ao ano.
Após o pôr do sol, a atividade
ficava restrita aos quintais das casas comerciais, onde as comitivas acampavam,
e por vezes se demoravam nas barganhas comerciais.
Uma ou outra tipóia, em que
dois homens transportavam o seu patrão, o seu amo, esgueirava-se rapidamente
pelas ruas desertas, fugindo ao desagradável encontro com as hienas que,
afoitas, à noite circulavam pelas ruas da cidade, procurando carniça ou caça
fácil, e que, se sentiam em superioridade de força, atacavam o homem.
As hienas calculavam a sua
possibilidade para o ataque, pelo tamanho da vítima em potencial, e assim, os
europeus, desenvolveram um costume, de portarem sempre um guarda-chuva, ou
bengala e chapéu; escutando a risada característica das hienas, abriam o
guarda-chuva, ou penduravam o chapéu na ponta da bengala, mantendo o braço bem
esticado para o alto.
As feras, equilibradas nas
patas traseiras, achando-se mais baixas do que o adversário, não atacavam.
Catumbela, hoje pequena vila
entre o Lobito e Benguela, distando cerca de oito quilômetros do Lobito, e
aproximadamente vinte e dois de Benguela, localizada na margem direita da foz
do Rio que lhe deu o nome, foi um dos pontos de descanso e engorda dos
escravos, que embarcariam em S. Philipe de Benguela, para as plantações
agrícolas de todo o mundo.
Esse descanso era fundamental,
pois os escravos, arrancados violentamente aos arimos e senzalas pelos
pombeiros – fornecedores de escravos, geralmente mulatos- eram obrigados a
percorrer a pé, e sub-alimentados, centenas de kilometros, até aos locais de
embarque.
Eram embarcados por camadas,
amontoados em porões de veleiros, no meio da imundice, e sem circulação de ar,
com alimentação escassa e inadequada, para travessias que duravam até três
meses.
A percentagem de escravos que
morriam por causas diretas ou indiretas dessas condições de sepcia e
subnutrição era elevada, impunha-se por isso um período de descanso e
alimentação consistente, que lhes refizesse as forças e a resistência.
Em Catumbela eram batizados
por padres cristãos que, além do nome escrito num papel, lhes faziam por meio
de intérpretes, o seguinte discurso:
“Meus amigos, vocês agora são
filhos de Deus, livres do pecado original, e vão partir para terras portuguesas
e espanholas, onde viverão segundo a nossa fé. Não pensem mais nas vossas
casas, e partam com boa vontade”.
Em princípios do século XVII,
passavam por Catumbela, uma média de vinte mil escravos anualmente.
Citando o Padre Antonio
Vieira, o escritos inglês C.R. Boxer, no seu livro sobre Salvador Correia de
Sá, o libertador de Luanda, da tomada desta pelos holandeses, diz que “O Brasil
tinha a alma em África e o corpo na América”.
O Lobito, uma restinga de
areia, era o prolongamento de Catumbela, e em cuja entrada podiam ser
encontrados bancos de ostras em numero incalculável.
Devido a essas ostras, e à
proximidade de Catumbela, o primeiro nome que Lobito teve, foi “Catumbela das
Ostras”.
Só bem mais tarde, no início
do século XX, tomou o nome de Lobito, forma distorcida e adulterada de Lo
Epito; em Umbundo, Epito significa porta, e Lo é a forma plural para o termo. É
uma alusão à forma resguardada da baía, entre a costa e a restinga de areia,
que faz da cidade uma abertura – porta -
para o mar e a navegação.
O CARNAVAL DE
ANGOLA
O festejo do carnaval nos
bairros pobres as cidade de São Paulo as Assumpção de Loanda, remota a mais de
um século; com efeito sabe-se de danças e mascaras carnavalescas, anteriores a
1870.
A primeira de que se tem
registro, foi a “Matinguita”, dança em que só figuravam homens, trajados de
branco, com boné e botas, à semelhança dos marinheiros de guerra.
Os instrumentos que faziam o
acompanhamento musical da coreografia, eram o Batuque e as Puítas, e esta
resumia-se a um andar bamboleante com pequenos pulos para a frente e para trás.
Por volta de 1880, apareceu
uma dança, a “Kinava”, que era um aperfeiçoamento da Mantiguita. Na Kinava, à
semelhança da anterior, também só figuravam homens trajados de marinheiros, mas
em blocos, e com separação pela escala militar hierárquica.
Á frente ia um reduzido
pelotão, com as fardas a imitar as dos oficiais da marinha, com Galões e
Dragonas, e na cabeça, Boné de Pala; ao centro, puxado pelo grupo dianteiro,
vinha um barco, armado sobre um carro de bois; o terceiro bloco, era o dos
outros participantes todos vestidos de marinheiros.
Dançavam e cantavam ao som de
Dikanzas e Batuque, a que se juntava o coro de vozes. A coreografia era uma
marcha engraçada, imitando o andar bamboleante dos homens do mar.
Este grupo passava pelas ruas
da cidade, parando às portas das casas, onde depois de um pouco de exibição,
recebiam um “Matabicho”; o grupo parava no portão do quintal, o “comandante”
subia ao posto de comando onde, com um tubo oco simulando uma luneta de longo
alcance, fingia olhar o horizonte, dando tempo a que todos os moradores da casa
se aproximassem do barco carnavalesco.
Quando o numero de
espectadores já era considerado aceitável, descia do posto de observação e dava
o sinal para começar a dança e o canto.
Terminada a exibição, com uma
vênia cortes, davam a entender estava terminada a apresentação, e esperavam o
Matabicho – gratificação em dinheiro, ou um garrafão de vinho e um pouco de
comida, para ajudar a “matar o bicho da fome e da sede”.
Poucos anos depois, por volta
de 1885, apareceram nos Musseques de Luanda, dois outros tipos de grupo: os
Jimbas e os Cazumbis.
Os Jimbas, ficaram com esse
nome, por causa das Jimbas, principais instrumentos a acompanharem a musica e
dança, apesar de usarem também Dikanzas, e latas percutidas com pedaços de pau.
Os homens alinhavam enfeitados
com panos vistosos à cintura, e lenços cruzados no peito; as mulheres alem dos
panos vistosos, usavam adornos nos pulsos e tornozelos.
Homens e mulheres, comunicamente
pintados, dançavam em coreografia desconexa, esforçando-se as mulheres para
associar ao ritmo, graciosidade e sensualidade.
Os Cazumbis, também em grupos
mistos, vestiam todos de branco, e completamente tapados, com fronhas na cabeça
e luvas nas mãos.
Eram grupos divertidos, que
pulavam e emitiam sons guturais, fingindo assustar as pessoas; por fazerem
lembrar fantasmas, foi-lhes dado o nome de Cazumbis.
Por volta de 1910, surgiu o
“Samba Cuteco”, que eram pares de homens, um deles vestido de mulher, com saias
curtas e calções por baixo.
Os pares faziam palhaçadas,
sacolejavam com o corpo, e de vez em quando, o que se vestia de mulher, andava
sobre as mãos, mostrando os calções, o que provocava hilaridade do publico.
O nome de Samba Cuteco, supõem-se
vir de Kussamba, que quer dizer folgar, brincar, e de Kutekuka, que significa
desatinar, em alusão as brincadeiras que o par de foliões fazia.
Desde o inicio, os grupos
folclóricos que tomaram parte no carnaval de Luanda, procuraram como motivo das
canções que acompanhava a coreografia, escarnecer e satirizar outros grupos
rivais, aproveitando-se de qualquer falta cometida por dirigentes ou
participantes.
Esta rivalidade carnavalesca
era o ponto culminante do carnaval, e motivo de expectativa de todos os
foliões.
O grupo “Cidrália” formou-se
por volta do ano de 1935, resultado da fusão dos grupos “Invieta e caridade”,
passando a designar-se por união Cidrália, abreviado para Cidrália.
Tinha mais de trezentos
participantes, entre homens, mulheres e crianças, que se vestiam a preceito e
apresentavam todos os anos temas variados.
No ano de estréia por exemplo,
simularam o desembarque de entidades oficiais – nas pessoas dos Sobas kapulo,
Munongo, e Kumbi - que o grupo foi
recepcionar trajando à antiga, para subentender a vontade que essas entidades
teriam de assistir o carnaval.
Essa primeira apresentação do
grupo, teve tanto sucesso, que causou a inveja de muitos outros grupos
carnavalescos, especialmente a do grupo do Musseque Prenda que, por causa da
inveja demonstrada, passou a designar-se pelos “Invejados”.
Este grupo, também bastante
numeroso, tinha cerca de duzentos elementos, homens, mulheres e crianças.
Os homens trajavam calças
brancas, largas em baixo, casaco damasco debruado a preto, e sapatos de lona
pintados de vermelho; as mulheres usavam os trajes regionais da festa.
Os invejados criticavam e
satirizavam a Cidrália, dizendo serem estes incivilizados, que só desde que
moravam no Musseque, é que sabiam construís casas para morar, e que haviam sido
eles, Invejados, a ensinar.
Assim que o pessoal da
Cidrália soube, regozijou-se, pois estava ali o motivo para o carnaval
seguinte. A letra do tema, dizia o seguinte:
“Cidade tem um romance que conta toda a vida triste
vida triste de quem ama vida triste de quem chora Cidrália em movimento
Cidrália vem dançar
Santa Maria que nos acompanha
Olha a Cidrália em movimento
Olha a Cidrália em grande azul
Cidrália este ano é uma memória
Cidrália já aprovou (provou)
O gatuno do bacalhau
Santa Maria nos deu sempre
A providencia do gatuno do bacalhau
Fica todos sabendo
Que o presidente dos Invejados
Roubou o bacalhau na alfândega
Pra gozar mais os seus amigos
Toma cuidado com os rapazes da Cidrália
Santa Maria que é nossa mãe
Nos acompanha junto à nossa estrela.
Anos mais tarde, o grupo vocal “Duo Ouro Negro” grandes
divulgadores do folclore musical Angolano, compôs uma musica com o nome
Cidrália, cuja letra se baseava nessa original.
A partis de 1960, inicio dos
conflitos armados pela independência de Angola, as autoridades coloniais,
proibiram o carnaval, e as danças e demonstrações de rua.
Temia mais a critica e sátira
política, do que eventuais degenerações violentas, numa festa que era alegria
pura.
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